Leu-se, faz
algum tempo, artigo de opinião económica a focar a fileira do turismo em
Portugal e incidia na notícia de que, só em Lisboa, iriam ser inauguradas 23
unidades hoteleiras até final de 2015. E falava de mais umas quantas previstas
para o Porto, o destino que mais tem crescido na oferta de dormidas das
diversas modalidades de recepção e acomodação de turistas, o que prenunciaria
sobreposse de oferta, com as inevitáveis consequências nefastas por crise de
excesso.
Isto traz-nos
à tona a prevista / anunciada / contratada / aprovada construção de um hotel em
Caldas de S. Jorge. De referir que o facto de haver, eventualmente, excesso de
oferta global de camas, não quer dizer que, num ou noutro destino não faça
sentido algum acrescento de oferta.
O contrato de
tomada do terreno (para o previsto hotel em frente das Termas) previa que o
início da construção ocorreria, o mais tardar, dentro de 3 anos, com um ano
para apresentação do projecto base. Prazos cumpridos, pois até, ao que veio na
comunicação social concelhia, os projectos de especialidades foram apresentados
e já aprovados. Faltará saber se todo o processo teve a apreciação normal, ou
se houve influência positiva da poderosíssima pressão do presidente da Junta,
já que disse reiteradamente ser a ajuda no processo de licenciamento do hotel
um dos seus prioritários objectivos.
Relativamente
à viabilidade económica do investimento (foi falado em algo mais do que 4
milhões de euros), não haverá dúvida de que o investidor, para decidir
mandar-se para a construção de um hotel de quatro estrelas, e sendo experiente
no sector, ter-se-á munido de estudo económico detalhado que lhe tenha
perspectivado retorno do investimento em prazo aceitável e lhe traga, depois,
rentabilidade para o capital investido. A menos que, ao que às vezes dizem
viperinas línguas, o investimento venha a ser subsidiado em valores avultados.
Aí por Março
de 2015, o “Terras” inseriu uma nota de roda pé aludindo declarações do
investidor, a chamar a atenção para o facto de o projecto apresentado, e
entretanto aprovado, implicar um ajustamento da área cedida pelo município.
Induz a pensar-se que o terreno é que teve que se adaptar ao projecto, ao invés
de o projecto ser desenhado em função do terreno disponível. E pergunta-se: Vai
haver cedência de mais terreno? Que percentagem do terreno adquirido em hasta
pública? Ao mesmo preço (cerca de € 1 / m2)? E como é que a Câmara aprovou um
projecto que, para ser implantado, teve que invadir terreno contíguo?
Numa das
últimas reuniões da Assembleia de Freguesia foi levantada a questão do acesso
ao empreendimento e foi dito pelo presidente da Junta que o acesso seria pela
saída da rua do Alto do Monte a confluir com a rua António H. Ribeiro. A assim
ser, é uma certeza que a Fabruíma e a casa contígua a nascente, ou, pelo menos,
parte delas, será demolida. Se é verdade a informação – dada a origem nunca se
sabe quando é verdade ou trapaça – falta saber se o custo da aquisição será da
responsabilidade da Câmara, ou se do investidor. De certeza que a ter algo de
verdade, a intervenção tem de ir até às ruínas da cromagem, 50/60 metros mais a
sul. O investidor, quando decidiu construir e concorreu ao terreno, tinha já
sido informado de que haveria intervenção obrigatória naqueles imóveis em
ruínas? E intervenção às custas de quem?
Não será nada mau. Quer o investimento em si,
quer a requalificação daqueles imóveis. Preciso é ser-se informado. Estão em
causa, possivelmente, bastantes dinheiros públicos.
José Pinto da Silva