SER OU NÃO ESTADISTA
Foi já no dia
11 deste mês que li no JN um artigo do jornalista Daniel Deusdado que achei
excelente e de que, com a devida vénia vou transcrever um pequeno excerto.
“António José Seguro tem uma
grande oportunidade de se revelar, pela primeira vez, um estadista. Basta
anunciar que o PS indica António Costa para primeiro-ministro das eleições
(sejam elas quando forem). Se fosse lúcido, tê-lo-ia feito na semana passada e
acabava de vez com o governo”.
E, em tempo de
citações, com a mesma vénia, transcrevo duas linhas do texto assinado por
Alberto de Castro, também publicado no JN, este em 16 também deste mês.
“… Em rigor, não fora a sua
antinomia com Sócrates, talvez Cavaco Silva pudesse ter forçado uma solução
deste género a quando da recusa do PEC4 (…..) foi assistindo à sabotagem pelo
duo Passos/Gaspar de todas as pontes socialistas…”
Quanto ao
primeiro artigo, concordo em absoluto com o autor, ainda que nunca acreditasse
que Seguro alguma vez cedesse à aspiração de poder ser chefe de um governo (nem
que fosse da Selvagem Pequena, acrescento), aspiração que alimenta desde os
bancos da Jota e para a qual trabalhou sub-repticiamente durante os seis anos do
governo Sócrates. É do senso comum que A J Seguro não tem estaleca para ser
chefe do que quer que seja e muito menos de um governo e menos ainda num país a
atravessar uma crise de contornos ainda não totalmente definidos.
O jornalista
sugeriu que deveria “abdicar” em favor de António Costa, mas haveria dentro do
Partido Socialista diversas personalidades que, com vantagem para o país e para
o partido, poderiam tomar o lugar de primeiro-ministro e, se tal desprendimento
fosse possível. Não há dúvida de que o abdicante tomaria, aí sim, laivos de
estadista, de pessoa abnegada que deixou de pensar em si própria e na sua
vaidade pessoal para olhar para o país e também para o partido. Dir-se-á que
quem assim se sentisse disponível deveria ir ou ter ido à luta interna para
conquistar o partido por dentro. Também é verdade, só que não há assim tantos,
não há estadistas disponíveis para andar a minar estruturas, a formar
sindicatos eleitorais, para conseguir os apoios que catapultam para o topo do
andor.
António Seguro
ainda iria a tempo de tal gesto altruísta.
Relativamente
ao segundo artigo, assinado por Alberto Castro, o que me ocorre dizer é que
Cavaco Silva mostrou, nas suas atitudes para com José Sócrates e para com o
governo que liderava, que agia segundo as mais rastejantes intenções
partidárias, vergonhoso para uma pessoa que na hora da vitória vociferou que,
naquela hora precisa, se extinguia a maioria que o elegera e que seria o
presidente de todos os portugueses. Mentiu, mentiu. Logo que viu aprovado o
orçamento para 2011 – ele que não queria confusão orçamental para a campanha e
reeleição – iniciou o ataque soez ao então primeiro-ministro e respectivo
governo, ataque mais visível no miserável discurso da tomada de posse, a 9 de
Março e depois o suporte dado implícita e explicitamente aos ferozes ataques do
seu partido, não mexendo uma palha para que fosse aprovado o documento que
teria evitado o resgate financeiro. Perante uma incomensurável crise económica
e financeira, não só não travou como incentivou a crise política para levar ao
colo os seus pupilos para o pote. E como tem havido por ali mãos a entrar! E a
sair com aspecto de cheias. José Pinto da Silva