terça-feira, 18 de março de 2014

CALDAS 2027

Sem, obviamente, querer entrar em qualquer espécie de polémica, mas tão só querendo obter algum esclarecimento e, sem falsa modéstia, soltar alguma adenda útil. Quero enfatizar o respeito que sinto pelas pessoas, todas, que se envolveram no projecto, incluindo no parto do nome e até a humildade – que não comparo a qualquer espécie de subserviência – de dividir a autoria do projecto com quem nada tem a ver com ele, a não ser o ter ajudado a disponibilizar o espaço da instalação. Àquele grupo de jovens, a esses, passo parabéns.
Mas, como a admiração não passa, comigo não passará nunca, pela bajulação, vou expressar alguns desacordos e começarei pelo nome dado ao projecto. Porquê CALDAS 2027?
Li, ou ouvi, ou sei lá se as duas, que 2027 seria a data em que se comemoraria o centésimo quinquagésimo aniversário do 1º. Tratamento nas Termas. Se essa é a premissa, o primeiro tratamento teria sido em 1877. Li noutro local que o nome dado seria para marcar os 240 anos da primeira cura. Neste caso, essa cura teria ocorrido em 1787, data que, compulsadas várias descrições, não aparece registada. O Dr. António Ferreira Pinto da Motta escreveu, em documento sobre Caldas de S. Jorge: (sic): “ O anno da primeira estação balnear, assim como a epocha em que as Caldas começaram a conquistar um nome honroso as suas congéneres, não se pode fixar precisamente. O data do descobrimento d’este manancial é, para uns, como Pinho Leal, em 1770 e para outros 1797 (1) É provável pois, que esta água seja d’origem mais remota n’aquelle local, embora nada conste a tal respeito. O mesmo autor, mais adiante no mesmo documento, escreve, depois de referir o aquecimento da água em panellas de ferro e que o banho era à prova da sensibilidade calorífera da mão do banhista inexperiente: (sic) “Com uma captagem imperfeitíssima, com uns cubículos ou espeluncas de banhos sujos, mal calafetados e immundos, a Câmara da Feira, em 1843, iintroduziu n’este estabelecimento balnear alguns melhoramentos d’inadiavel realisação”.
Ora esta data 1877) é contrariada também pelo que está expresso no pequeno monumento à entrada sul do parque, que lembra a data de 1892 como tendo sido a do primeiro tratamento em estabelecimento estruturado. Para cabal esclarecimento desta situação, vou transcrever o que escreveu em 1940 o Padre Costa e Silva no Jornal TRADIÇÃO, a pag. 61 (não é visível o mês da edição).

“ (…) foi ao abade Inácio, em princípio do século 19, que coube a glória do aproveitamento regulamentado destas águas. À sua custa, mandou construir tanques de madeira e barracas para banhos. Outros vieram ajudá-lo. Fez-se a primeiro instalação balnear. Foi melhorada em 1843. Mais tarde, foi a Câmara autorizada a contratar a construção dum novo edifício. Esta construção começada em 1889 foi dada por pronta em 1892. Até 1914 só banhos de imersão. Foi nesse ano que começaram os grandes melhoramentos nas Caldas, para as quais têm concorrido muito as insistências do zeloso director clínico. Inalações, pulverizações, irrigações nasais, duches e banheiras de mármore, tudo isto se fez neste ano e seguintes. Em 1932 a buvette, banheiras esmaltadas e pavimentação do átrio. Nos últimos anos, o revestimento das paredes e pavimentos dos quartos e azulejos e mosaicos, motor eléctrico e portão de ferro …”

Em boa verdade, a data de 1877 ficou supinamente no tinteiro do Padre Costa e Silva e do Dr. Antonio da Motta. Daqui se infere que o nome nada tem a ver com os 150 anos dos tratamentos, nem com os 240 da primeira cura. Em 1892 foi quando se inaugurou o balneário com estrutura a merecer o título, ou a razão do nome do projecto é toda outra. Fica o desafio para o esclarecimento e fica a intenção de, em próximo escrito, falar um pouco do que é chamado logotipo (ou logótipo). Definição, origem e representatividade.

José Pinto da Silva


Nota: É sabido que um documento existente diz que em 1097 era feita referência a “Caldelas” – ‘ in uilla Caldelas hic in Sancto Georgei….’ Ora o termo caldelas indica que havia água de caldas, logo seria mais do que provável que já tivessem ocorrido curas.