quinta-feira, 30 de setembro de 2010

OS MELHORES DE TODOS


Escreveu alguém que, no decurso da história da humanidade, se foi constatando que, dos exemplares mais vis, mais cruéis, mais depravados, mais vingativos, mais sanguinários, mais sacanas da espécie humana, alguns foram PAPAS, as entidades que, no imaginário colectivo, seriam (deveriam ser) os modelos de todas as virtudes, até pela santidade do seu primeiro antecessor. Pedro de seu nome. Se formos à pesquisa de dados biográficos de alguns dos papas que se sentaram no cadeirão/trono, ficaremos verdadeiramente estarrecidos com os atropelos que fizeram à vida dos outros, para terem eles a boa vida com que sonharam.

Transportando-nos para os tempos actuais e circunscrevendo-nos ao rectângulo “à beira mar plantado”, era crido que os exemplares mais virtuosos dos bípedes lusos seriam os juízes, os magistrados, os que, de uma penada podem fechar ou abrir as portas da prisão ou da liberdade, em função do seu (deles) alto critério para investigar e analisar comportamentos.

Tem-nos a realidade mostrado que, do pior que vamos tendo, maldosos, vingativos, sedentos de mando, corporativistas ao extremo, alguns são desses mandões da (in)justiça. E, quando os arguidos ou investigados são gente da alta, da que justifica grandes parangonas nas primeiras páginas de jornais e revistas e nas aberturas de jornais televisivos, então forma-se uma autêntica camarilha de gente de segunda espécie que passa elementos dos processos para os jornais e outros órgãos onde sempre se encontra gente da mesma igualha que publica. E isto com regularidade de relógio suíço para assar essas figuras em fogo brando. Jornais e magistrados procuram mostrar, ab initio, que a presunção de inocência evoluiu para a certeza de culpabilidade e eles, jornais e (alguns) magistrados, ganham a certeza de ficarem muito conhecidos. Pelo pior, mas muito conhecidos.

Terá ficado alguma dúvida de que os dois magistrados que assumiram há cerca de dois anos a condução e investigação do celebrizado caso Freeport tinham ideias pré-concebidas relativamente ao envolverem, de qualquer forma ou feitio, o primeiro-ministro, criando cenários ao redor que o pudessem incriminar. E mais notoriamente depois que o Sr. João Palma assumiu a presidência do Sindicato, esse, declaradamente, logo a partir do primeiro dia. Aqueles foram logo dizer a este que tinham sido pressionados por outro magistrado, este próximo do governo e presidente do EuroJust, para ilibarem o primeiro-ministro. Fracos porque se sentiram pressionados e não reagiram com murro na mesa, mas foram fazer queixinhas ao, agora, presidente da forte corporação sindical. Só que o PGR não era (é) sindicalizado. Veio de outra fonte e, então, era preciso não o deixar actuar e começou pelo “veto” ao vice-PGR. Mas, porque beirão, com tudo no sítio, fez valer a sua escolha e passou-se à guerra aberta entre SMMP e PGR. Ver o vaivém de entrevistas e comunicados, porque o PGR não se sujeita a ser uma espécie de presidente honorário, obediente e venerador, do sindicato.

Como não conseguiram detectar nada que pudesse incriminar quem eles verdadeiramente queriam e havia tempo limitado (o processo levava já 6 anos), é feito o despacho de arquivamento ilibando, mas dizendo que ficaram dúvidas, exibindo as perguntas que supostamente deveriam ter sido feitas e não foram “por falta de tempo”. O mundo da justiça ficou pasmo com tão miserável forma de (não) investigar e de tentar fazer dos outros o que eles próprios são. Indignos que calcam a justiça e a magistratura. Saíram vergonhosamente humilhados e, ao que é dito, querem sair da DCIAP, cuja Procuradora Presidente se deixou envolver em manobras não muito bem explicadas e de que sairá chamuscada.

E são estes que deveriam ser os melhores de nós todos, mas que enxovalharam os trajes que envergam. São o que foram alguns papas. Do pior que a sociedade engendrou.

José Pinto da Silva

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PEDIDO E CONSELHO

Tenho passado algumas horas na antiga sede do "Correio da Feira" a tentar localizar alguns textos antigos e, sem que os procurasse concretamente, descobri os versos que reproduzo a seguir, por fazerem referência objectiva a estabelecimentos da terra. Os destaques são de minha responsabilidade.

