FRETE A QUEM? E POR QUEM? DESDE QUANDO?
Em manifesto desespero de causa,
António José Seguro, acusou um ou dois deputados dos conotados com a política
do governo Sócrates – referia-se muito concretamente a Pedro Silva Pereira e
José Vieira da Silva – de estarem a fazer um frete ao governo.
É bem caso para dizer que Seguro fez
o mal e está a fazer a caramunha, porque se alguém, de forma absolutamente
evidente, fez frete a este governo foi a sua liderança, pela oposição frouxa, praticamente inócua,
nestes quase dois anos de actividade. Não é preciso ir escarafunchar muito no
que foi, ou não, dito durante este período. É de todos reconhecido que este
governo e a sua maioria, numa escalada imparável, tem feito um ataque
absolutamente execrando a todo o estado social, na educação, na saúde e na
segurança social, tem deixado definhar até à pele e osso a economia, tem
deixado crescer, com um desinteresse inhumano, o desemprego e, a despeito de
algumas tiradas mais ou menos desgarradas e inconsequentes, as sondagens
continuam a dizer que o PS não tem condições, nem margem de manobra para
ascender a alternativa de governação.
Onde o enfoque
na grave crise financeira despoletada em 2008 (com a incapacidade de que deu
mostras, o que teria feito este governo Passista, além de amarrar as mãos nas
cabeça) e a sugestão da EU para políticas expansionistas, causa directa do aumento
do défice e da dívida? Onde uma palavra a lembrar a crise da dívida soberana
que atacou as economias mais pequenas e abertas como a portuguesa e a inversão
de orientações da EU? Onde uma ténue referência às N.O., o forte emblema de
Sócrates? Onde uma simples alusão à intensificação na formação de doutorados e
incentivos à ciência e investigação científica? Onde uma mera nota encomiosa ao
internacionalmente reconhecido avanço na promoção das energias renováveis? Nem
Seguro nem o seu séquito mais útil se convenceram de que, para fazer oposição à
séria, teria sido preciso não sentir vergonha do governo Sócrates e, ao
contrário, enfatizar o muito que foi realizado em muitos campos da actividade
pública. E era preciso que, de forma coerente, fosse salientado que o Memorando
foi negociado por um governo em gestão e, mais ainda, foi negociado com a
maralha do PSD à mesma mesa. Devia ter havido a coragem de lembrar que Catroga
disse que o Memorando era bastante bom, porque tinha lá o dedo e a marca do
PSD, quer dizer dele. Devia não ter tido vergonha de dizer assertivamente que a
necessidade última de recorrer ao resgate se deveu clara e inequivocamente ao
facto de ter sido chumbado o PEC4, porque havia a garantia de financiamento por
banda das instituições europeias, com exclusão da bandidagem financeira do FMI.
Mas … dizer
isso faria escaldar a língua de Seguro que jogou na queda de Sócrates tão fortemente
quanto todos os partidos da então oposição. É que depois de todas as safadezas
praticadas por estes Gaspares, seria mais do que normal que as sondagens
colocassem o PS num patamar de maioria absoluta. E a boa distância. Esta
direcção, dadas as relações institucionais ou outras, com todas as forças
políticas à sua direita ou esquerda, sabe que só pode contar consigo. E tal só
seria possível se tivesse havido uma oposição assertiva, capaz, veemente, com
algumas alternativas que, pelo menos, parecessem credíveis. É demasiado frágil
soltar algumas tiradas mais ou menos inconsistentes nos debates quinzenais.
A Seguro falta muito de tino
político. Saiu com a tirada de estar preparado para ser governo alternativo e
apelar a maioria absoluta. Não foi essa a porca estratégia usada em 2011 por
Passos Coelho, este com a conivência tão partidária como vergonhosa do
Presidente da República? Claro que foi ridiculamente silenciado por um segunda
linha da maioria a dizer que o mal de Seguro era sofrer da fome de poder.
Não adianta,
nem é sobretudo útil encomendar “Gameiradas” insultuosas para com militantes de
topo do partido (quem é Gameiro, versus Costa, Vieira da Silva, Silva Pereira,
Medina, Santos Silva, Assis, e tantos outros que têm dado a cara em cada brecha
aberta?). Onde a hipocrisia e o cinismo de que são acusados esses militantes?
José Pinto da Silva (milit. 2917)