Em 2003, foi
por Março/Abril, ocorreu e tornou-se pública, e fortemente publicitada, a
prisão de um alto dirigente do PS, que tinha sido ministro da República e, ao
tempo, era considerado o número dois do seu partido e, na mesma altura, um
dito super juiz, muito atirado para a cowboiada motorizada e presunçoso de ser
fotogénico, foi ao parlamento, para, na prática, deter o supostamente
indiciado, tendo tido o cuidado de arrastar atrás de si as câmaras de uma TV
(não me acusaram de ter sido eu quem avisou os repórteres). Era, por esse tempo,
esse político indiciado de crime de pedofilia e foi misturado no que teve de
muita palhaçada, aldrabice, intriga, falsidades, processo Casa Pia. Foi
apresentado ao JIC e depois de longo interrogatório foi-lhe decretada a prisão
preventiva.
Estava, então,
no poder o PSD e o governo tinha entrado na rampa descendente, ao contrário do
PS que aparecia aureolado de sondagens bem favoráveis. Estava-se a cerca de um
ano de eleições para o Parlamento Europeu e a situação mostrava-se feia para o
poder estabelecido, ao contrário do PS que aparecia pujante e premiado com boas
sondagens. Para o poder, avolumavam-se as nuvens frias do descalabro, enquanto
que o sol aquecia a eira eleitoral do PS, abrindo perspectivas de retumbante
vitória.
Já com
campanha mais do que insinuada em todas as intervenções públicas, o que se
pensava e dizia era que era preciso quebrar a espinha do PS. E, acrescente-se,
chegou a parecer que sim. A Paulo Pedroso, o dirigente atingido, foi decretada
prisão preventiva e a direcção do PS reagiu mal inicialmente, mas soube depois
gerir bem este gravame, desenvolveu a sua política de oposição ao governo e foi
crescendo na preferência eleitoral, sem nunca deixar de exteriorizar a solidariedade
ao dirigente detido e aguardando serenamente a sua libertação. Nas eleições o
PS atingiu um resultado absolutamente esmagador, a tal ponto que, pouco tempo
depois o primeiro-ministro da época escapuliu-se para Bruxelas a aproveitar uma
frincha de oportunidade. Para o acusado e depois ilibado, ficaram as sequelas de
uma condenação mediática, loucamente mediática.
Este ano
(2014), uma figura carismática do PS, vindo do estrangeiro (poderia não ter
vindo, se tivesse medo de enfrentar a justiça – mesmo a fraca e influenciável
justiça portuguesa – foi detido à saída do avião, curiosamente e contra todo o
costume, tendo à sua espera inspectores das finanças (desde quando é que gente
do fisco pode deter pessoas?) e, com eles, repórteres e câmaras de duas TVs.
Juro que não fui eu quem alertou as TVs
para a cacha informativa.
Dizem os entendidos, que não o
candidato a Garzon nacional, que quem veio de motu próprio, poderia ter sido
notificado para se apresentar onde eles quisessem, à hora que eles quisessem e
para os fins que quisessem. O primeiro objectivo era humilhar a pessoa em
causa e dar dimensão ao que chamaram de
indícios para que os do poder (e outros), através dos seus paus mandados,
denegrissem a figura do Engº. José Sócrates.
É que estamos
a um ano de eleições e eles estão claramente na rampa descendente e está o PS
guindado para as orlas da maioria absoluta. E escolheu-se o dia da eleição de
António Costa como Secretário-Geral e estava-se a uma semana do Congresso que
validaria os órgãos directivos. Quereriam os ingénuos condicionar a escolha da
equipa de António Costa? Sonhariam eles poder arrumar para os escanos os altos
quadros do partido e que foram mais próximos de Sócrates e que o acompanharam
no governo? Saiu-lhes o tiro para trás, porque António Costa não anula o
passado, orgulha-se mesmo dele e não apaga as figuras altas da fotografia, ao
bom jeito do estalinismo soviético e do CDS português. O PS – que é acusado até
de se ter voltado para a extrema esquerda – saberá ser sempre solidário com o
seu ex-lider e terá bem mais pujança para fazer oposição a este (des)governo.
Atente-se
agora à similitude das situações – a de agora e a de há 11 anos – e não se diga
que agora se não verificou a remake do filme passado e barbaramente apresentado
em 2003, tendo só mudado o “vilão” e bom da fita. O que será normal é que o end
venha a ser igual ao de 2003 e que seja aplicada ao “bom” de agora a pena
sofrida pelo “bom” de 2003. O apagamento total e ida para o cesto das
banalidades inúteis. Sabe, por acaso, o público o que é feito de um tal Rui
Teixeira, o vaidosão que foi prender Paulo Pedroso com a televisão a fazer
furor informativo? Como o cesto é grandalhão, lá caberá de certeza um tal
Alexandre, o prepotente.
Digam que não
há influências políticas e que a justiça em Portugal é isenta que eu não
acredito. O dito de que a política é política e a justiça é justiça é uma
falácia. No meu entender. E os casos demonstram-no.
José Pinto da Silva