José Pinto da Silva


PEDIDO E CONSELHO

I

Forasteiros, eu vos peço:

Vinde à festa sem farnéis,

Que sereis , por baixo preço,

Fartinhos como tonéis.

II

Jantai na Pensão do Parque,

Ou então ide à Central.

É possível que vos marque

Bom preço. E não serve mal.

III

Ou ide à loja da Berta.

Tem tudo o que os mais têm.

E é de contas, pela certa,

Porque o preço vos convém.

IV

O Rodo mata suínos

E todas as demais reses.

Favorece os inquilinos,

Se provais… ficais fregueses

V

Também, lá alem, o Palhoça

Oferece garantias.

Tem papa fina e da grossa

E o branco do Malaquias

VI

No arraial o Belinha

Tem vaca, carneiro e galo,

Tem bacalhau e sardinha,

Bifes de porco, um regalo.

VII

Empregai bem o dinheiro;

Tomai esta liçãozinha.

Preferi vaca ou carneiro,

Ou bifes, que não têm espinha

Versos publicados no

“Correio da Feira” em

16 de Julho de 1960 e assinado por “C”

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

RIO SUJO

RIO SUJO

Disseram e escreveram por aí que o rio Uima, nomeadamente no seu percurso em S. Jorge, estava mais sujo e obstruído nos idos anos da nossa meninice e adolescência (este nossa refere-se às pessoas que andem agora pelos 65 anos e daí para cima) do que agora.

Quem isso escreve ou diz, é seguro que não viveu naquela época e, falando do assunto não quis informar-se, ou se viveu na época, não viveu na zona.

Nesse tempo, em muitíssimos locais, a água do rio era drenada para os campos, no verão para rega e no Inverno para lima, pelo que o rio, no seu leito, tinha que estar sempre limpo, sobretudo no verão, quando os caudais eram exíguos. Quanto às margens ocorria o mesmo, por um lado porque os combros eram segados para pasto e as árvores bem cuidadas porque eram o suporte para as latadas americanas.

O que me fez soltar este desabafo foi ter olhado para o troço do rio ali mesmo a montante da ponte da Sé (encontro das ruas Dr. Coelho e António Ribeiro), troço que foi, não há muito, intervencionado e bem melhorado, e ter reparado naquele leito, absolutamente tomado por vegetação aquática. Dir-se-á que não estorva. Claro que não, mas, como não foi ali posta para embelezamento, dá ideia de que está a mais.

Se não há quem limpe, pelo menos que haja quem avise quem tutela a água pública e os leitos e margens, para que limpem. Ao menos naquele local.

José Pinto da Silva

domingo, 12 de setembro de 2010

FALÁCIA MUNICIPAL - CHEIA DE 1954 (Complemento)


Depois de ter escrito e enviado aos destinatários o texto com o título acima é que fui olhar com alguma atenção as fotografias e outras peças usadas pela Câmara da Feira (Departamento de Planeamento) e constatei que usaram uma fotografia falsa a identificar a Casa do “José Moleiro” e falsa, porque não corresponde à casa onde ele viveu e morreu. E não acredito que tenha sido por ignorância ou por descuido, mas sim feito expressamente para tentar esconder a verdade. Reagi de imediato e enviei à Câmara e aos outros destinatários do documento inicial um e-mail com o texto que está a seguir. Isto no dia 6/9, dia em que enviei o documento inicial.

Dois dias depois descobri uma fotografia que reproduz a Casa do “José Moleiro” à época dos anos 50 e que é a mesma que acabou por ser demolida há alguns anos e que originou aquele arranjo no local onde estava a casa (muro de suporte, passeio e acesso à zona do moinho). Logo que a descobri, enviei outro e-mail aos mesmos destinatários e cujo texto vai logo a seguir.

Exmos. Senhores,

Já depois de ter expedido o e-mail abaixo (a), e só depois disso, é que fui ver com alguma curiosidade as fotografias que instruíram o processo que mandaram para a ARH-N para contestarem uma minha exposição.

