quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O NOVO QUIOSQUE DA SÉ. QUIOSQUE?



Em 17 de Julho de 2013, a propósito da hasta pública para a atribuição da exploração do quiosque construído a expensas da Junta de Freguesia, escrevi e transcrevo: “Quanto à hasta pública para a exploração, direi tão só que o Caderno de Encargos (ver no site – por sinal agora não está lá, ou eu não o encontro), ou é leonino e ninguém de bom juízo licitará, ou foi feito com matreirice, destinado a alguém que vai encontrar olhos fechados a todo o incumprimento das imposições impensáveis”.
Antes de avançar, fui ao Dicionário de Língua Portuguesa ver o que se entendia por “Quiosque” e na versão online, do Porto Editora, vê-se a definição: “Pequeno pavilhão ou loja, geralmente nas ruas, largos ou jardins, onde se vendem jornais, revistas, tabaco e outros pequenos artigos; tabacaria”. Outros léxicos referem a venda de refrescos, souvenirs, etc.
Quem passa pelo quiosque cuja exploração foi adjudicada em Julho de 2013 e se lembrar do meu escrito, dirá que bem avisado estava eu quando escrevi que o Caderno de Encargos foi elaborado com matreirice e destinado a alguém que ficaria autorizado a transgredir todas as normas estabelecidas no dito Caderno de Encargos.
Como primeira nota digo que a básica função não é cumprida, porque nem tem jornais nem revistas. Estão por lá um ou dois jornais para iludir quem gostar da ilusão. Vende tabaco. Mas o que se poderia chamar àquilo era de “Sorveteria” e “Lancheteria”. Tem os equipamentos de venda de gelados e tem o grelhador para fazer tostas e outros “comes” confeccionáveis no equipamento. Recordar que no tempo do quiosque antigo, estava montado ao lado outro pavilhão para venda de gelados.
Só pelo exposto fica claro que o Caderno foi feito especificamente para quem haveria de vencer a hasta, isto é, foi feito com matreirice. Ganhou a exploração quem o dono da obra e cedente da exploração tinha já determinado que seria o ganhador.
Mas … pior ainda é que, no verão, e fora dele, em dias bem solheiros, todo o espaço do passei em frente ao quiosque é tomado por mesas e cadeiras, constituindo uma esplanada que, não estando nem sequer insinuada no Caderno de Encargos, se tinha quase a certeza de que seria montada. E tudo isto na cara de quem diz que quer defender e defende o interesse público e do público.
No mesmo escrito de 17 de Julho/013, no último parágrafo escrevi: “No que concerne a hasta pública, voltarei a abordar o tema. Quanto à construção – denunciei várias vezes vários desmandos no processo – e não publicitação de dados – concurso, regulamento, caderno de encargos, contrato de adjudicação, etc. – esta prosa será encaminhada para a DGAL e para o MP para procedimento como entendam”.
Foi efectivamente enviada para aquelas entidades tutelares, mas, ao que sei, tanto valeu como nada. Porque terão mais que fazer. Agora no que respeita à ocupação indevida do passeio para “fabricação” de esplanada, como passeio é espaço público municipal, espera-se que a Câmara Municipal tome o caso a peito e impeça tal desmando. E quanto ao incumprimento das funções previstas no Caderno de Encargos da Exploração, talvez a Câmara possa dizer a quem devia fiscalizar e não o faz que deve passar a fazer o que deve. Sem fretes.

