OBSESSÃO HOTELEIRA
Caberá iniciar
com o recordar uma ocorrência de há anos. Andava-se na campanha autárquica de
2009 e um candidato à Câmara alçou a bandeira da cedência de lotes de terreno
nas zonas industriais, nas existente e noutras a desenvolver, a € 1,00/m2, com
o fito de promover o investimento e, por ele, a criação de emprego no concelho.
Lembramo-nos bem, e quem se não lembrará, da matilha que lhe soltaram às
canelas, que não passava de uma tirada demagógica, incumprível por carestia de
meios, e mais que tira e mais que põe. E não esqueceremos que a matilha, toda
ela, tinha tons alaranjados. Seria, portanto, demagógico prometer a dispensa de
lotes em zonas industriais a € 1,00 o m2 em 2009, para ser normal, realista e proveitoso,
para os zelotas da mesma tonalidade, “vendar” ao mesmo preço de euro/m2 uma
parcela significativa de terreno situado no local mais nobre e emblemático de
Caldas de S. Jorge. Neste caso, lote atribuído sob concurso, com caderno de
encargos (como seria na proposta de 2009) a obrigar a construir, em prazo
assinalado, determinado equipamento do segmento turístico/hoteleiro. Com estas
linhas preambulares para dizer que nada a opor à iniciativa, desde que, claro,
os pressupostos sejam cumpridos.
Salta à evidência
que o investidor, pessoa experiente no investimento imobiliário em geral e
particularmente no segmento hoteleiro, fez um exaustivo estudo económico do
investimento que se propõe arriscar, propondo-se ir, inclusive, para além do
imposto pelo C. E., subindo um ponto no estrelar da unidade. O C.E. impunha a
edificação de unidade de tipologia mínima de três estrelas e foi por ele,
investidor, anunciado que optaria pelas quatro estrelas, melhoramento que não é
dispiciendo e menos de desconsiderar. E, por certo que não pensará suportar a
rentabilização do empreendimento com as afluências termalísticas, como as
termas não estarão de olho num hotel tetra estrelado para captação de
presenças. A pesquisa prévia para a decisão de investir terá deixado a indicação
de que o grosso da clientela termal é ambulatória, dada a origem territorial
dos termalistas. Desde que começou a haver estradas e o uso do transporte
individual se generalizou. É bem mais barato ir e vir, de e para um raio de até
30//40 km do que hospedar-se, mesmo em aposento menos estrelado.
Assalta-nos a incerteza quanto ao
futuro da paisagem implantada do outro lado da rua do Monte de Cima. Será que
um empreendimento hoteleiro tetra estrelado se compatibilizará com as ruínas da
Fabruíma e do imóvel contíguo, constituindo um quarteirão com mais de 50 metros
de lado? É uma evidência que não haverá compatibilização adivinhável. E a quem
vai caber a aquisição//recuperação//demolição de tudo aquilo? O C E não aponta
para que seja obrigação do empreendedor. Nem sequer fala nisso. Virá a caber à
Câmara Municipal?
O
desenvolvimento do processo haverá de dizer. Para além do melhoramento visual,
algo sempre haveria que ser feito para agilizar as acessibilidades para a
futura unidade e sempre implicaria com uma alteração profunda daquele pedaço,
já que se não divisa outro acesso que não seja por uso da rua do Monte de Cima.
Algo se saberá com e aquando da execução do projecto que tem prazo marcado.
Mas o que deu
origem ao escrito e ao título foi o facto de se saber, por boca própria, em
entrevista neste mesmo hebdomadário há três semanas, que a construção daquele
hotel, naquele local, é objectivo programático de mandato de uma pessoa que foi
eleita presidente de Junta, no caso de duas freguesias. Parece ser demasiado
redutor, em comunidades de tantas carências, mesmo no âmbito de equipamentos
públicos, mas também nos segmentos sócio-culturais, ter como objectivo zénite o
desafio de um particular que, perante as vicissitudes económicas do país e dada
a exiguidade da caução investida, facilmente poderá inverter as suas orientações
de investimento. Pobreza de meta.
José Pinto da
Silva