Fiquei absolutamente VARADO quando vi com cuidado a fotografia que identificam como sendo "CASA DO JOSÉ MOLEIRO e MOINHO DO JOSÉ MOLEIRO" e "TORRE entretanto DEMOLIDA". Aquela fotografia, que não corresponde a nada existente em vida do tal "JOSÉ MOLEIRO" só pode ter sido incluída neste processo por absoluta MÁ FÉ e sentido de trapacice que, de resto, enforma todos os documentos escritos. A casa onde viveu o José Moleiro (e eu próprio cresci) era uma casa assobradada, alta e que foi demolida durante o último mandato do Presidente Fernando Coelho. A Câmara, e particularmente o Departamento de Planeamento não poderia ignorar semelhante, até porque fez uns melhoramentos no local como compensação à dona da casa demolida. Concluo que, como tinha a solução do problema determinado, meteram-lhe mais uma parcela, MESMO FALSA, para simular um resultado certo. Aquela TORRE (entretanto demolida) tem algo a ver com a torre existente em 1954 e que ainda é a mesma agora? Fica aqui mais este meu protesto que enviarei, logicamente, para quem já recebeu o meu rebatimento aos documentos emitidos pelo Departamento de Planeamento para tentar justificar o injustificável.

É incrível como se tenta ir tão longe na mentira para tentar consolidar outra mentira.

(a) O mail referido contém o texto titulado “Falácia Municipal – Cheia de 1954)

José Marques Pinto da Silva

Caldas de S. Jorge

Em 6 de Setembro de 2010 08:15, José Pinto da Silva

(No dia 8 descobri a foto que reproduz a casa do José Moleiro à época da cheia e mandei-a a acompanhar este texto a todos os destinatários do texto inicial:

No seguimento do meu e-mail do dia 6 (anteontem) a complementar outro do mesmo dia, para avivar a memória e chamar a atenção de quem foi responsável pelos documentos enviados à ARH-N, nomeadamente a tal fotografia a referenciar a CASA DO JOSÉ MOLEIRO, vou anexar uma foto (terá pouca qualidade mas ilustra o que se pretende) que representa, realmente, a CASA DO JOSÉ MOLEIRA, a casa onde ele SEMPRE viveu e onde morreu. Pergunto se isto tem algo a ver com a foto que, MALDOSAMENTE, incluíram no processo. Não poderão dizer que se tratou de engano ou que não conheciam esta fotografia (ou pelo menos esta casa em primeiro plano) cuja demolição foi levada a cabo por essa Câmara e recentemente. Claro que, quando esta foto foi colhida, ainda não havia a estrada, nem a Pensão São Jorge. À esquerda ainda se pode ver a Casa do António Lajeiro que esconde a Casa do Valinho. Notarão que não existia ainda a Fabruima. Para informação pode adiantar-se que se conseguiu identificar a pessoa apanhada na foto. Reitero, pois, o que disse no meu mail do dia 6. Para atingir certo fim, não olharam a meios, mesmo aos meios mais aldrabados.

Vou passar este e-mail à ARN-N, a quem irei fazer uma exposição mais circunstanciada de todo este caso.

JoséMarquesPintodaSilva
Caldas de S. Jorge

Nota: Estes textos foram remetidos, via e-mail,

às entidades que tinham recebido o

texto inicial: “Falácia Municipal”

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

FALÁCIA MUNICIPAL - CHEIA DE 1954

FALÁCIA MUNICIPAL/CHEIA DE 1954

A ARH-N, para satisfazer um pedido de emissão de Título de Utilização dos Recursos Hídricos, feito pela Câmara da Feira, para legalizar o Edifício do ILHA/BAR, já construído, em contravenção a todas as normas, estribou o pedido com 5 (cinco) items justificativos, requeridos à e dados pela Câmara, o que não é normal e é pouco curial. Chama-se a isso advogar e ser juiz em causa própria. Todos poderiam ser contestados, mas só contestei, POR ABERRANTE E MENTIROSO, o item 3) que dizia: “ O acesso (ao edifício) fica acima da cota da maior cheia conhecida para o local.” E contestei, porque os factos desmentem o embuste.

Face à minha contestação, à Câmara foi exigida resposta, o que ela fez, apresentando:

1) Informação Técnica emitida pela Divisão de Planeamento da própria Câmara;

2) Pesquisa jornalística pelo licenciado João Carlos Costa Santos Pinto Amorim;

3) Informação pela licenciada Rita Patrício Faria;

4) Declarações de dois naturais e residentes em Caldas e S. Jorge.

