quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

MÁRIO SOARES E A RELIGIÃO


Encontrei várias vezes Mário Soares, também em contexto religioso.
Felicitou-me vivamente por umas palavras de despedida no funeral de Natália Correia, com este final: ""Para onde vão os mortos?", perguntava o filósofo Bernhard Welte. Para o Silêncio? Para o Nada? É este Nada que a todos espera. Que Nada? Não está, à partida, decidido como deve ser interpretado este Silêncio e este Nada. Trata-se de um silêncio morto ou de um Silêncio vivo, habitado? Trata-se de um nada negativo ou de um Nada enquanto ocultação absoluta do Mistério vivo, como quando dizemos: aqui não vejo nada, mas sabendo que lá pode estar algo e até o essencial? Quando se olha para o Sol, não se vê nada, tal é o excesso de luz. Este nada é pura e simplesmente nada ou, pelo contrário, o Nada experienciado na morte é a figura do Mistério oculto que a tudo dá sentido e fundamento? Natália, foi no Espírito Santo, tal como o entendias, que acendeste a tua luz e cantaste o fogo do teu canto. Natália querida, no mistério da despedida, que agora mais misteriosamente te envolve, seja ainda o Espírito Santo te guie!"
Fiz uma vez, na Universidade Católica, em Lisboa, uma conferência sobre o pensamento do Padre Joaquim Alves Correia, o padre português mais clarividente do século XX, antecipando inclusivamente o Concílo Vaticano II. Mário Soares, que presidiu, deixou, no final, todas as pessoas sair, para me dizer: Sabe? O António Sérgio, quando lhe apareciam jovens com problemas de fé, mandava-os para o Padre Joaquim Alves Correia. No meu caso, ele já tinha sido exilado. Hoje, estou convencido de que, se não se tivesse dado esse exílio e tivesse tido a oportunidade de me encontrar com ele, possivelmente, em vez de agnóstico, seria crente.
Outra vez, num debate sobre a liberdade religiosa, em Lisboa, uma senhora ousou perguntar-lhe se pensava na morte e no seu depois. E Mário Soares (também aqui cito de cor): A minha mulher é crente. Eu não tenho esse dom. Sou laico, agnóstico. Evidentemente, penso nisso: qual o fundamento de tudo quanto há?, o que é que andamos cá a fazer?, qual o sentido da nossa existência? Mas não tenho fé. Se, na morte, Deus me aparecer, dir-lhe-ei: Ainda bem! Claro, ficarei contente.
"Onde é que eu estarei, quando cá já não estiver", é a pergunta lancinante que Tolstoi coloca na boca de Ivan Ilitch moribundo. Mário Soares partiu. A minha fé diz-me que Deus lhe foi ao encontro. E Mário Soares: Ainda bem que existes! E ficou contente. Porque o Deus em que acredito é o Deus que está do lado da liberdade, aquela liberdade por que Mário Soares se bateu e por cuja luta nós todos lhe estamos profundamente agradecidos. Mário Soares foi um combatente pela liberdade e pela tolerância. A ele se deve em grande parte que, por causa dos ensinamentos colhidos da Primeira República, não tenha havido, no 25 de Abril, conflitualidade religiosa.
Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

OPINIÃO

Mário Soares
1. Já foi dito tanto, quer bem quer mal, que pouco me resta para dizer. Mas vou ensaiar dizer umas coisas singelas levado pela brisa do vento que passa. Obviamente, que aquilo que sei de Soares, está de acordo com a maioria dos portugueses que hoje beneficiam da sua luta pela liberdade levada a cabo juntamente com tantos outros, que desembocou felizmente no fim da ditadura salazarenta e à implantação da Democracia. O seu amor à liberdade para todos deve ser para nós um exemplo e um testemunho que nos deve colocar numa atitude de gratidão.

2. Todo o mal que se tem dito de Soares hoje não interessa para nada, o mesmo se pode dizer para todos os mortos, o mal que se diga de qualquer morto é como a importância da chuva para hoje que caiu há 100 ou 200 anos. Porém, o exemplo de uma luta pela paz, a luta pela tolerância face às diferenças e pela liberdade a todos os níveis, devem ser sempre salientados para que sejam lutas inspiradoras para os que vivem hoje ou venham a viver a seguir.

3. O meu conhecimento de Soares e a minha proximidade radica na admiração que sinto pela sua inteligência, a sua criatividade política, o seu respeito pelas diferenças, a sua laicidade, a sua abertura para o diálogo, a sua bagagem intelectual... Uma série de qualidades que para mim fazem da vida de um político exemplar e digno de ser estudado, porque a sociedade hoje, a caminhar para a escravidão no trabalho, a ser manipulada pelos poderes económicos e pela comunicação social, a sombria «pós verdade» que se impõe como eufemismo das falsas promessas e da mentira que comandam o mundo... Há uma série de razões para que a luta do político Mário Soares não seja esquecida, mas faça parte dos meios educacionais para as novas gerações. As liberdades individuais, a dignidade da participação dos cidadãos, as garantias e a liberdade de expressão em todos os tempos, mesmo que em moldes distintos, estão sempre a ser ameaçados, por isso, urge que não se esqueça o legado de Mário Soares.

