sexta-feira, 13 de março de 2015

E NINGUÉM SABIA


Li naquela papeleta que mereceu o título de “Plano de Actividades para o Exercício de 2015”, no Cap. 3 Equipamentos, a expressão: “…requalificação do terreno pertença da Câmara na rua Rio Uima…”.
Mesmo procurando andar um tanto informado sobre o que vai ocorrendo na terra, nunca tinha ouvido que a Câmara tivesse comprado metade da ribeira. A propósito lembro uma conversa entre um antigo Presidente da Câmara, já depois de ter deixado o cargo, e eu, estávamos na ponte da Sé a olhar para a Ribeira e ele, com ar nostálgico disse: “a minha grande frustração foi não ter podido comprar isto tudo daqui até à outra ponte (Candeídos)”.
Depois de ler o que li, procurei alguma informação e foi-me dito que, de facto, a Câmara tinha comprado aquela metade, da estação elevatória para sul. Fui depois confirmar com o anterior dono. Que fora verdade e até me disse o valor da transacção.
Mudou de dono, e já agora foi pena que não tivesse sido negociada a totalidade, incluindo o moinho, e o certo é que o comprador não deve ter optado pela compra, só por comprar. Terá um objectivo no horizonte, porque não é muito crível que tenham adquirido aquela área toda para implantar a Estação Elevatória que ocupa uma dúzia de metros quadrados. É dito no papel donde colhi a primeira dica haver intento de fazer a “requalificação do terreno pertença da Câmara…” O projecto requalificativo não foi tornado público. Antigamente era muito bom a produzir milho. Se não foi destruído havia ali um sistema de rega de pé.
Sendo agora aquele terreno de uma entidade pública será imperiosa a regressão de alterações feitas, em tempos, na funcionalidade do canal condutor da água até ao moinho, como se mostra no “boneco” colocado ao fundo.
A partir da “Levada” – represa construída exactamente para levar, derivando, a água do rio para os moinhos – formou-se o canal e, a poucos metros da tranqueira, havia outro canal que ligava o canal principal ao rio. Rio velho, chamávamos-lhe nós, para distinguir do canal. Era esse canal menor, a céu aberto, construído em pedra, leito e paredes e era usado quando se pretendia escoar o canal principal para limpeza e por isso se lhe chamava “canal de secagem” e trata-se, salvo outra visão, de uma maravilha de engenharia hidráulica. De facto, quando se fechava a tranqueira grande (junto à levada) e se subia a tranqueira do canal menor, havia a sensação de que a água recuava. Esse canal menor foi indevidamente aterrado e urge pô-lo na situação anterior.

Quando a ribeira foi partida por dois proprietários, o canal foi barrado para formar rampa de acesso a partir do bacelo superior. Estando agora envolvida uma entidade pública, parece ser imperioso que a barragem seja retirada e, para acesso, se construa um pequeno pontão, limpando-se o canal. Até porque continua no ar o sonho de que aquele moinho haverá de ser um dia requalificado e as mós postas a girar.


José Pinto da Silva


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