Vou rebater, ponto por ponto, esta resposta, de resto muito mal fundamentada, com omissões e mentiras pelo meio, ficando-me, de começo, a firme convicção de que tudo o que foi debitado para os papéis não passou da tentativa de arranjar parcelas para dar um resultado sugerido ou imposto a todos os que intervieram.

Da INFORMAÇÃO TÉCNICA (do Planeamento) destaco só o que se reporta à cheia de 1954, porque é a que está em discussão e a propósito da qual se debitam falsidades por falta do cuidado, ou interesse, de colher informação.

Foi tido como fonte única uma local do “Correio da Feira” de 6/11/1954 – duas semanas depois da ocorrência – que refere a inundação de algumas habitações e o capítulo dos “FACTOS” conclui que apenas as caves das edificações foram inundadas. O conceito normal (actual) de cave é espaço escavado, pelo que bem melhor teria sido dito “baixos” das edificações, como, de resto uma vez alude. São conceitos totalmente distintos. E falar em rede de águas pluviais para precipitações como aquela que agora se discute, ou mesmo outras bem menores, é manifestar instinto de fuga à verdade. Cá, como não importa onde, com uma chuvada um pouco mais forte, é certo e sabido que o entubamento subterrâneo não serve de nada. É muito estranho que tal alusão venha de um Departamento Técnico. Com muitos técnicos.

Foram demolidas, é verdade, a casa do Lajeiro e do Valinho e ambas tinham “baixos”, rés-do-chão e andar, sendo que a primeira tinha utilização idêntica à actual (comércio e habitação). Não teve a “Informação Técnica” o cuidado de se lembrar que a casa do “José Moleiro” não se tratava de um moinho. Era uma casa de “baixos” e rés-do-chão e que foi demolida há 6 ou 7 anos e onde o signatário cresceu até à idade adulta e onde faleceu o tal “José Moleiro”, de quem a viúva é ainda vivente. O moinho contíguo, ainda existente, era o local de trabalho. A vontade de chegar ao resultado imposto obnubilou a memória da “Informação Técnica”.

Casa da “Sra. Dorinda Oliveira” não imagino qual era, pois Dorinda Oliveira, ao que julgo, era a mulher do António Lajeiro. Se a “Informação Técnica” quer referir a casa e moinho imediatamente a sul da Ponte dos Candaídos, então trata-se da casa da “Ti Arminda do Munho” (Oliveira, talvez) e não foi inundada cave nenhuma. A cheia encheu os “baixos” da casa e encheu o moinho e a cozinha contígua até quase cobrir o forno da cozinha. Falei com uma pessoa que viveu o fenómeno e que andou a ajudar os da casa a retirar sacos de milho e de farinha para o andar da casa, com água “quase até ao pescoço”. Uma pessoa das que lá morava disse que a água chegou “quase até meio da calçada”. Outro, ouvido a 3 Setembro, de passagem do Brasil, deu como referência da altura da água a padieira da porta da cozinha. A água subiu até lá. O declarante andou também a ajudar a retirar sacos do moinho para o andar da habitação. A necessidade de aportar parcelas para chegar ao resultado imposto inibiu a “Informação Técnica” de se informar, perguntando, inclusive, a pessoas que moravam (e moram) no Lago qual a altura da água no lugar e os estragos que fez. Eu perguntei.

A cheia de 2001 não interessa para o caso em rebatimento, apesar de, também ela, ter subido, e bem, acima do “acesso” ao edifício.

Na CONCLUSÃO volta a “Informação Técnica” a falar na rede de águas pluviais, rede absolutamente inútil para chuvadas um pouco acima do normal e, disse-me uma das inúmeras pessoas que contactei, dos que viram e viveram a cheia grande, que cada linha de chuva era “da grossura do dedo grande”. Que nunca antes se tinha visto nada assim e que depois, até aos dias de hoje, nunca mais aconteceu coisa semelhante. É vulgar, de resto, ver a água correr pelas ruas sempre que chove um pouco mais. A depressão a meio da rua Dr. Domingos Coelho era inundada à menor precipitação.

