INVESTIMENTOS ESTÚPIDOS
O epíteto do
título foi atirado pelo dr. Silva Lopes e atirava-se sobretudo aos
investimentos feitos em estádios de futebol para o EURO 2004 organizado em
Portugal. Claro que ele e outros consideram da mesma maneira os investimentos
monstruosos na Expo 98 (muitos deles serão do norte e falam por esses
investimentos terem acontecido em Lisboa. Porque se tivessem sido feitos na
zona do Porto, poderiam ter sido bem maiores que passavam logo a virtuosos). E,
na circunstância com muito mais razão, os investimentos em auto-estradas,
absolutamente desnecessárias, tendo ficado provado que não há veículos para
tanto asfalto tão logo se começaram a cobrar portagens para nelas se passar. Os
poderes centrais, ou porque fossem necessárias algumas vias, ou porque era
preciso calar autarcas – os maiores culpados por muitos destes investimentos –
poderiam muito bem ter construído as estradas tradicionais de via simples.
Mas o que me
leva a este escrito é mais o investimento nos estádios e as maldições que sobre
ele vão caindo. Em determinada altura ditada pelos calendários uefeiros
Portugal apresentou candidatura para a eventual organização do campeonato
Europeu de selecções a realizar em 2004. Toda a gente achou muito bem, toda a
gente teceu encómios à F. P. Futebol pelo arrojo da iniciativa e todos
arreganhavam a taxa contra os outros dois candidatos, a Espanha, por um lado e
a Áustria/Hungria, por outro. Toda a gente sabia, e também os detractores, que
um dos lemas da UEFA e da FIFA é a promoção e divulgação na Europa e no mundo
do desporto designado por futebol, sendo que uma dos maiores incentivos à
prática do desporto é a construção de recintos para o efeito.
Todos sabiam
que a Espanha tinha muitos estádios a mais, até porque tinha em 1982 organizado
o Mundial e bastava-lhe modernizar alguns deles. Sabiam todos também e
inclusive os detractores, nalguns casos mais estúpidos do que os tais
investimentos, que os Austro/Húngaros apresentaram um projecto de construção //
melhoramento de 10 estádios de futebol. O que significa que a candidatura de
Portugal ficaria arrumada, se não exibisse os tais 10 estádios, novos ou
reformados. E a Comissão Organizadora, para além dos que seriam óbvios (Porto,
Lisboa (Benfica e Sporting), lançou o desafio a clubes e autarquias para que,
se achassem por bem e reunissem as condições impostas pelo Caderno de Encargos,
apresentassem as candidaturas que impunham condições bem rígidas, no aspecto
construção, no aspecto financeiro e no aspecto da utilização dos equipamentos no
post campeonato. E foi dura a luta travada pelas autarquias e clubes relativamente
aos estádios que agora são mais problemáticos – Leiria, Aveiro e Loulé/Faro. É
de recordar inclusivamente que a cidade de Viseu ficou toda aborrecida porque
entendia não dever ser preterida, porque entendia mais justo que fosse o
equipamento construído mais no interior, em prejuízo de Aveiro. Só que, segundo
comunicado da Organização, o projecto de candidatura de Viseu deixava muito a
desejar e ficou vencido. Esta é a verdade.
Aquando do
anúncio do vencedor e logo que foi anunciado que caberia a Portugal a
Organização do EURO 2004, todo o mundo, toda a gente, de certeza que incluindo
os mais vergonhosos detractores de agora, atiraram chapéus ao ar, numa euforia
indescritível, porque Portugal viu aumentado o seu prestígio no contexto das
nações.
As obras foram
executadas, segundo os respectivos projectos e na altura marcada para cada
caso, os estádios foram sendo disponibilizados e, no jogo jogado pela nossa
selecção foi o que se viu. Não correu como se previra e sobretudo como se
desejara. Mas … fez-se boa figura.
E quanto aos
investimentos que alguns estúpidos classificam olhando-se ao espelho e
chamando-lhes o que são, saltem sobre quem não está a cumprir com o que se
comprometeu e que foram algumas autarquias e alguns clubes. Deixem, desta vez,
o Estado de fora.
José Pinto da Silva
31/03/2014