Deus pede estrita conta de meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta e não há tempo.
Oh! vós quem tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
chorando, como eu, o não ter tempo.
(Soneto do Século XVII. Obra prima de trocadilho
por António Fonseca Soares - Frei António das Chagas)
terça-feira, 30 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
REUNIÃO ANUAL DE ANTIGOS SEMINARISTAS
No dia de ontem, 10 de Junho, por convite formulado há alguns anos que se repete anualmente, fui confraternizar com os antigos seminaristas, neste caso do Curso que entrou em Ermesinde no ano de 1948, isto é, dois anos anterior ao meu, pois entrei em 1950. Como em Vilar havia quatro cursos (quarto, quinto, sexto e sétimo anos) significa que partilhei durante dois anos aquele espaço com estes colegas. Por curiosidade se diga que, deste curso de 1948, fazem parte os bispos, agora resignatários, D. Januário Torgal, ex- Bispo das Forças Armadas e D. João Miranda, que foi Bispo Auxiliar do Porto.
Do programa, vasto e muito interessante, fez parte uma visita detalhada ao Mosteiro de Arouca e respectivo Museu, tendo sido cicerone o Historiados Dr. Arnaldo Pinho.Muito interessante. Visitou-se depois a Capela da Misericórdia, que eu já conhecia com explicação com pormenor, há anos feita pelo meu, já falecido colega e condiscípulo Idalino Ferreira. Seguiu-se a celebração da Eucaristia, tendo sido celebrante o D. Januário, acolitado por D. João e diversos sacerdotes colegas.
Seguiu-se o almoço que é o local privilegiado para a troca de mensagens, para se saber dos que faltam - neste caso e durante a celebração fez-se alusão ao último que nos deixou, o António Esteves Meireles, sendo que a viúva quis estar presente numa reunião a que o marido nunca faltava.
Mas o que mais me sensibilizou foi o ter encontrado o Américo Vilar, sacerdote, e que eu não via há muitos anos, mas que reconheci de imediato, até por uma ligeira cicatriz que tem junto à boca. Foi muita a minha alegria.
Foi-se depois fazer uma visita ao Museu Geológico de Canelas e, de minha parte, dei por terminada a jornada e até nem sei se completaram o programa que constaria da ida à Serra da Freita e visita às Pedras Parideiras.
Linda jornada de confraternização que me deixou consolado.
segunda-feira, 8 de junho de 2015
SE EU FOSSE PARLAMENTAR (Faria uma intervenção assim. Se me deixassem)
Senhora Presidente do Parlamento,
Senhores Deputados,
Vou
exteriorizar o meu sentir individual, com prévio conhecimento à minha bancada,
que poderá repudiar alguns troços do que vou dizer, como acolher outros. Ou
até repudiar para fora, apoiando para dentro.
Sinto, desde
há muito, sentimento solidificado com o que tenho ouvido e lido com origem no
chefe do governo, sinto, dizia eu, que não convive lá muito bem com o
tratamento de primeiro-ministro. É assim que, para o tornar mais confortável:
Excelentíssimo Senhor Presidente
do Conselho de Ministros,
Pela forma de
actuar enquanto governante, e mesmo como pessoa, pelas políticas que foi pondo
em prática e pelas coisas de índole pessoal que mandou escrever em livro
(chamei-lhe hagiografia), ressuda de todas as porosidades a nostalgia de querer,
e não poder ainda, impor, sem direito a contestação, por falta da carda das
botifarras, a miséria aos que são mais pobres, a pobreza aos que eram
remediados, o remedeio aos que eram medianos na classe e crescer o luxo aos que
já constituíam a fauna nababa, mesmo à custa do sangue dos mais pobres.
Vossa
Excelência, Senhor Presidente do Conselho, talqualmente o seu antecessor no
lugar e título, promoveu a fome generalizada e a consequente fuga massiva da
nossa juventude para os diversos destinos de emigração. O antecessor de Vossa
Excelência, em designação, foi mais decente, porque, ao menos, simulava
impedimento de saída aos que enxotava, enquanto Vossa Excelência, com um
desplante estarrecedor e ofensivo, manda os melhores, os mais qualificados,
largarem o que chamou de zona de conforto, entendida como malandrice,
ociosidade, quequice. Este insulto, além de o ser, é criminoso porque expulsa
do país investimentos vultosos em saberes e ciência que vão render para quem só
vai usufruir. Os países com gente pensante a governar. O antecessor de Vossa
Excelência, em título, simulava não querer a saída de artesãos, trabalhadores
braçais, ensinados só pelo ir fazendo ao longo dos anos. E, se expulsar gente
qualificada que depaupera a qualificação da pátria, é um acto criminoso, como
classificar quem o provoca?