O “habitante de Caldas de S. Jorge” signatário deste rebatimento não é o autor da expressão “ficou só o fio do cume do telhado (do moinho) à vista”. Colheu-a de quem viveu aquele dia, naquela zona. Mesmo não se tratando de pessoa letrada, terá sido uma figura literária. Outras pessoas, das inúmeras ouvidas a respeito, não convergem na definição da altura das águas, sendo que todos dizem que andou no telhado do moinho. Concedo, pois, que tendo chegado ao telhado, mas não tenha ido até perto do cume. De resto, para o rebatimento que faço, a altura da água na ribeira e na casa do “José Moleiro” – os “baixos” da casa ficaram inundados quase até ao solho do piso de cima – não é determinante. Importante é determinar a altura da água no parque das Termas e, por reflexo, nos campos onde foi construída a ilha (ínsua).

Lembrar que na, agora, rua Dr. Domingos Coelho, desde o “poço” e até ao fim nascente, não havia qualquer parede do lado do campo. Havia a estrada, uma álea de plátanos e uma berma e logo o campo, desnivelado cerca de metro e meio. Da ponte até ao “poço” havia uma parede com partes já derrubadas. Por outro lado, a poente do “José Moleiro” e até Arcozelo só havia montes, íngremes, pelo que fácil será imaginar a avalanche de águas que desceu e se abateu sobre a casa e moinho. Da estrada da Igreja (poste de ferro) para a casa e moinho o acesso era uma “carreira” que ficava dois metros abaixo do campo “da Bica”.

Na Casa do Valinho a água subiu “um metro, a passar” acima do chão da padaria. A cota da soleira da padaria seria uma mão de través acima da estrada. Assim sendo – foi dito por pessoa que lá morava e trabalhava na altura e que é, felizmente, ainda abordável – a meio da rua, agora Dr. Domingos Coelho, a água terá subido bem mais de metro e meio. Dentro do parque, o chão ficava a uma cota ligeiramente acima da rua, havia uma pilha de madeira de cimbre – as Caldas estavam em obras – e toda essa madeira foi arrastada de escantilhão pelo turbilhão das águas e teve que passar por cima do muro onde esteve “preso” o Elísio Mota que fez depoimento circunstanciado - já tornado público - sobre o “terror” por que passou, depoimento feito sem coacção e sem perspectiva de quaisquer prebendas ou promoção. O episódio da madeira foi-me referido por pessoa que está disponível para repetir se for necessário. Outra pessoa ouvida, ao tempo moradora no alto da Sé, com saída visual para poente (ainda existe a casa e a visibilidade) referiu-me com estupor “o mar de água que eram aqueles campos entre o Alambique e a Pensão do Parque/Pensão Central (Valinho)” e a enxurrada que vinha dos campos de cima e caia na carreira!” (Caminho fundo entre o “Poste de Ferro” e o alambique, com seguimento para Casaldoído.)

Tendo sido assim – reitero que falei com diversas pessoas que moravam ali na zona da Sé – um com um pormenor e outro com outro, um contando uma curiosidade, outro contando outra, todos confirmam a altura e a impetuosidade das águas dentro do parque, na estrada à volta dele e, por comunicação imediata, no campo que deu origem à ilha. Todos afirmam nunca terem visto, antes nem depois, semelhante enxurrada.

Claro que barbaramente falaciosa é a CONCLUSÃO da “Informação Técnica” e, quanto à inundação das freguesias a norte, consulte-se o que relataram os diários do Porto, edição de 25 Outubro 1954 relativamente a Fiães. Eu consultei e o “Planeamento” se tivesse ido mais uma vez ao Porto poderia ter colhido esses dados. Eu fui. Esses relatos estão, de resto, transcritos em mais do que uma publicação editada em Fiães. Consultáveis. Disponíveis. Se tivesse havido vontade de saber algo da verdade. Pergunte-se até onde chegou a água na Ponte da Chã, apesar daqueles largos campos de espraiamento. A solução estava definida!

Aproveito para entrar na “PESQUISA JORNALISTICA” começo por dizer que é de uma pobreza franciscana o trabalho do licenciado encarregado da missão. Diz ele na informação produzida que”apenas obtive o relato de uma situação ocorrida em 24/10/1954, sendo que, para constar, anexo cópia desse mesmo documento (Jornal Correio da Feira), edição de 6/11/1954”.

