quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O P. D. M. REVISTO 22 ANOS DEPOIS



Já com barbas pela cinta, mesmo com retoques suspensivos aqui e além para utilização em empreendimentos de real ou suposto interesse público, parece que foi dada por terminada a Revisão desse instrumento de coordenação e organização territorial do concelho. É o que se deduz em consulta à página oficial da cm-feira.
Sendo o meu interesse o de mero observador, fui passando os olhos como bicho por vinha vindimada e, porque nasci e sempre vivi colado ao Rio Uíma, parei no Cap. V do Relatórios Final(sic), ponto 5.4 – Zonas Inundáveis e Ameaçadas pelas Cheias, e do sub-ponto 54.1 destaquei: “O estudo das bacias hidrográficas, no qual se inclui a proposta de delimitação das zonas inundáveis e ameaçadas pelas cheias no município de S. M. Feira, foi remetido à consideração da A. R. Hidrográfica do Norte em 12 Dezembro de 2008, obtendo, por parte desta, parecer favorável a 12 de Janeiro de 2009. Em 2010 foi-me dito pessoalmente e face a face que a ARHN não faz vistoria ou fiscalização in loco, mas que se suporta só e unicamente no relatório apresentado pelas Câmaras. Et pour cause, avaliza todas as mentiras que possam estar nos relatórios, tratando-se de mentiras piedosas e com alguma coerência.
Um pouco mais abaixo, no sub-ponto 5.4.2 – Conceitos e Normas – Zona Ameaçada pelas Cheias é dito: “a área contígua à margem de um curso de água que se estende até à linha alcançada pela maior cheia que se produza  no período de um século, ou pela maior cheia conhecida, no caso de não existirem dados que permitam identificar a anterior”. Este detalhe é muito importante para se compreender o que mais adiante se denuncia.
Abre-se depois outro capítulo titulado “Identificação e Caracterização das Zonas Ameaçadas pelas Cheias” e por aí se diz: “..Constatou-se que não existem dados que permitam identificar “a linha alcançada pela maior cheia que se produza no período de um século” , no entanto, o ano de 2001 “foi rico na informação. Segundo alguns autores, em muitos concelhos de Portugal, os valores registados, de precipitação e caudal, são os mesmos, ou aproximam-se dos que caracterizam as cheias centenárias.
Assim sendo, assumindo que a cheia de 2001 será um bom ponto de referência e terá um período de retorno longo, foi assumido como bom ano de referência.
Partiu-se para o terreno, onde as áreas ameaçadas por cheias foram sendo rectificadas à escala 1/1000. Para tal foi necessária a compilação de um conjunto de informação que foi fornecida por moradores, pelos presidentes de Junta de Freguesia, jornais locais e por informação recolhida no local por técnicos da C. M. que estiveram envolvidos na resolução dos problemas ocorridos.
Lido este curtíssimo troço do extensíssimo documento que é o PDM e extrapolando as crassas mentiras metidas na área hidrográfica para todo o resto, ter-se-á de concluir que um tal documento não serve para coisa nenhuma e, pelo contrário, será legislação para ser respeitada só por quem olhe os serviços municipais de esguelha. Porque, para os outros, para o resto, para os bons munícipes, haverá de ser à vontade do freguês, com mais ou menos pancaditas nas costas.
Os serviços camarários estão prenhes de saber que a cheia de 2001 foi uma pequena enchente se a compararmos com a cheia de 1954. Como tenho referenciado mais do que uma vez, com conhecimento epistolar à Câmara, à ARHN e à CCDRN, na cheia de 1954 a água encheu o parque das Termas e transbordou em grande turbilhão por cima do muro do parque. Recordo o caso do miúdo que, estando em cima do muro, teve que se abraçar a um pilarete que existia na entrada sul do parque para não ser arrastado. Esse “miúdo” é vivo e está disponível para dizer, a quem não tem querido a verdade – as gentes da Câmara da Feira -, o risco em que esteve. A pessoa que chegou a corda a quem haveria de ir resgatar o “miúdo” ainda é vivo e pode declarar o que me disse a mim. Eu próprio falei a respeito com mais de uma dúzia de pessoas, já adultas em 1954, que confirmaram que a água na rua, em frente da Padaria Central (Café do Sr. Américo) atingiu um metro. A água chegou à borda do tanque do belo chafariz que havia ali junto à ponte.
Pergunto: Quem partiu para o terreno? Que moradores foram ouvidos em S. Jorge ou em Fiães? Que jornais foram consultados? Pois eu tenho disponível e cederei para consulta o que em 25 de Outubro de 1954 disseram os três diários do Porto – Jornal de Notícias, Primeiro de Janeiro e Comércio do Porto – este último faz referência ao episódio do “miúdo” e diz que em frente ao parque (a sul) a água atingiu 5 metros de altura. Notar que em 2001, andei eu a medir e a água subiu 70 cm acima do solho do estabelecimento na altura instalado na ilha. O que significa que os técnicos foram contratados para ver e escrever o que a Câmara mandou, e foram ouvidos moradores previamente industriados, como tinham sido a quando da elaboração de um vergonhoso Relatório feito por encomenda para justificar o injustificável, Relatório que até incluiu uma fotografia falsa a reproduzir uma casa do “Zé Moleiro”, esquecendo o inqualificado e desqualificado técnico que fez, ou só assinou, o dito Relatório que era nessa casa que eu próprio morava, porque sou filho do tal “Zé Moleiro”.
Relativamente a Fiães, partam para o terreno e falem com o Senhor Salvador Soares da Silva, pois ele deixou escrito bastante sobre a Tromba de Água de 24 de Outubro de 1954. E reparem o título do “Correio da Feira”: GRANDE TRAGÉDIA.
Para me não alongar, reitero que, sobretudo no que concerne a parte de Hidrografia, o PDM é um chorrilho de mentiras que não merece o menor crédito. Para referência de cheia do século, querem os incompetentes técnicos uma comparação?
Todos os anos há cheias no Vale do Tejo, uma mais subidas, outras algo menos, mas que isolam sempre algumas povoações. Mas alguém esquecerá algum dia a cheia de 1967 que, diz-se agora, porque na altura a censura não deixou, terá feito perecer cerca de 500 pessoas?
Estou disponível para levar os tais técnicos, que partiram para o terreno sem sair dos fofos gabinetes, junto de várias pessoas que viveram o dia trágico de 24 de Outubro de 1954. Cá em S. Jorge. E começo já a garimpar na mente as palavras ideais para os qualificar.

José Pinto da Silva
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