4. Outro elemento admirável de Soares é o seu amor à pátria, coisa que hoje também anda nas ruas do esquecimento, e a sua laicidade tantas vezes manifestada nos seus pronunciamentos e na sua prática política. Não deve ser esquecido o seu profundo respeito pela Igreja Católica, sobre quem devia ter muitas razões para apontar o dedo quanto à sua ação tão submissa nos tempos da ditadura de Salazar, mas nunca o vez. Pelo contrário, sempre aberto ao diálogo e disponível para participar em qualquer iniciativa promovida pela Igreja Católica. Lembro com saudade uma comunicação que assisti na Universidade Católica no Porto no âmbito de uma jornadas promovidas pela faculdade de Teologia na Universidade Católica do Porto.

5. É este espírito aberto a todos os âmbitos da comunidade humana, que hoje deve fazer parte do nosso pensamento e que o seu exemplo inspire os homens e as mulheres de hoje a tomarem a sério a convivência entre si com liberdade e respeito pelas diferenças. A inquietação quanto ao futuro do nosso mundo, deve ser razão mais que suficiente para tomarmos a sério esta causa da liberdade e da tolerância.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

RUA DOMINGOS O. SANTOS

Ao passar na rua em título, a rua mais circulada da freguesia, seja por viaturas seja por peões, vi que andavam a podar as árvores (im)plantadas em ambos os passeios da rua. A primeira nota é que reparei que, neste caso caso, dentro do que posso entender, podaram as árvores, sendo previsível que não sairão deformadas ou formadas noutra coisa que não árvores. E a ideia saltou logo para a "poda" que fizeram às tílias do arraial. Repare, quem passe naquele espaço público, na boa parte das tílias que quase só exibem o caule/tronco. Há mesmo quem insinue que uma que outra poderá mesmo vir a secar. Depois se verá.

Ao regressar e passando na mesmo rua, porque tive que parar por imposição de tráfego, reparei com olhar mais cuidado para as árvores, elas enquanto tal, para o respectivo porte e para o local de (im)plantação. A rua, pela sua largura, não suportaria passeios mais largos. Facto. Mesmo assim, nos próprios passeios foram colocadas árvores que, em desenvolvimento normal, engrossam os caules e estendem raizames influentes. O que se vê então? Em ambos os passeios não poderá circular uma cadeira de rodas, um carrinho de bebé - suprema ironia, não poder circular um carrinho de bebé em frente à fábrica que as produz -, não passa uma pessoa com uma guarda-chuva aberto (mesmo que se trate das elegantes sombrinhas que abrigam só a cabeça e, nalguns locais, mesmo uma pessoa terá que pôr de perfil para ultrapassar o obstáculo.

Assim sendo, as cadeiras de rodas, os carrinhos de bebé, os abrigados em dia de chuva para passarem terão que utilizar o espaço das faixas de rodagem, com os riscos inerentes, até por se trtar da rua mais movimentada da freguesia.

Não se vislumbra outra solução para esta situação que não seja a abater aquelas árvores e, para esconder a nudez com que ficará a rua, ali plantar arbustos de porte bem pequeno e que ocupe um mínimo naco dos passeios. E nos locais onde não dê para nada, ficar sem nada.

Esta medida será imperativa, porque se está a saquear um direito primário das pessoas e que é o de poder circular livremente, empurrando, ou não, equipamento de transporte de doentes ou de crianças, ou defendendo-se da chuva com o guarda-chuva.

Interrogo-me se as autoridades têm andado tão distraídas quanto eu desde há tanto tempo. A via é municipal, pelo que se espera que a Câmara Municipal atente a isto.

José Pinto da Silva    

domingo, 1 de janeiro de 2017

A QUEM PERTENCE O TERRENO?

Esta imagem é uma parcela de mapa cadastral da zona mais montanhosa de S. Jorge e mais a Sul da freguesia e pretendo chamar a atenção das autoridades autárquicas, locais e municipais e, eventualmente, outras autoridades que possam intervir, para o terreno, claramente demarcado e que, no "boneco" fica contíguo, à direita, dois dois terrenos de cima, isto é, por cima do registado em nome de Emília Santos.
Dizem-me que que aquela parcela terá cerca de 11 a doze mil metros quadrados, que terá o registo matricial 506 de S. Jorge, e que pertencerá à Câmara Municipal. Notar-se-á que isto é um tanto a sul do Engenho e que a face direita do polígono extrema com o Rio Uíma.
Sem ter tido meios para confirmar se o Registo Matricial está mesmo em nome da Câmara, passei para, da outra margem do rio mirar o terreno e confirma-se que o terreno foi revolvido juntamente com o está no meio, entretanto, adquirido por determinada pessoa que fez e vai fazer plantação de eucaliptos.
Sendo correcta a informação colhida, caberá à Câmara, ou se calhar primeiro à Junta de Freguesia, fazer a confirmação da situação e fazer revertê-la enquanto a coisa está "fresca".

José Pinto da Silva