A primeira conclusão é a de que o autor da pesquisa demonstrou, ou pura incompetência, ou que o cachet não dava para mais. A edição do “Correio da Feira” de 30/10/1954 já titulava o relato do acontecimento com UMA TRAGÉDIA e, não falando especificamente de S. Jorge, deu nota da braveza da tromba de água que assolou a zona, com realce para os efeitos em Fiães e nas margens do Rio Às Avessas, onde a água subiu 5 metros. Se tivesse havido o mínimo interesse em procurar a verdade – a encomenda queria qualquer coisa menos a verdade – teria consultado os relatos dos diários JORNAL DE NOTÍCIAS, PRIMEIRO DE JANEIRO e COMÉRCIO DO PORTO, edições de 25 de Outubro de 1954. Os dois primeiros dão uma dimensão da tromba de água e os seus efeitos na região, focando mais os estragos em Fiães, sendo que o Comércio do Porto faz alusão concreta a S. Jorge, relata o episódio com o Elísio Mota – um rapazito, como o trata o relato - e, a certo passo, diz: “ nas Termas de S. Jorge a tromba de água inundou terrenos e ruas, invadindo o casario da parte baixa da localidade. Em alguns sectores e próximo do pequeno rio a água atingiu cerca de 5 (CINCO) metros”. Fácil será imaginar em que local seria possível a água atingir cerca de 5 metros de altura acima das margens. Tudo isto para significar que o Senhor Licenciado não fez pesquisa nenhuma, ou fez tão somente o que interessava a quem encomendou o serviço. Uma pesquisa mais aturada estragaria os desígnios do “Departamento”.

A INFORMAÇÃO da Dra. Rita Faria não tem relevo para o caso em discussão, pois confirma que o seu estudo tem outro fim que não o de determinar a altura das águas em situações de cheia.

AUTOS DE DECLARAÇÕES – As questões formuladas por entidade dependente do “Planeamento” da Câmara da Feira têm uma clara inspiração na “Informação Técnica” oriunda do mesmo “Planeamento” e, logo, insinuam as respostas programadas, de resto, repetindo a mesma tonteria expressa na “Informação Técnica” de imaginar que a rede subterrânea de águas pluviais agora existente, mesmo que limpa e desimpedida, serviria para alguma coisa perante uma precipitação pluvial como a de 24/10/1954. Ou mesmo muito menor que fosse.

Os declarantes foram escolhidos “a dedo”, quiçá os mais aptos para as respostas mais convenientes para darem o resultado imposto para a equação a engendrar.

Os declarantes eleitos foram os Srs. José Carlos Baptista Martins e Carlos Henriques de Paiva. Por acaso, ou de propósito, ambos originários e residentes em lugares longe do centro nevrálgico da “Tragédia”. Arcozelo e Azevedo, respectivamente. O PRIMEIRO não merece qualquer crédito em nenhum contexto e neste, então, brada aos céus. Imagine-se que até insinua que o rio está agora mais limpo e desobstruído do que em 1954! Só mesmo de um muito lerdo mental. E em caso de enchimento total, como foi o caso, quais a vantagem ou dano de haver dois ou só um canal no rio? Se acontecesse agora coisa igual o vazamento teria dois impecilhos adicionais: a barragem e o edifício. O declarante poderia ter-se informado do caudal e dos efeitos da enchente no ribeiro da “Fonte Fria”, afluente do Uima, no seu percurso em Arcozelo (seu lugar), nomeadamente nos campos e casas da Ribes. Eu fui ouvir quem sabe. O SEGUNDO diz que estava na zona. É possível, mas é muito pouco provável, tendo em conta o local onde morava, a hora em que ocorreu, a intensidade da chuva e o caudal de água pela estrada. Se, de facto, estava na zona, ou estava cego, tem falhanço no “chip” da memória, ou mente simplesmente. Em 1954 não existia aquela árvore junto à ponte, que foi agora abatida. Havia ali uma vegetação herbácea e arbustiva. Quanto ao enchimento das Caldas (cave, buvete e parque), fica desmentido pelos factos e pelos depoimentos de quem estava, de facto na zona, até porque aí residia. Usou o declarante a mesma incapacidade de pensar do primeiro. Com uma enchente daquela envergadura (o jornal C. Porto diz que atingiu cerca de 5 m de altura), que adiantava o rio ser estreito ou largo, ter um braço ou dois? Para cheia igual – que não ocorrerá nunca mais, espera-se – teria agora outros estorvos: a barragem e o edifício e obstrução vegetal em quase todo o curso do rio. E chegou-se ao desplante de dizer que agora o rio está mais limpo e liberto do que nos anos 50!

