Sempre assim
foi, mas nos tempos mais recentes, o Partido Comunista e seu apêndice que qual
melancia, nascido com a barriga no chão, pelas declarações, intervenções onde
haja microfone e autocarros alugados, lá põe o líder, ou um dos canários recém
promovidos a porta-voz a dizer umas coisitas do governo e dos partidos que o
suportam e apoiam, para, logo de seguida e de rompante, se atirarem ao PS, como
gato a bofe.
Ouvi a
entrevista de ontem do camarada Jerónimo ao Vítor Gonçalves na RTPI e a
conclusão imediata é a de que, a falar de palanque, com a certeza de não
contradita, o homem debita toda aquela série de frases preparadas, muitas delas
repetidas até à exaustão. Numa entoação muito parecida com o pregador no
púlpito de qualquer ermida. Mas no debate, se o interlocutor for atento e
assertivo, o camarada líder torce para todos os lados e, claro, mete os pés
pelas mãos. E ontem fez-se prova a tornar-se paradigma. Fez rir a resposta que
deu à pergunta se o PCP não se arrependeu de ter votado contra o PEC4. Tremeu,
tossiu e disse que continha medidas austeras para o povo e para os
trabalhadores. Mas esqueceu-se, como se esquece sempre que está por perto o PS,
que após a queda de um governo PS, só pode vir pior, porque virá sempre o PSD,
amparado, ou não, pelo CDS. Porque o PCP nunca é, e não será a prazo visível,
alternativa de poder ou mesmo de condicionamento de qualquer poder. O camarada
não será muito dado a leituras, que as coisas lhe são migadas pelos intelectuais,
mas que se informe sobre as diferenças entre os conteúdos do PEC4 e do
Memorando. É sabido, até pela prática nos 39 anos de democracia, que o PCP, de
entre o PS e qualquer partido de extremíssima direita, opta por este em
detrimento daquele. Sabe e usa que entre o PS e o PCP andam muitos milhares de
eleitores flutuantes e o PCP guerreia por esse mercado, mais do que a Coca
tenta roubar à Pepsi..
Li o APELO, li
os 5 EIXOS e li (depois de o ter ouvido) o discurso de apresentação dos
objectivos. Claro que não disse nadíssima de novo, até mesmo a redução de 50%
do empréstimo da troyka. Poderia muito bem dizer de forma explícita que querem
a saída do euro e, quem sabe, da UE. O programa definitivo virá lá para Julho. Foi
dito e está escrito. Isto, a destempo e nada anunciado, foi a tentativa, claro
que frustrada, de desviar as atenções da proposta de Programa Eleitoral do PS,
esse elaborado, ponto por ponto, com ideias claras, ainda que sujeitas a uma
que outra limadela em função de achegas que podem ainda ser enviadas. O
Programa definitivo será tornado público numa Convenção marcada HÁ MUITO para o
dia 6 de Junho. Pois a reaccionarite do PCP levou-o a convocar para esse mesmo
dia o que ele chama “Marcha Nacional” desde o Marquês ao Rossio, com transportes
garantidos de qualquer ponto do país. É esse o APELO. Curiosamente, o governo
também anunciou, para o dia 5, o cerimonial macabro da (eventual) venda da TAP.
Foram aliados no PEC4 e são-no agora outra vez. Aliados no objectivo.
Vamos
recordar. O governo escreveu no PEC de Abril que será necessário cortar 600
milhões nas pensões. Corte definitivo e sem retorno. E para desmentir o
desmentido da ministra Swap, basta ouvir o comentador Marcelo. A reacção do PS
foi, de imediato, que não concordava e que se recusava a qualquer discussão
estando essa proposta na mesa. Pois o camarada Jerónimo, numa qualquer
intervenção, falou disso, criticou o governo, mas insinuou um “arranjinho”
entre governo e PS para se concretizar esse corte. E Jerónimo tinha a certeza
de que o PS, também pela voz de António Costa, tinha declarado que nem sequer
discutiria a sustentabilidade, estando essa proposta para discussão.
Na
apresentação dos objectivos aparece treze vezes o “patriótico e de esquerda”,
referindo-se a governo, programa, política ou alternativa. E carece de
explicação. Se for diferente, no que quer que seja, do proposto pelo PCP deixa
de ser patriótico? Que conceito tem o PCP de patriotismo? Quanto a ser de
esquerda, até aí pode haver questionamento. Ou será mais canhoto do que de
esquerda?
José Pinto da Silva