O antecessor
de Vossa Excelência em, epíteto, desenvolveu o lema de que ao povo bastava
aprender a ler, escrever e contar e graduando as mulheres mais abaixo nessa
bastança. Vossa Excelência, bem o querendo, não vai a tempo de fazer regredir
tanto. Tudo fez para que, logo no básico (o mais antigo dizia “na primária”)
crescesse exponencialmente o abandono escolar, aumento que cresceu no
secundário e muito mais no superior, aqui também porque as famílias,
confiscadas nos seus rendimentos, deixaram de poder pagar as propinas.
Aquele que,
com o mesmo título, o antecedeu herdou uma dívida pública ingente e, é dito que
o país estava à beira da banca rota. Ele, o tal antecessor de Vossa Excelência,
perante todos os seus pares, perante o presidente da República de então, que
não era grande coisa, mas era e exercia o cargo, e perante os militares que
tinham derrubado o poder anterior, assumiu que iria causticar tudo e todos, que
exigiria sacrifícios quase sem limite. Castigou forte, mas preveniu o país e o
mundo. Vossa Excelência, para derrubar o poder em exercício contou com uma
figura apagada e inútil que, estando em lugar de presidente da (sua) República,
sua dele e de Vossa Excelência, assumiu que o governo haveria de cair. Fez de
Judas, escondendo a mão na sombra dos arbustos, influenciou agências de rating,
picou banqueiros e empresas de comunicação para as celebrizadas entrevistas
diárias de uma jornalista a esses banqueiros, tudo anexado ao insultuoso
discurso de 9 de Março de 2011. Atingiu o desiderato de ambos. Caiu o governo e
Vossa Excelência atingiu o pote. Só que mentiu, mentiu, mentiu, saqueou
salários, saqueou pensões e, fez crescer a dívida até limites quase sem limite.
Recordar-se-á,
Senhor Presidente do Conselho de Ministros, se porventura não assentou (ainda)
a nadegueira nalguma cadeira com defeito de fabrico, ou mesmo sabotada,
lembrar-se-á de ter ouvido falar numa forma de matar a fome, fome da negra,
daquela de se andar mais do que um dia sem fazer cair o que quer que seja na
boca do estômago que o antecessor de V. Excelência inventou. Chamou-lhe a Sopa
dos Pobres. Há fotos dos anos 30/40 e mesmo 50 com filas intermináveis de gente
à espera de vez para receber a tigela. Pois Vossa Excelência, Senhor Presidente
do Conselho, depois de saquear a quase totalidade dos apoios sociais aos mais
pobres, aos mais velhos e às crianças deste país onde, desgraçadamente, também
nasceu, depois de todo esse saqueio, depois de ter produzido tanta fome e tão
inane como a dos 40/50, ao jeito de compensação, mas para temperar a fome com a
humilhação pública dos famintos, criou muitos, muitos refeitórios ditos
sociais. Vossa Excelência, Senhor Presidente do Conselho não pode deixar de ver
as enormíssimas filas de gente, proporcionalmente bem mais faminta do que a dos
40/50. Agora um tanto diferentes as imagens. Aparecem nos jornais e nas redes,
a cores. São pobres com muita fome, mas mais coloridos.
O que antecedeu
Vossa Excelência, desde os 30 aos quase 70 do século XX, terá distribuído fome
a esmo, talvez por falta de alternativa e também porque era ideológico. A fome
amansa e abre caminho fácil a outros ataques contra os direitos fundamentais.
Vossa Excelência, Senhor Presidente do Conselho de Ministros, age só por
impulso ideológico, porque no mundo, no imundo entender de Vossa Excelência, só
há lugar para Vossa Excelência, mais aquele grupo de apaniguados e lacaios que
o cercam e bajulam. São parecidos enquanto detentores do poder e no exercício
do mesmo. São ambos parecidos no desejo de amordaçar, custe o que custar. Mas
fica uma diferença insanável. O antecessor de Vossa Excelência, o dos anos 40 e
durante mais de 40, era mau, era ditador, mas era inteligente.
José Pinto da Silva.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
PEREGRINAÇÃO ÀS "TERRAS DO DEMO", O PALCO DA VIDA E DA ESCRITA DE MESTRE AQUILINO
Ou não fôssemos lusos. A partida aconteceu com meia hora de atraso, o que não seria grave, se no programa não houvesse visitas marcadas, com pessoas (guias e cicerones) à espera da excursão. Os espaços a visitar não são museus públicos, pelo que não têm pessoal permanente. Gerou-se naturalmente preocupação no programador, o Dr. Lima Bastos.
