sexta-feira, 28 de maio de 2010

Procura Activa

OLHE, NÃO PONHA DATA
Numa das cenas correntes de gente que anda a comer subsídio de desemprego, em determinado estabelecimento, com diversas pessoas dentro, uma “desempregada” que seria de fora da terra, entrega ao gerente um papel onde os empresários que alinham na marosca colocam o carimbo e a assinatura a “confirmar” que dita pessoa esteve ali a procurar trabalho. Foi nesse entretanto que a “procuradora” de trabalho gritou para o escritório e disse: “Olhe, não ponha data”. E pergunta-se porquê não pôr data? Porque se sai pelas freguesias e colhem-se assinaturas para o ano todo.
Já uma vez dei nota desta autêntica tramóia e verberei o facto de os empresários, pequenos ou grandes, alinharem neste autêntico esbulho dos dinheiros públicos. É que um serralheiro não vai pedir a assinatura a uma serralharia! Pode ocorrer que o homem lhe diga que pode começar a trabalhar e isso é que eles, os “desempregados” não querem. Os serralheiros, corticeiros, pedreiros e quejandos vão procurar emprego a cafés, padarias, farmácias, etc.
Não seria interessante o Centro de Emprego fazer uma estatística indicando quantas assinaturas cada estabelecimento apôs, ramos de actividade e profissão do requerente. Durante um ano, por exemplo. Teríamos dados muito interessantes mostrando onde cada qual vai exercer procura activa de emprego. Chuchadeira!
Os jornais de hoje apontam que no subsídio de desemprego há cerca de 31% de fraudes. E ninguém se preocupa. Preocupam-se quando, para fazer receita, atiram às cegas para todos. E diz-se também que no RSI há cerca de 14% de fraudes. E poucos se preocupam. Sendo cerca de 400.000 os beneficiários e sendo aceitável a denúncia, há 56.000 que estão a roubar o Estado. E, também aqui, ninguém se preocupa.
ECONOMIA DE MINA
Diz-se que na no tal da economia portuguesa, cerca de 22/23% é subterrânea, ou paralela. E disso todos sabem. Sabe o fisco, sabem os economistas, sabem os deputados e sabem os governantes. E todos sabem qual quais são os métodos que usam. Para as empresas legalizadas (claro que não generalizo), funciona o princípio da factura falsa/fictícia que permite acrescer custos, baixar benefícios e dá conforto ao caixa para pagar horas extra sem contabilização, produtos comprados sem factura para evitar o IVA. Casos há em que o caixa dois, ou saco azul, anda quase sempre a abarrotar. Para os estabelecimentos servidores de consumidor final (venda ao público), sabe-se que cada qual regista e contabiliza o que entender, na medida em que também consegue comprar sem factura quase o que quiser. Disseram-me até que os fornecedores informáticos vendem software que se regista tudo para controlar os empregados, mas no fim do dia, selecciona os casos em que foi feito recibo/factura para entregar ao cliente (poucos o pedem/exigem) e anula todos os outros. Estabelecimentos há, por ex. de restauração, em meios rurais, que conseguem funcionar sem ter feito uma factura de hortaliça. Compram-na aos lavradores locais que vendem mais barato e não têm factura. Houve um caso, contaram-me, de um estabelecimento que, na apresentação de contas, não apresentou uma única factura de carne. E os escritórios em que toda a receita de serviços a particulares entre para o saco. E há os futebolistas que militam nos clubes distritais e que auferem, às vezes, remunerações de algum vulto e que sai sempre por baixo da mesa. E há as Associações Culturais e Recreativas que, além de não pagarem impostos, fazem funcionar as coisas via saco azul ou doutra cor. E quantos serviços menores são prestados, geram sempre receita e não provocam qualquer declaração susceptível de tributo. E não falando nas enormíssimas receitas da prostituição, praticada às escancaras, com publicidades insistentes e tudo a funcionar por baixo. E bandas e pequenos artistas que actuam e geram receita e nada é declarado (parece que mesmo os famosos se baldam em quase tudo). Enfim, é um fartar vilanagem e todos sabem, porque vivem neste mundo.
PRESIDENTE BANANA
Quando uma pessoa, e sobretudo tratando-se de pessoa com grandes responsabilidades, não é capaz de levar as suas convicções até ao fim, merece o cognome de banana, poltrão, medroso. Foi tudo isso o Presidente Cavaco Silva ao promulgar, sem dar luta, a lei dos casamentos de pessoas do mesmo sexo. Porque não admitiu que poderiam muitos deputados, não se tratando de problema ingente, fizessem a lei cair na gaveta dos adiamentos, para, aí sim, não dividir a sociedade portuguesa em tempo de tanta crise. Fez um intróito a indicar uma coisa e decidiu ao contrário. Foi banana.
MOÇÃO DE CENSURA
Repararam todos que o PCP só decidiu apresentar a moção de censura – se aprovada faria cair o Governo – depois de ter a certeza certa de que ela seria rejeitada com o voto contra, ou abstenção do PSD. E, claro, sabia que aproveitaria o tempo da discussão em parlamento para servir de tempo de antena a promover e publicitar a manifestação, dita da CGTP. Gostaria que fosse tornado público quem vai alugar os autocarros e pagar toda a logística dessa manifestação. Aplica-se o ditame leninista de que os sindicatos são as correias de transmissão dos partidos.
MANUEL ALEGRE
Quando isto sair a público já está decidido se o PS apoia o Alegre enquanto candidato a PR. Parece inevitável que Sócrates está encostado à parede e não pode escolher outro caminho. Outro candidato credível não encontrará e não apoiar nenhum será algum abaixamento para um partido que está no governo. Mas fica-me, ao menos o consolo de que muitos autarcas e muitas federações já disseram frontalmente que não o apoiarão. Eu também não.

José Pinto da Silva
Comentários
0 Comentários