MILITÂNCIA (ou ganância)
PARTIDÁRIA
Desde há
tempos que têm aparecido notícias das mais escabrosas a respeito das
manigâncias preparadas e executadas pelas dirigências concelhias e/ou
distritais dos partidos. Há mais tempo leram-se as mais estranhas notícias
sobre a inscrição de militantes e pagamento de quotas nas eleições para as
estruturas concelhias e distritais do Porto do PSD. Mais de 100 inscritos com a
mesma morada. E não consta que fosse um quartel militar.
Nos partidos
de menor dimensão (número de inscritos e representatividade eleitoral) as
coisas passar-se-ão do mesmo jeito e, há uns anos leu-se muito sobre
irregularidades no CDS/Feira. Mais recentemente houve mosquitos por cordas nas
eleições para a concelhia do Porto, porque foi institucionalmente determinado
que o Dr. Pizarro não poderia ganhar a concelhia, porque, diziam os
institucionais, foi contra o partido ao aceitar pelouros na Câmara do Porto.
Saiu-lhes o tiro para trás, mas o jogo de sapa e bem sujo estava feito. Já
antes tinha havido outra situação absurda, em Matosinhos, com pagamento de
quotas de milhares de euros por um só.
No topo das
notícias está agora o caso da Secção da Sé Nova do PS/Coimbra (veja-se que a
coisa desce até às secções de residência, ainda que algumas tenham muitos
inscritos) onde, segundo a coordenadora, terá havido fichas duplicadas, quotas
pagas à má fila, processo que já extravasou para o judicial.
Enfim, na
generalidade das estruturas assiste-se a movimentações subterrâneas que levam
ao descrédito de quem está de fora e ao afastamento de muitos que, estando
dentro e apercebendo-se de tais manobras, mandam tudo às favas e deixam,
primeiro de aparecer no que quer que seja para que sejam convocados ou
convidados, depois de pagar as quotas, et pour cause, de aparecer a votar.
Olha-se para
um caderno eleitoral de uma estrutura qualquer onde há registo de, por ex.,
três quarteirões de “militantes” (aspei militantes, porque a generalidade não
milita, está só na lista). Olha-se depois para a lista dos inscritos com capacidade
eleitoral e só cerca de um terço tem direito a voto, porque dois terços não
pagaram as quotas. E constata-se no fim que, do terço dos eleitoralmente
capazes, só metade comparece para votar. A isto se poderá chamar uma estrutura
partidária viva? Claro que não.
Mais. Se
olharmos, caso a caso, os listados nos cadernos eleitorais, topam-se lá nomes
de falecidos, nomes de gente que se sabe que andam por outros emblemas, quiçá
como candidatos a cargos e vê-se que a maior parte dos listados ninguém os
conhece, a muitos nunca ninguém os viu em lado algum e muito menos em qualquer reunião partidária. São dos tais que, em
situação pontual de necessidade de eleger alguém para qualquer dirigência, são
arrebanhados às gigas, são inscritos, o mais das vezes com assinaturas falsas e
aparecerão ou não no acto eleitoral que o seu voto é sempre descarregado no
caderno e a papeleta lá cai na caixa a que chamam urna para ser contado no fim
como voto válido. E porque se mantêm esses nomes todos nas listas? Por um lado,
porque se fossem excluídos os mortos e desconhecidos, muitas secções ficariam
sem o mínimo exigido de inscritos e, depois, porque a atribuição de delegados
tem relação directa com o número de inscritos, pelo que quantos mais melhor, mesmo
mortos, porque só conta o nome.
Dado este
quadro, que é praticamente geral nas secções do PS/Feira, alguém imaginará que
numa estrutura de residência haja mais de duas centenas e meia de inscritos
(270 e tal) e todos, todos, tenham capacidade eleitoral (quotas pagas) e todos,
em acto eleitoral interno, tenham feito descarregar o seu voto, isto é,
estiveram presentes na assembleia e assinaram o caderno eleitoral? UMA OVA!
Direi eu. E assim, uma só secção com votos bem encaminhados, vence uma eleição
concelhia.
Significa que
o modelo de organização tem que ser mudado. Como? Com que alternativa? Eu não
sei. Mas sei que, como está é uma fraude pegada e elege-se sempre quem tiver
dinheiro (e lata) para adiantar para as quotas de todos (dominando-se a secção o
dinheiro é devolvido à secção, que o mesmo é dizer, ao candidato que o
adiantou).
Em jeito de
fecho também direi que se, porventura, numa disputa eleitoral, me declarasse
disponível para enfrentar o putativo ganhador e tivesse mesmo avançado com contactos
para apoiantes e integração na minha lista, nunca, em circunstância alguma,
aceitaria desistir da candidatura a candidato para integrar a lista do que
haveria de ser o meu adversário. Sem negociação de fusão de programa ou linha
de acção! É mesmo só para estar e o que importará é estar. Acho humilhante. Eu
não entraria por aí. Nunca.
José Pinto da Silva