Concluo afirmando, agora com mais veemência, que o argumento de que “o acesso está acima da cota da maior cheia conhecida para o local” é uma mentira, facto que tem que ser reconhecido FORMALMENTE pela ARH-N e pela CCDR-N, com as eventuais consequências que daí advenham.

Acho ter cabimento recordar que, logo que se pensou em edifício novo para substituir o velho “ILHA” se dizia que, mesmo na Câmara havia três ideias quanto à implantação. Uma era a que acabou por fazer vencimento. Outra era a de o edifício fazer “PONTE” sobre o braço direito do rio, com pilares da altura devida na ilha e do outro lado ao nível do caminho a sul, sendo por aí o acesso, pelo menos para pessoas com mobilidade condicionada. Outra era que toda a construção fosse implantada a sul do caminho, nos terrenos camarários, ficando a ilha para pura fruição pública. Estaria já nos subconscientes o hipotético aparecimento de complicações?

Dizia um pensador cujo nome me não ocorre que “ Muitos fabricam argumentos para justificar objectivos seus, em vez de escolher os seus objectivos de acordo com a verdade objectiva da razão”.

José Marques Pinto da Silva

NOTA: Este documento será enviado ao respondido (Departamento de

Planeamento da Câmara da Feira) à ARH-N, à CCDR-N, à Secretaria de

Estado do Ambiente e ao Senhor Provedor de Justiça.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

LIBERAL vs ESTATIZANTE


Considero-me, e assumo sem nenhum constrangimento, mesmo que constranja alguns(umas) que me serão próximos e entendo, muito convictamente, que o Estado não sabe (em termos gerais) e não tem condições para gerir a actividade produtiva do país. Daí que ache que o Estado deve sair, rapidamente e em força, de todas as empresas nacionais da área da produção de bens transaccionáveis e também de algumas só prestadoras de serviços.

Está na cara que os estatizantes, muitos dos quais parasitas do sangue económico do país, pensam horrores do que eu penso e, mais ainda, os funcionários (públicos) dessas empresas e a sua guarda avançada com assento fofo nos sindicatos e nas comissões obreiristas. Olhe-se desde logo a sem vergonhice de sindicatos e “comités de fábrica” (e toda a oposição parlamentar) a propósito do negócio/venda de 30% da VIVO pela PT.

Primeiro falam como de cátedra, atirando bocas como que saibam mais do negócio, das condições de crescimento ou decréscimo, do que a Administração que deve ter perdido montes de horas de sono para tomar uma decisão considerada boa para a empresa cuja gestão lhe foi cometida, para o país e para toda a multidão de clientes que têm em Portugal. Por evidente antevisão economicista (qualificativo com que ornam o governo a propósito e pretexto de quase tudo), porque uma maior facturação com a VIVO lhes daria maiores prebendas. Ou não será isso? Claro que o governo, a seu tempo, há pouco mais de um mês, fez uma grande operação ao activar as “Acções Douradas”, porque, travando então o negócio, produziu em encaixe de mais 350 MM de euros. E ajudou a criar condições para a entrada noutra operadora brasileira. Já que a tinha, usou-a bem. Mas acho que não devia ter. Entendo que o Estado se quer cantar de galo numa empresa, tem de comprar o capital da dita. Comprar, disse bem.