Pouco depois
do arranque (o último entrou na Feira) foi dirigido à comitiva o voto de boa
viagem e de bom aproveitamento lúdico / cultural. As várias intervenções de
Lima Bastos, sempre curtas para não enfastiar, confirmaram o que era já ciência
de todos. Ele sabe tudo sobre a vida de Aquilino Ribeiro e conhece cada palmo
de chão daquelas terras e cada coisa que o homem ou a natureza foram fazendo
surgir em cada local daquela região. E conhece, de trás p’ra frente, com
detalhe que estonteia, todos e cada um da meia grosa de livros do Mestre.
As gentes
daquelas terras usam (ou usaram) alguns termos muito próprios e topónimos com
história. A respeito e aludindo ao nome deste nosso concelho e respectiva sede,
opinou que fora um grave erro histórico a postura do topónimo Santa Maria da
Feira (1985) – parece que Santa Maria não cola toponimicamente com VILA DA
FEIRA, nome vindo de época imemorial, visigótica (?), precedendo muito a
nacionalidade. Disse que o topónimo actual é a modos que ajudengado, como se
referiu Aquilino quando mudaram o nome de Barrelas para Vila Nova de Paiva. E
eu concordo e nada me aborreceria se voltássemos à Vila da Feira. Do mesmo modo
que, reiterando o que já escrevi noutra data e local, seria interessante acabar
com o feriado municipal aplicável a todo o concelho, feriado que ninguém
respeita, instituindo-se, onde houvesse essa vontade, feriado em cada freguesia
em dia escolher por cada autarquia. ‘bora a discutir o assunto ..!
Os objectivos
a visitar estavam marcados, pelo que, logo que se entrou na região do Demo, ele
ia apontando acolá está este ou aquele templo merecedor de visita, mais além um
exemplar megalítico, no monte mais acima mais isto ou aquilo digno de nota e
meta para visita noutra saída. Parámos a poucos metros da vera nascente do rio
Vouga e houve intervenção humana para fazer confluir dois fios de água (a
nascente), estando visível, mas protegida. O pessoal (o que quis) comprou ali
numa das diversas padarias o celebrizado Pão Alvo que ficou com o nome de
quando naquelas terras se produzia um trigo com características especiais de
alvura. Havia um casamento na Igreja da Senhora da Laje.
A certo passo
de uma das suas alocuções, L. Bastos recordou algumas palavras regionais e
lembrou PARANHEIRO, uma espécie de lagar todo em pedra onde eram depositadas as
cinzas das lareiras e depois usadas na estrumação das terras. Lembramo-nos, os
mais velhos, das FACHOQUEIRAS, um pequeno atado, bem apertado de palha de colmo
e que eram acesos por alturas do Entrudo a alumiar as correrias (sobretudo dos
miúdos) entoando: “Entrudo fora, vem a Páscoa, vai-te embora”. Pois nas Terras
do Demo os mesmos fachos chamavam-se “Alumieiras”. É da ciência geral que Sernancelhe
é a pátria da castanha e de qualidade, e coisa que ignorava, os soutos antigos
(um castanheiro só ao fim de muitos, muitos anos, era adulto e produzia) foram
substituídos por novas espécies que começam a dar fruto (com rendibilidade) 4
ou 5 anos depois de plantados. Não inquiri e fiquei sem saber, se a madeira de
castanho (destes castanheiros) mantém as mesmas características de beleza e
qualidade. Foi-nos dito então que, ali na zona – disse o local, mas não anotei
– existe o castanheiro mais volumoso e mais idoso do mundo. Tem mais ou menos
900 anos (diz-se que 300 anos para nascer, 300 anos para crescer e 300 anos
para morrer) e para abraçar o tronco em todo o perímetro são precisoa os braços
de 16 homens. O respectivo terreiro era palco de grandes festividades à
natureza em tempos imemoriais. Ouvimos também que em 3 léguas ao redor de
Sernancelhe há 13 mosteiros ou templos, alguns deles em ruínas.
