domingo, 27 de janeiro de 2013


FRETE A QUEM? E POR QUEM? DESDE QUANDO?

Em manifesto desespero de causa, António José Seguro, acusou um ou dois deputados dos conotados com a política do governo Sócrates – referia-se muito concretamente a Pedro Silva Pereira e José Vieira da Silva – de estarem a fazer um frete ao governo.
          É bem caso para dizer que Seguro fez o mal e está a fazer a caramunha, porque se alguém, de forma absolutamente evidente, fez frete a este governo foi a sua liderança,  pela oposição frouxa, praticamente inócua, nestes quase dois anos de actividade. Não é preciso ir escarafunchar muito no que foi, ou não, dito durante este período. É de todos reconhecido que este governo e a sua maioria, numa escalada imparável, tem feito um ataque absolutamente execrando a todo o estado social, na educação, na saúde e na segurança social, tem deixado definhar até à pele e osso a economia, tem deixado crescer, com um desinteresse inhumano, o desemprego e, a despeito de algumas tiradas mais ou menos desgarradas e inconsequentes, as sondagens continuam a dizer que o PS não tem condições, nem margem de manobra para ascender a alternativa de governação.
Onde o enfoque na grave crise financeira despoletada em 2008 (com a incapacidade de que deu mostras, o que teria feito este governo Passista, além de amarrar as mãos nas cabeça) e a sugestão da EU para políticas expansionistas, causa directa do aumento do défice e da dívida? Onde uma palavra a lembrar a crise da dívida soberana que atacou as economias mais pequenas e abertas como a portuguesa e a inversão de orientações da EU? Onde uma ténue referência às N.O., o forte emblema de Sócrates? Onde uma simples alusão à intensificação na formação de doutorados e incentivos à ciência e investigação científica? Onde uma mera nota encomiosa ao internacionalmente reconhecido avanço na promoção das energias renováveis? Nem Seguro nem o seu séquito mais útil se convenceram de que, para fazer oposição à séria, teria sido preciso não sentir vergonha do governo Sócrates e, ao contrário, enfatizar o muito que foi realizado em muitos campos da actividade pública. E era preciso que, de forma coerente, fosse salientado que o Memorando foi negociado por um governo em gestão e, mais ainda, foi negociado com a maralha do PSD à mesma mesa. Devia ter havido a coragem de lembrar que Catroga disse que o Memorando era bastante bom, porque tinha lá o dedo e a marca do PSD, quer dizer dele. Devia não ter tido vergonha de dizer assertivamente que a necessidade última de recorrer ao resgate se deveu clara e inequivocamente ao facto de ter sido chumbado o PEC4, porque havia a garantia de financiamento por banda das instituições europeias, com exclusão da bandidagem financeira do FMI.
Mas … dizer isso faria escaldar a língua de Seguro que jogou na queda de Sócrates tão fortemente quanto todos os partidos da então oposição. É que depois de todas as safadezas praticadas por estes Gaspares, seria mais do que normal que as sondagens colocassem o PS num patamar de maioria absoluta. E a boa distância. Esta direcção, dadas as relações institucionais ou outras, com todas as forças políticas à sua direita ou esquerda, sabe que só pode contar consigo. E tal só seria possível se tivesse havido uma oposição assertiva, capaz, veemente, com algumas alternativas que, pelo menos, parecessem credíveis. É demasiado frágil soltar algumas tiradas mais ou menos inconsistentes nos debates quinzenais.
A Seguro falta muito de tino político. Saiu com a tirada de estar preparado para ser governo alternativo e apelar a maioria absoluta. Não foi essa a porca estratégia usada em 2011 por Passos Coelho, este com a conivência tão partidária como vergonhosa do Presidente da República? Claro que foi ridiculamente silenciado por um segunda linha da maioria a dizer que o mal de Seguro era sofrer da fome de poder.
            Não adianta, nem é sobretudo útil encomendar “Gameiradas” insultuosas para com militantes de topo do partido (quem é Gameiro, versus Costa, Vieira da Silva, Silva Pereira, Medina, Santos Silva, Assis, e tantos outros que têm dado a cara em cada brecha aberta?). Onde a hipocrisia e o cinismo de que são acusados esses militantes?
José Pinto da Silva (milit. 2917) 
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