Como reiteradamente referi, todos os anos, nesta data de 24 de Outubro, farei uma alusão à grande cheia de 1954, verdadeiramente a maior de que há memórias e registos, no vale do UIMA, com efeitos em S. Jorge e em Fiães. (teve consequências graves também em Crestuma, mas não pesquisei).
Vou basear-me em duas frases que servirão de mote.
a)
O acesso (ao edifício do
Ilha Bar) situa-se acima da cota da maior cheia conhecida para o local.
b)
E provavelmente, um dos poucos estabelecimentos que, na
Área Metropolitana do Porto (e arredores) possui um
efectivo título de utilização dos recursos hídricos (poderão vozes descontentes
compará-lo aos bares e
restaurantes da zona ribeirinha do Porto e Gaia – será que esses têm o
privilégio de possuir tão relevante licença por parte da ARHn?)
Começo pelo b)
para referir que o texto desta alínea foi escrita por um técnico (sê-lo-á
noutras actividades, porque nestas que vimos tratando é perfeito leigo, ou age
sempre de má fé e para escovar as botas de quem serve e, para ser mesmo servil,
escova e lambe-as. Esta frase foi POR MIM presente ao então Director da ARHn,
que me recebeu na sala de reuniões da sede do Organismo em 18 de Agosto de 2011
e, ao lê-la, reagiu mais ou menos nestes termos: “… quem escreveu isto É
IGNORANTE, não fez o seu trabalho de casa, porque as zonas ribeirinhas do Porto
e Gaia NADA têm a ver com a ARHn. Estão no âmbito de intervenção da APDL
(Administração dos Portos do Douro e Leixões). Neste processo, o mesmo
escrevente bolsou para o papel diversas prosas e mesmo um Relatório a que
chamaram INFORMAÇÃO TÉCNICA. Poderia ter alguma técnica ou tecnicismo se fosse
noutra qualquer área. Nesta coisa me bulir com águas e enchentes, saiu a provar
uma ignorância crassa, ou falta de estudo, de investigação, de contacto com as
pessoas que foram testemunhas presenciais do que aconteceu. E, quantas são
ainda e felizmente viventes. Ainda poderá o mesmo escrevente rectificar todo o
escorrer de asneiras. Ou será que foi encomenda para tentar desacreditar alguém?
Mais uma lambidela nas botas do dono? Conclusão: Este texto representa um
selfie do próprio com a sua ignorância.
Vamos à alínea
a). A frase citada foi escrita pela Câmara Municipal da Feira, onde laboram
diversos técnicos e técnicos/edis que também não fizeram os deveres de casa e,
assim, só soltaram asneirada. A frase foi escrita no ofício nº. 26346 de
4/11/2009 e endereçado à CCDRn. O tal acesso, pelo que consigo deduzir,
refere-se à cota da soleira do edifício do Ilha / Bar. Para não ir, para já,
mais longe, lembro que o jornal Comércio do Porto, no dia 25 de Outubro de
1954, escrevia que naquele local, em frente ao Parque das Termas, a água
atingiu cerca de 5 metros de altura. Mesmo que se medisse a partir do leito do
rio, o actual edifício ficaria completamente coberto. Mas vou dar outros
parâmetros comparativos.
A foto da
esquerda, representa o Moinho da Ti Arminda do Munho, as casas imediatamente a
sul da Ponte dos Candeídos. Repare-se na porta mais à direita. Nas traseiras da
casa existia (acho que ainda existe) o quinteiro e virada para o quinteiro há
outra porta idêntica que dá para uma cozinha que ali havia (ainda há?) contígua
ao moinho. Essa porta fica a uma cota um pouco mais alta do que a da fotografia.