Foi contado o
episódio do convento de freiras sujeitas a regras de clausura, mas onde, uma
vez por outra, lá aprecia uma freirinha engravidada, sem que fosse conhecido
varão. Era então feito um rastreio a todas as enclausuradas. Mas havia uma (?),
sempre a mesma, que por artes e/ou manhas fugia à vistoria das superioras até
que um dia a madre disse que iria ela mesma fazer a olhada e que não haveria
fuga possível. E assim foi. A madre foi a olheira. E lá chegando, ergueu o
hábito da olhada e estatuou com espanto marcado nos olhos provocado pelo que
viu. E desabafou: “grávida ou não, nem pude confirmar, mas o que nunca tinha
visto era um “mastronço” tão grande e tão lindo de morrer”
A primeira
paragem (além da ligeira na Senhora da Lage) foi na Fundação Aquilino Ribeiro
cujas instalações são a casa onde o escritor viveu a partir dos 11 anos. Era a casa
dos seus avós. É uma casa de construção tradicional, para gente, diríamos
agora, da classe média, média, com muitas divisões, todas muito pequenas, tal como
mandava a arquitectura da época. De destacar o acervo de pinturas, pequenos
retratos, pequena cama, metálica tubular, estando equipada com um colchão de
época posterior, pois na época estaria cheio com palha de colmo. Houve quem
descrevesse até a cena do enchimento, de que me recordo claramente, pois também
dormi em colchão de palha. A cerca de 50 metros havia a casa do caseiro. Casa
naturalmente mais pobre na construção e no recheio, mantendo-se as divisões
muito pequenas. Ambas as edificações implantadas no espaço da respectiva
quinta, de cuja dimensão não houve oportunidade de tomar ciência. Cabe aqui
contar que, sendo Aquilino um entusiasta amante da arte cinegética, gostava de
caçar, deu instruções claras e bravas no sentido de ser expressamente proibido
disparar contra qualquer bicho que campeie no espaço da quinta. Apesar do dia
solarengo, naquele local soprava uma aragem persistente e arrefecida. Dizia-se
que A. Ribeiro, mesmo no verão, envergava sempre a sua quase mítica samarra. E
terá sido dentro dessa vestidura que, mais do que uma vez, recebeu naqueles
aposentos o nosso conterrâneo, Dr. Alcides Monteiro, amigo que se tornou do
escritor a partir de amigo comum, este político do reviralho no distrito de
Viseu.
Seguimos
depois para Tabosa para olhar e visitar um templo e mosteiro anexo, tudo em
ruínas, mas que, por iniciativa e despojo de um de lá cidadão está em trabalhos
de recuperação e restauro. Trabalho insano e investimento de muitas centenas de
milhar de euros. Terminada a visita, embicámos logo na direcção do hotel onde
tinha sido marcado o almoço, no hotel Verdial, restaurante Peto Real. Serviço
de qualidade e eficiente. Será, ao que foi dito, o refúgio do nosso cicerone
quando se quer dedicar intensamente à escrita.
Como só faltava uma visita a
cumprir (que se veio a tornar longa e alongada e .. para alguns.. chata e
alguns até se baldaram) demorou-se um tanto mais no restaurante, onde se fez
promoção de azeite da região. Alguns compraram.
Endireitou-se
a camioneta a caminho de Sernancelhe. Havia a recepção na Biblioteca Municipal
e a visita à Igreja e Museu Monsenhor Cândido Azevedo, vivente com 80 e muitos
ainda a pesar-lhe pouco, pela vitalidade exibida, pároco na Igreja e, mais do
que cicerone, disponível para expor história. O carro, por imagináveis obras na
zona histórica ficou no centro e, como era ainda longe e a subir, dois de nós
ficaram a esperar que um carro fizesse o transporte. Aconteceu em poucos
minutos. Foi a comitiva recebida pelo Sr. Vereador do Pelouro da Cultura (o
Presidente da Câmara estava fora da região) e o cerimonial foi ligeiro e
singelo. Algumas palavras do Dr. Lima Bastos – referir é considerado cidadão
Sernanselhense e foi agraciado com a medalha de ouro municipal – e resposta do
Sr. Vereador, a que se seguiu a entrega de uma lembrança a todos. A Igreja,
visita que se seguiu, é mesmo ao lado e confirmou-se o ameaço. O abade era
demasiado minucioso e tomava hora e meia para ciceronar tudo. Foi de tal modo
ao detalhe que muitos se cansaram e foram saindo à francesa. Eu também. Cada
qual dos baldados foi procurando onde aconchegar o estômago lanchando, pois já
passava das 18. Eu tinha o meu na camioneta e para lá fui, por deferência do
motorista. Não demorou muito o endireitar rumo a casa. Enquanto se corria nas
Terras do Demo, Lima Bastos tinha sempre algo a esclarecer sobre mais este ou
aquele lugarejo, aquele outro monte e algum episódio real ou mítico.
A viagem correu muito bem. E
terminou bem. Fica-se à espera de agendamento de outra a visitar chão pisado
por outro grande das letras em português. Sem A.O.
José Pinto da Silva
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