José Pinto da Silva


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

COSTA DA MEMÓRIA, de JOAQUIM MAGALHÃES CASTRO



Não vou apresentar o livro, no verdadeiro sentido do termo. Vou mais falar do autor, da honra que temos, todos, de o ter como nosso conterrâneo. Falar dos meandros do livro será tarefa dele, do autor.
Tive já o gosto e a honra de, por três vezes, estar nesta posição e com esta função, sentindo que, cada vez mais, é para mim lugar em que não caibo. O QUIM Castro cresce em prestígio, em capacidade, em obra exibida, conseguiu misturar-se com grandes nomes das letras, acolhido que foi por este editor, ao passo que eu tenho só a filia pelos livros e bastante prazer em lê-los e muita alegria em folheá-los. Não consigo crescer na capacidade de dar ao autor e à sua obra as suas dimensões intrínsecas.
Recordo, citando-me e citando quem nos é caro a todos (a sua memória, porque há anos que partiu) que, conhecendo há anos, muitos anos, o alfabeto e conhecendo alguns milhares de palavras, não sou capaz, mesmo tendo lido bastante, de alinhar letras e palavras de modo a, como consegue o QUIM Castro, fazer uma escrita fluida, fácil de ler e entendível por todos. Ele, ponderado e humilde como é, sentirá algo de similar, se e quando ler Camilo ou Aquilino.
Os diversos livros do JOAQUIM Castro têm um fio condutor comum. Descrevem, em linguagem escorreita, as suas viagens pelas diversas paragens do mundo, mostrando em palavras tudo o que por lá haja e que exiba sinais da passagem de Portugueses. E os Portugueses passaram pelos cinco continentes e em todos deixaram a sua arte, na arquitectura (habitacional, eclesial, fortificações, palavras, nomes próprios, apelidos e, se parcos nessas artes, deixaram a mais notória das invenções: É dito que se deve aos Portugueses a raça intermédia entre o branco e o preto. Será de nossa criação a raça mulata e mesmo outras misturas raciais, porque o português sabe ser carinhoso e, desse carinho ….
Mas, além de grande narrador de viagens, além de ter olho de lince para tudo quanto sejam sinais de portugalidade, o QUIM, também por necessidade documental, tornou-se um fotógrafo exímio. As suas imagens confirmam, de forma cabal, o que diz em palavras.
Este livro que hoje nos trouxe cá, tendo como cenário o norte de África, contém algumas fotos que, tendo fixado objectivas africanas, nos fazem lembrar locais e monumentos do Portugal ibérico. Outra coisa que, reiteradamente reporta nos livros e de que, a propósito, se fala, é o facto de as autoridades portuguesas, da área da cultura e da expansão da língua, não investirem mais, muito mais, na preservação dos vestígios, alguns colossais, da passagem e estada dos nossos antepassados pelas paragens mais inóspitas do globo. A ponto de outros, mais atentos, se estarem a apropriar de culturas que são nossas. Oxalá a nova equipa do poder cultural seja mais atento a esse fenómeno.
Disse atrás que o QUIM Castro topa as coisas e fenómenos, pessoas e movimentos com olhos de lince, não só os vestígios dos portugueses de antanho – alguns fixa-os na câmara -, mas o que me impressiona e me faz considerá-lo um bom escritor, é a subtileza, o detalhe com que descreve as coisas, como se apercebe das coisas e fenómenos e como consegue pôr-nos a ver e a sentir as mesmas coisas. Costumo dar como exemplo de capacidade descritiva um escritor de língua lusa que, na obra “Pastores da Noite” (se não estou em erro), descreve uma mulata a bambolear-se no calçadão e fá-lo com tal minudência que nos dá a sensação de estarmos a ver os movimentos de nalgas da boazona.
Sem ter tido o cuidado de ver de que capítulo, vou apontar três ou quatro casos representativos: a) Alguém se lembraria de referenciar, em livro, uma máquina que o JOAQUIM Castro apelidou de “Máquina de fazer ruído” e que era uma motorizada, modelo V5, que existiu por cá e que ele viu e sentiu algures por onde passou nop norte de África. b) A descrição da compra de bilhetes para o autocarro, com a intervenção dos açambarcadores que, impedindo a chegada às bilheteiras, onde porventura já não haveria alguns disponíveis, procuravam vender por mais alguns cêntimos. A fazer lembrar o que, tempos atrás, ocorria por cá com a venda de ingressos para alguns jogos de futebol mais importantes; c) A atenção com que, em certa cidade, apreciou a quantidade de carrinhos de bebé na rua. Sinal de bom índice de natalidade; d) No norte de África (os mouros eram de lá) havia muitos corsários, piratas que atacavam embarcações e, parece que, em certa época, havendo por lá pouco que atacar, vieram atacar na foz do Tejo. Quando eram vistos berrava-se: “Anda Mouro na Costa”. Expressão que agora se diz por cá, quando algo de suspeito ocorre e que indicie anormalidade; e) Quem se lembraria de reparar que os polícias andavam todos com fardas largonas, dando aspecto ridículo. E, por falar em polícias que regulavam o trânsito, metiam-se com todos a propósito de tudo e de nada, para se fazerem à gorja; f) Vejam como está descrito o martírio a que foram sujeitos os prisioneiros portugueses depois do desastre de Alcácer Quibir; g) Como analisa a gastronomia de cada localidade: os ingredientes, a confecção e os sabores; h) A descrição das maldades feitas ao Infante Fernando, mesmo ao seu cadáver; i) E como se apercebeu que determinada personalidade tinha óculos de aros grossos e ar de cientista; j) Como se apercebeu e descreveu que, a caminho do Atlas, havia muitas águas sulfurosas e topou uma fonte para beber, porque era muito boa para os rins; k) Em certa região há um arbusto chamado “Schiba”. Um xarope feito com folhas desse arbusto funciona como psicotrópico e dá “moca”. Será por isso que, por similitude, quando alguém se “encopa” e se passa dos carretos se diz: “Estás c’o a chiba”; l) Refere uma boa praia pública, mas onde se havia que pagar 200 Dirham para a frequentar; m) Para encerrar, só lembrar quanto sacrifício é preciso para correr mundo, para colher fontes, para livros, para artigos ou reportes filmados. Para fazer história, enfim. Reporta a tempestade de pó fino vindo do deserto que lhe penetrou nos pulmões, ao ponto de fazer sangrar. Tentativa de cura com mèzinhas locais, mas com cura somente num médico que só conseguiu em Dakar. Fim da viagem.
E fim destas notas que se dispuseram escutar. O QUIM poderá falar com rigor do conteúdo do livro e, para tal, lhe passo a palavra.

