terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CORROMPIMENTO TENTADO

Há, não muito longe de nós, um pequeno empresário que, dentro do seu âmbito de intervenção, faz trabalhos para as mais diversas entidades privadas ou públicas, tendo no seu leque de fregueses habituais autarquias locais e, diz-se, a Junta de freguesia de Caldas de S. Jorge (entretanto extinta) foi um dos mais assíduos clientes. Não se sabe se virá a prestar idênticos e persistentes serviços à nova autarquia que engloba S. Jorge e Pigeiros. Tudo isto nada teria de mal, se tudo funcionasse claramente e às claras.
Conta-se, não direi que à boca estendida, mas vai-se falando que determinada entidade (cliente) projectou executar uma certa obra e, porque tal obra iria ter certa finalidade de utilidade pública, foi procurado financiamento a partir de um instituto público ligado àquela finalidade, para o que foi apresentado uma memória descritiva do projecto (parece que não houve peças desenhadas e que até um elemento desse instituto entendeu ir ver in loco que tipo de obra e se era justificado o financiamento. Com a memória descritiva foi um orçamento empírico, naturalmente com um cálculo empolado. Para dar alguma margem de manobra.
Garantido o financiamento, foi o promotor à procura de um verdadeiro orçamento, com preços o mais possível esmagados. E o melhor preço foi obtido junto do tal pequeno empresário, não longe de nós. O certo é que o orçamento apresentado foi algo como 25% menos do que o valor aprovado e disponibilizado para financiamento.
O cliente colocou o fornecedor ao corrente da situação e disse-lhe que ele teria de facturar o trabalho pelo valor do financiamento aprovado pelo tal instituto, mas que só receberia o valor do seu próprio orçamento. “Ó homem, quanto a isso não há stress. E olhe que situações assim tenho-as eu topado agora e ontem, por aqui e em muitos sítios. Esteja à vontade comigo. Como tenho feito com outros, a diferença dou-lha para si em notas corridas. É um mata-bicho, como dizem os brasucas.”
Não quero nada disso. Execute o trabalho. Depois passa a factura pelo tal valor maior e, com a diferença, vai você comprar uma lista de coisas de que se está a precisar e vai trazê-las como sendo uma oferta sua. E fica tudo acertado.
Não tenho nada contra esse sistema. Só que não estava habituado. Normalmente há alguém – o individuo que negoceia, se o cliente é uma entidade colectiva – que se abotoa com essas diferenças. Houve a tentativa de tirar nabos da púcara, a tentar saber quem seriam os habituais abotoadores, mas sem grande sucesso. Em raciocínio directo, facilmente se imagina que só pode ser alguém de alguma entidade pública, nomeadamente, autarquias locais. E, depois, há algum olhar sobre o passado e o presente de algumas pessoas. Há as que há poucos anos nem eram pastores, nem nunca tiveram cabra que mugissem e agora, pouco tempo depois, tendo alguma actividade visível fora do pastoreio, mas de réditos facilmente imaginados, porque bem parcos, aparecem a apascentar um enorme rebanho de cabritos. E lá vem o ditado: “Quem cabritos vende e cabras não tem… de algum lado ele vem”.

José Pinto da Silva



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