Disse bem porque em 12 de Março de 1975, num quarto de hora, ilustres cabeças de sabres à cinta, tomaram praticamente toda a actividade económica empresarial e o ressarcimento não foi pensado. Ficou para mais tarde. E, quanto à qualidade da gestão, dizia-se a alta voz que os gestores dos bancos nacionalizados – que davam lucros fabulosos antes da nacionalização – faziam mais contabilidade imaginativa para esconder prejuízos do que os capitalistas faziam para escamotear lucros. Os nacionalizantes (gostariam de nacionalizar barbearias e floristas) dizem que a REN, a GALP, a EDP, a ANA, e os CTT não devem ser privatizadas (as três primeiras são privadas tendo o Estado algum capital nelas), porque dão centenas de milhões de lucro e o Estado perderá dezenas de milhões em dividendos. Por outro lado a TAP não deve ser privatizada porque dá milhões de prejuízo e não dá dividendos, como não paga IRC. É claro e notório que os sindicatos e seus próceres partidário/parlamentares imaginam que os privados, com gestão mais moderna, mais activa e mais interessada, remodelem muita coisa e consigam fazer mais com menos gente, ou fazer muitíssimo mais com a mesma gente, obrigando a mais afinco, a mais trabalho, sem ingerências sindico/partidárias. A gestão empresarial terá de caber aos empresários. Correndo os riscos do investimento e lutando pelas contrapartidas do benefício.

Achará alguém normal que as empresas públicas de transportes, em estrada ou em carris, sejam um tamanho sorvedouro de dinheiros públicos? Fala-se que cada pessoa que entra no Metro do Porto e compra bilhete, dá logo um prejuízo de cerca de € 3,00 e que cada bilhete nos transportes estradais dá prejuízo de quase 1 euro? E também nos caminhos-de-ferro os prejuízos fazem deitar a mão à cabeça, sendo por aí que, também um pequeno número de funcionários (maquinistas, por ex.) se acordarem mal dispostos, pode parar toda a empresa. Podem continuar as coisas assim? Ouviram um governante a pretexto do funcionamento, ou não, de uma linha-férrea, que ficaria mais barato dar um automóvel e pagar a gasolina a todos os que costumavam usar aquele comboio? A propósito, por quanto ficará à CP (a todos nós) cada passageiro que viaja no Vouguinha? As Câmaras dos concelhos atravessados por essa linha regional estariam dispostas a ficar com a estrutura inteiramente de borla? Que seja tudo privatizado, porque muito do prejuízo sai forçosamente da má gestão pública, se não, porventura, de gestão danosa. E com prémios chorudos a compensar a má gestão.

Mas gostaria muito que o Estado se encarregasse por inteiro dos Serviços de Saúde, nomeadamente nos Cuidados Primários que deviam ser acessíveis a todos. A todos mesmo e aceitando o princípio do caminho para a gratuitidade. Pelo menos nos cuidados primários. Como primeira medida seria a “importação” em quantidade de médicos donde os houvesse disponíveis. Importação total e não como tem sido feito com médicos cubanos que vivem por cá na miséria, porque o seu salário é pago directamente para Cuba, ficando eles cá com pouco mais do que para o tabaco. Faz-me muita espécie ver clínicas de prestação de exames auxiliares de diagnóstico, e não só, aparecerem como cogumelos em cada esquina. E é sabido que vivem, muitas delas, quase em exclusivo dos P1. E, ao que se vai sabendo, estando uma grande parte delas a exercer sem estarem legalizadas e, mesmo assim, a receberem comparticipações do Estado, para quando algo correr mal em qualquer tratamento correrem para os hospitais públicos para ser reparado o que foi mal feito. Será que os hospitais públicos têm os seus meios totalmente aproveitados? Muitos desses exames e tratamentos não poderiam ser feitos nos hospitais?

Muito gostaria também que a Educação, a Escola, fosse pública. Toda. Os privados que entendessem montar um negócio de Ensino, que o fizessem por sua conta e risco e que cativassem clientes pela excelência dos seus serviços. Do ensino e das instalações Seriam seus clientes as pessoas com meios para pagar essa excelência. No ensino primário como no superior. Como na saúde, nos casos em que o Estado ainda não tivesse meios bastantes, em qualquer escalão do ensino, compraria serviços a privados que tivessem condições e quisessem vender esses serviços, estabelecendo protocolos de prestação de serviços. O privado deveria ter sempre e só uma posição supletiva. Na educação, como na saúde. Ao Estado a obrigação de, o mais rápido possível, aumentar a oferta em unidades de saúde e em equipamentos de instrução, a começar nas creches, pré primário e até ao superior

José Pinto da Silva

Nota: Publicado no “Terras da Feira em 6/10/2010