José Pinto da Silva
(plasmado aqui o que por mim foi dito, de improviso, suportado nalgumas fichas 
orientadoras, na apresentação do livro em assunto, em 17 de Dezembro de
2015, no Átrio das Termas, em Caldas de S. Jorge.)


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME


Ocorre duas ou três vezes por ano a grande recolha de alimentos junto dos supermercados, grandes e mais pequenos e, o que me impressiona verdadeiramente, é a mobilização de mais de 40.000 pessoas que se voluntarizam para promoverem a recolha e depois a separação e armazenamento das, em média, 2.500 toneladas de alimentos. Talvez até nem chegue para os objectivos propostos, mas é um volume muito significativo.
Passei por um ponto de recolha e fez-me pensar. Qual o valor total destes donativos que os que podem um pouco mais cedem para os o podem menos, ou não podem nada? Será um valor de grande monta. Mas .... enorme absurdo! porque é que, sendo oferta pura, o Estado não prescinde do IVA sobre os donativos? Então o Estado é que é obrigado a dar o mínimo vital ao povo todo e, ao contrário, lucra com a generosidade dos doadores! Mas... os preços facturados pelos comerciantes são os mesmos que os que os doadores levam para si. Qual o montante de lucro que auferem os supermercados pela venda dos bens doados? Deve ser um manado de dinheiro! Não seria bonito se os bens a serem doados fossem facturados ao preço de custo efectivo? E já agora! Toda a estrutura do tal Banco Alimentar é, efectivamente, voluntária? Não há por ali, dentro de uma escala hierárquica, muita gente que faz da actividade de "voluntariado" uma profissão? E havendo, qual o nível de remunerações? Será que a senhora Isabel Jonet - a que diz que os pobres portugueses não são assim tão pobres . não cobra salário? E se cobra, quanto cobra? Motivos para pensar..

José Pinto da Silva