Como eu me
recordo! Andava-se no processo de escolha do Candidato PS à Câmara. Alguns
nomes saltaram para a berlinda e, mais ou menos inopinadamente, aparece
consumado que a escolha caíra em Eduardo Cavaco. Logo no momento torci o nariz
à escolha e, ao então membro da Comissão Política que me deu nota da decisão,
fiz sentir isso mesmo. Que eu não teria razão, que fora uma boa escolha e que
por ali houvera boas influências do António Cardoso, na altura presidente da
Concelhia.
Logo ripostei
que, não estando em causa a pessoa do Senhor Eduardo Cavaco, nem muitas das
suas qualidades nalguns ramos, que não na política, autárquica ou outra, era
meu convencimento de que a escolha caíra na esperança de que não faltaria
dinheiro para a campanha. Que haveria de ser dura. Fiz referência à pessoa do
Senhor Eduardo Cavaco, que conhecia e por quem nutria, e nutro, simpatia
pessoal, mas que era fraco candidato, porque era alheado da política e muito
mais alheado dos princípios orientadores do PS. Que não, replica o
interlocutor, que era um industrial conceituado (por sinal já nem era porque
vendera a sua posição na indústria) e que, quanto a dinheiro, intervim eu, que
estaria longe de ser mãos largas como tinha sido o Alcides Branco. Evidente que
não faço a mínima ideia de quanto investiu na tentativa de vencer.
A escolha teve
seguimento, o escolhido empenhou-se na campanha dando a cara em exposições
públicas e não deixei de o apoiar e de nele votar. Não sei se houve algum
compromisso político celebrado e mesmo vertido a escrito. Se houve, há muito
foi quebrado.
O Senhor
Eduardo não tinha formação política e era, ao que sei, bastante afastado dos
princípios do PS e era, seguramente, irreverente e incontrolável e sabia-se que
sempre que estivesse em discussão o que quer que fosse respeitante à sede do
concelho, à Vila da Feira, mesmo que em eventual prejuízo do concelho, o Senhor
Eduardo estaria ao lado da Vila da Feira, mesmo que contrariando frontalmente o
PS e o concelho. Dizia-se, em tom de graça, que era “cobeiro” – da Coba – até à
medula.
A coisa
explodiu agora a propósito do EuroParque cuja responsabilidade gestionária a
Câmara assumiu, claramente no escuro, porque, para já, não sabe o que fazer à
criança, nem sabe se haverá quem lhe mude a fralda ou dê banho. Claro que
Eduardo Cavaco, de certeza que acriticamente, até porque tem a ver com a sede,
estaria sempre com a Câmara, nem que fosse para biberonar o elefante caiado,
que de facto é, como expressou o anterior presidente da AEP.
Não imagino
como funcionava a ligação dos vereadores entre si (o Eduardo seria o líder
deles), nem entre a vereação e a liderança PS na Assembleia Municipal, nem
mesmo entre os vereadores e a Comissão Política. Normalmente funcionaria tudo
em roda livre, uma ligação de elos quebrados.
A retirada da
confiança política é absolutamente correcta, acho eu. Quanto à Isabel,
eventualmente também. Mas a conclusão mais imediata é a de que a escolha de
candidatos foi pensada com a cabeça dos dedos polegar e indicador em movimento
friccional.
José Pinto da Silva