FIQUEI SIDERADO
Fui há dias
visitar pessoa amiga com quem não estava há vários meses e, naquela de jogar
conversa à rua, falou-se de colecções e coleccionismo. Eu lá fui desabafando a
lembrar que tinha alguma fixação em canetas de tinta permanente como elemento
de colecção, para além de muito gostar de escrever com caneta, que gosto de
olhar para selos, sobretudo comemorativos e também moedas e medalhas de
comemoração, mas e sobretudo livros. Neste tema fui-me demorando por ser o que
mais me tem prendido a atenção e captado algumas das minhas poupanças. Sempre
reduzidas, claro, mas tendo, mesmo assim proporcionado o gosto de ir aumentando
o espólio bibliográfico. Também com algum espírito coleccionista, na medida em
que podem juntar todas as obras de determinados autores, os diversos títulos de
determinado género ficcionista, a junção de obras de escritores prémios Nobel,
etc. Tenho presente, por exemplo, a primeira grande colecção de livros de bolso
editada em Portugal, nos anos 60, colecção de 100 títulos e que ficou conhecida
como “Livros RTP”. No meu espólio bibliográfico figuram muitos títulos que
foram comprados mais com o espírito de colecção do que com a expectativa da sua
leitura.
Feito este
rápido desabafo a respeito de colecções e coleccionadores, diz-me o meu
interlocutor: “Por falar em colecções, conheces, por acaso, a minha colecção de
relógios?” Não retorqui e fiquei a imaginar uma porrada de relógios de pulso e
bolso, quiçá muitos mesmo, desde os antigos de dar corda e sem datador até os
digitais de agora. “Pois então, vem comigo ali acima que já vais ver”. E lá
fomos para uma parte de casa que devia ser ampla, mas que agora está pejada de
estantes e prateleiras. E fiquei, como se diz no título, siderado. É que me fui
deparando com centenas, muitas, de relógios de sala, a revestirem todas as
paredes do espaço, de diversos tamanhos e feitios de caixa, mostradores e
pêndulos dos mais diversos modelos e de antiguidades diferentes, incontáveis
relógios de parede, também dos mais variados modelos e feitios de caixa e
mostrador e fica-se extasiado ao ser confrontado com a quantidade de relógios
de mesa, dos mais variados feitios e apresentações, alguma exibindo obras de
arte em escultura cinzeladas em diversos materiais e … tantos! As prateleiras
estão francamente entupidas com tantos exemplares, todos bem encostados para
ganharem espaço, pois a procura de mais exemplares continua. A somar a toda
esta panóplia, há ainda alguns exemplares de contadores de tempo antiquíssimos,
dos que têm a força motriz provocada por uma corda (cordel) com um pedaço de
rocha a fazer a pressão pendente. E, depois, a colecção de despertadores, estes
dependurados a esmo nos intervalos deixados entre cada relógio de parede. É
mesmo de ficar embasbacado, não se pensando no montante ali investido que,
direi eu, não tem conto.
“Ó fulano,
atirei eu, já ao jeito de saída, esta maravilha merecia estar exposta de outra
maneira, cada peça mais separada da sua vizinha, com uma apresentação
museológica, nomeadamente com o historial de cada peça escrita e colada junto,
com origem, data de fabrico, data de aquisição, se foi restaurada ou assim
adquirida…etc” – Não te preocupes, retorquiu o coleccionador, que está já a ser
preparado um espaço, não longe daqui, onde cada peça será bem exposta, ao jeito
museológico, como dizes, cada unidade sairá bem dignificada e, depois de
instalada toda a exposição, passará a ficar acessível ao público, exactamente
como em museu.
Convirá dizer
que este caso não está divulgado, não há muita gente a saber desta existência
e, a qualquer visitante, está impedida a tirada de fotografias. Logo que em
exposição pública o assunto será badalado e divulgado à exaustão.
José Pinto da
Silva