Em conversa com o nosso conterrâneo ALFREDO BASTOS (o Alfredo do Ti Migilde –
corruptela de Hermenigildo – e que tinha a alcunha funcional de “folheteiro”)
em conversa com o Alfredo em altura em que veio cá do Brasil onde reside, e
questionado sobre a cheia grande, disse ele que tinha andado a carrear sacos de
farinha do moinho para o andar da casa e para me situar quanto à altura da água
no local, disse textualmente: “Olhe Zeca, tá lembrando aquela porta da cozinha
do lado do moinho? Pois a água subiu até à padieira dessa porta”. A partir
deste dado, desafio os tais técnicos que galguem a partir da padieira da porta
da foto para a Ponte da Sé (rua Domingos Coelho). Só espero que não concluam
que a água, naquele tempo, para dar uma balda a quem é por hábito lambedor, não
tenha desafiado a física e se tenha agachado ao chegar às termas. Não deve ter
sido o caso, porque o seu ímpeto derrubou o muro guarda corpos da ponte,
avançou, encheu totalmente o parque e em forte cachão saiu por cima do “Muro
das Caldas” de onde ia projectando o rapazito que se lá pôs e se agarrou ao
pilar da entrada para o parque e de onde foi salvo pelo Serafim Magalhães (o
Chino) que só lá conseguiu chegar amarrado a uma corda segura por amigos que
estavam dentro do edifício. Isso é comprovado, se os tais técnicos quiserem,
porque é vivo o então rapazito e é viva a pessoa que levou até ao local a corda
que se usou para o resgate. A corda foi cedida pela Senhora Emília do Herdeiro.
A outra foto
representa a Casa do Lageiro. Não consegui depoimento que me sugerisse a que
altura andou a água na primeira porta que era da Barbearia. A barbearia chegou
a abrir nesse dia, estava a explorá-la o Sr. NECA da ESTER. Mas ninguém, de
quem consegui contactar, me soube dar informação concreta. Mas em frente havia
a padaria do Valinho, cujo chão ficava a uma cota um pouco inferior. A soleira
da entrada era rés com a rua e na da foto há dois degraus. Mas na padaria a água
subiu mais de metro, porque cobriu a soleira da janela mesmo em frente ao
jardim do Lajeiro.
Voltando aos
técnicos, a Câmara contratou dois técnicos para fazer investigar coisas sobre o
que se passou. E escolheu gente à altura da qualidade da Câmara. Incompetentes
quanto baste. Um, qualificado como licenciado, contratado para fazer pesquisa
jornalística, procurou, procurou, não sei se usou lupa, e só conseguiu lobrigar
uma pequena local no Correio da Feira datada de 6 de Novembro. Não sei se
cobrou muito, mas se tiver sido pago em função do resultado, pobre da pobreza.
A menos que a Câmara tenha pago em função doutro parâmetro. Da incompetência e,
aí, deve ter levado o bolso cheio. Eu que me interessei um tanto pelo caso, até
estava em causa a casa onde nasci e cresci até adulto, não pude deixar de
reagir quando os (in)competentes técnicos municipais e outros foram ao
execrável acto de, para tentar justificar a trapalhice, colocaram na tal
INFORMAÇÃO TÉCNICA uma fotografia falsa da casa do ZÉ MOLEIRO. Será que não se
lembraram de que eu sou filho do Zé Moleira e que a casa era a casa onde eu cresci
e que o moinho, que ainda existe e está à mesma cota, ficou coberto quase até
ao cume. Galguem agora a partir do Moinho da Ti Arminda. Eu na procura que fiz,
encontrei referência ainda no Correio da Feira outra local de 30 de Outubro de
1954 titulada UMA TRAGÉDIA. E sem nenhuma dificuldade encontrei as notas dos
três diários do Porto. Tenho tudo isso disponível para ceder a todo o tipo de
técnicos envolvidos neste processo. Quanto à outra técnica contratada, nem me
refiro, porque descobriu que a maior cheia conhecida foi a de 2001 que no Bar
da Ilha ali existente nesse então se ergueu a 70 cm acima do chão. Medido por
mim e com o dono, então, do estabelecimento.
Termino para
dizer que é minha convicção que toda esta mentira, este esparramar de dados falsos
são a encomenda e a consequência daquele comentado discurso do então presidente
da Câmara, no dia 20 de Maio de 2010, na inauguração do edifício erguido na
Ilha. Um blogger telefonou-me e disse: “Eh Pá, não sentes as orelhas a arder.
Foste o ausente mais presente na cerimónia. O tipo arreou-te de alto a baixo”.
Oiço de quando em vez a tal oratória, para, em voz audível, dizer, para mim e
para as paredes à volta, o que fiquei a sentir a seu respeito e respeito do que
depois, os lambedores escreveram no mesmo propósito. Só que não ofende quem
quer. Hão-de, um dia, reflectir e levar com o peso das mentiras no sítio onde
deveria estar uma boa parte da massa encefálica.
José Pinto da Silva