quarta-feira, 2 de abril de 2014

FIQUEI SIDERADO

Fui há dias visitar pessoa amiga com quem não estava há vários meses e, naquela de jogar conversa à rua, falou-se de colecções e coleccionismo. Eu lá fui desabafando a lembrar que tinha alguma fixação em canetas de tinta permanente como elemento de colecção, para além de muito gostar de escrever com caneta, que gosto de olhar para selos, sobretudo comemorativos e também moedas e medalhas de comemoração, mas e sobretudo livros. Neste tema fui-me demorando por ser o que mais me tem prendido a atenção e captado algumas das minhas poupanças. Sempre reduzidas, claro, mas tendo, mesmo assim proporcionado o gosto de ir aumentando o espólio bibliográfico. Também com algum espírito coleccionista, na medida em que podem juntar todas as obras de determinados autores, os diversos títulos de determinado género ficcionista, a junção de obras de escritores prémios Nobel, etc. Tenho presente, por exemplo, a primeira grande colecção de livros de bolso editada em Portugal, nos anos 60, colecção de 100 títulos e que ficou conhecida como “Livros RTP”. No meu espólio bibliográfico figuram muitos títulos que foram comprados mais com o espírito de colecção do que com a expectativa da sua leitura.
Feito este rápido desabafo a respeito de colecções e coleccionadores, diz-me o meu interlocutor: “Por falar em colecções, conheces, por acaso, a minha colecção de relógios?” Não retorqui e fiquei a imaginar uma porrada de relógios de pulso e bolso, quiçá muitos mesmo, desde os antigos de dar corda e sem datador até os digitais de agora. “Pois então, vem comigo ali acima que já vais ver”. E lá fomos para uma parte de casa que devia ser ampla, mas que agora está pejada de estantes e prateleiras. E fiquei, como se diz no título, siderado. É que me fui deparando com centenas, muitas, de relógios de sala, a revestirem todas as paredes do espaço, de diversos tamanhos e feitios de caixa, mostradores e pêndulos dos mais diversos modelos e de antiguidades diferentes, incontáveis relógios de parede, também dos mais variados modelos e feitios de caixa e mostrador e fica-se extasiado ao ser confrontado com a quantidade de relógios de mesa, dos mais variados feitios e apresentações, alguma exibindo obras de arte em escultura cinzeladas em diversos materiais e … tantos! As prateleiras estão francamente entupidas com tantos exemplares, todos bem encostados para ganharem espaço, pois a procura de mais exemplares continua. A somar a toda esta panóplia, há ainda alguns exemplares de contadores de tempo antiquíssimos, dos que têm a força motriz provocada por uma corda (cordel) com um pedaço de rocha a fazer a pressão pendente. E, depois, a colecção de despertadores, estes dependurados a esmo nos intervalos deixados entre cada relógio de parede. É mesmo de ficar embasbacado, não se pensando no montante ali investido que, direi eu, não tem conto.
“Ó fulano, atirei eu, já ao jeito de saída, esta maravilha merecia estar exposta de outra maneira, cada peça mais separada da sua vizinha, com uma apresentação museológica, nomeadamente com o historial de cada peça escrita e colada junto, com origem, data de fabrico, data de aquisição, se foi restaurada ou assim adquirida…etc” – Não te preocupes, retorquiu o coleccionador, que está já a ser preparado um espaço, não longe daqui, onde cada peça será bem exposta, ao jeito museológico, como dizes, cada unidade sairá bem dignificada e, depois de instalada toda a exposição, passará a ficar acessível ao público, exactamente como em museu.
Convirá dizer que este caso não está divulgado, não há muita gente a saber desta existência e, a qualquer visitante, está impedida a tirada de fotografias. Logo que em exposição pública o assunto será badalado e divulgado à exaustão.


José Pinto da Silva
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