CALDAS 2027
Sem,
obviamente, querer entrar em qualquer espécie de polémica, mas tão só querendo
obter algum esclarecimento e, sem falsa modéstia, soltar alguma adenda útil. Quero
enfatizar o respeito que sinto pelas pessoas, todas, que se envolveram no
projecto, incluindo no parto do nome e até a humildade – que não comparo a
qualquer espécie de subserviência – de dividir a autoria do projecto com quem
nada tem a ver com ele, a não ser o ter ajudado a disponibilizar o espaço da
instalação. Àquele grupo de jovens, a esses, passo parabéns.
Mas, como a
admiração não passa, comigo não passará nunca, pela bajulação, vou expressar
alguns desacordos e começarei pelo nome dado ao projecto. Porquê CALDAS 2027?
Li, ou ouvi, ou sei lá se as
duas, que 2027 seria a data em que se comemoraria o centésimo quinquagésimo
aniversário do 1º. Tratamento nas Termas. Se essa é a premissa, o primeiro
tratamento teria sido em 1877. Li noutro local que o nome dado seria para
marcar os 240 anos da primeira cura. Neste caso, essa cura teria ocorrido em
1787, data que, compulsadas várias descrições, não aparece registada. O Dr.
António Ferreira Pinto da Motta escreveu, em documento sobre Caldas de S. Jorge:
(sic): “ O anno da primeira estação
balnear, assim como a epocha em que as Caldas começaram a conquistar um nome
honroso as suas congéneres, não se pode fixar precisamente. O data do
descobrimento d’este manancial é, para uns, como Pinho Leal, em 1770 e para
outros 1797 (1) É provável pois, que esta água seja d’origem mais
remota n’aquelle local, embora nada conste a tal respeito. O mesmo autor, mais adiante no mesmo documento,
escreve, depois de referir o aquecimento da água em panellas de ferro e que o
banho era à prova da sensibilidade calorífera da mão do banhista inexperiente:
(sic) “Com uma captagem imperfeitíssima,
com uns cubículos ou espeluncas de banhos sujos, mal calafetados e immundos, a
Câmara da Feira, em 1843, iintroduziu n’este estabelecimento balnear alguns
melhoramentos d’inadiavel realisação”.
Ora esta data
1877) é contrariada também pelo que está expresso no pequeno monumento à
entrada sul do parque, que lembra a data de 1892 como tendo sido a do primeiro
tratamento em estabelecimento estruturado. Para cabal esclarecimento desta
situação, vou transcrever o que escreveu em 1940 o Padre Costa e Silva no
Jornal TRADIÇÃO, a pag. 61 (não é visível o mês da edição).
“ (…) foi ao abade Inácio, em
princípio do século 19, que coube a glória do aproveitamento regulamentado
destas águas. À sua custa, mandou construir tanques de madeira e barracas para
banhos. Outros vieram ajudá-lo. Fez-se a primeiro instalação balnear. Foi
melhorada em 1843. Mais tarde, foi a Câmara autorizada a contratar a construção
dum novo edifício. Esta construção começada em 1889 foi dada por pronta em
1892. Até 1914 só banhos de imersão. Foi nesse ano que começaram os grandes
melhoramentos nas Caldas, para as quais têm concorrido muito as insistências do
zeloso director clínico. Inalações, pulverizações, irrigações nasais, duches e
banheiras de mármore, tudo isto se fez neste ano e seguintes. Em 1932 a
buvette, banheiras esmaltadas e pavimentação do átrio. Nos últimos anos, o
revestimento das paredes e pavimentos dos quartos e azulejos e mosaicos, motor
eléctrico e portão de ferro …”
Em boa
verdade, a data de 1877 ficou supinamente no tinteiro do Padre Costa e Silva e
do Dr. Antonio da Motta. Daqui se infere que o nome nada tem a ver com os 150
anos dos tratamentos, nem com os 240 da primeira cura. Em 1892 foi quando se
inaugurou o balneário com estrutura a merecer o título, ou a razão do nome do
projecto é toda outra. Fica o desafio para o esclarecimento e fica a intenção
de, em próximo escrito, falar um pouco do que é chamado logotipo (ou logótipo).
Definição, origem e representatividade.
José Pinto da Silva
Nota: É sabido que um documento existente diz que em 1097
era feita referência a “Caldelas” – ‘ in uilla Caldelas hic in Sancto
Georgei….’ Ora o termo caldelas indica que havia água de caldas, logo seria
mais do que provável que já tivessem ocorrido curas.