quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ELES QUE SE ...

Ó ti coisa, adonde vai com essa sacaria toda!? Ora adonde é que eu hei-de ir! Vou levar isto ali além, como é que se diz? Ao ecoponto, àqueles caixotes grandes que tem um p’ra cada coisa. Ora, ora, mande-os p’ro diabo que os carregue. Eles que se niquem, que separem eles o lixo. Eles até dizem uma palavra complicada. Que reciclem eles. Atão anda a gente a separar tudo lá em casa, a levar aos contentores duas ou três vezes por semana, longe com’o caraças, olhe que da minha casa aos contentores conta-se quase um quilómetro! E esses tipos aparecem-nos agora com uma factura todos os meses de € 5,50 dizem qu’é p’ro lixo, ou por causa do lixo.

Que se niquem. Agora vai tudo nos sacos que ponho dependurados lá à porta. Ele é papel, ele é garrafas ele é a plasticada toda, são os restos da comida, são bichos mortos, quando os há. Enfim, tudo o que estorvar lá em casa entra p’ros sacos. Eles que se niquem! Eles sempre amandam tudo p’ro buraco! É, não tenha dúvidas, tudo o que entra naquele carro dos lixeiros que até tem uma pás para irem puxando a carga mais p’ra frente, tudo o que ali entra é descarregado lá no buraco, em Gaia e dizem por’i que mais tempo menos tempo vai ser p’ra um buraco inda maior que vão fazer ali p’ros lados de Canedo. Eles que o separem, qu’eu por mim estou-me lixando!

Parece-me que tem sido um deus-me-livre lá na Câmara de gente a reclamar por via da factura do lixo ou p’ro lixo, porque o povo não se convence e faz por lá um escarcéu danado. Uns vão ficando convencidos e pagam, outros lá vão dizendo que pagam mas é o tanas. Não sei. Eu por mim tenho pago, o meu homem diz que não quer chatices, mas vingo-me não separando mais nada.

Desde há anos, foi no primeiro governo Guterres que, para eliminação dos milhares de lixeiras clandestinas (à vista de todos), de lixos domésticos, mas também industriais (banais e muitas vezes perigosos) se optou pela disseminação de aterros, em detrimento da incineração, que muito boa gente defendia como mais barata e expedita forma de eliminação de resíduos banais. Recordar-nos-emos da discussão de opções, quando se chegou a prever a instalação de um incineradora dedicada em Estarreja, processo que tinha o acordo do então Presidente da Câmara. E, segundo a minha capacidade de analisar a situação, interrogo-me do porquê não se foi para a eliminação dos lixos pela via da queima. Parece ser opinião generalizada e consensual que, em termos de custos imediatos de eliminação, o processo de queima ficaria mais barato e que a estrutura inicial (queimadora vs aterro sanitário) ficaria favorável para a incineradora.

Não virão dizer que é por causa do envio de emissões de fumos e gases para a atmosfera, porque temos enormíssimas emissões de queima que ninguém controla, umas, e outras instaladas, várias para incinerar RSU, uma para queimar resíduos hospitalares (instalada quase na baixa lisboeta), as construídas para queimar resíduos florestais (e seriam precisas muitas mais). Das que ninguém controla, temos primeiro e acima de tudo, a queima de centenas de milhares de hectares de floresta todos os anos e toda a gente lamenta a queima da riqueza arbórea, mas não se fala nas emissões de fumos e gases para a atmosfera que os incêndios produzem e temos as emissões das centenas de milhares de lareiras domésticas que espalham o conforto nos lares do país.

Incontroláveis são também as emissões das indústrias, umas mais nocivas do que outras e as emissões dos milhões de escapes das viaturas que circulam pelas estradas do país.

Que percentagem de resíduos coligidos pelo país é destruído por queima e que percentagem é despejado, sem praticamente triagem, nas profundezas do aterro? Que espaço é preciso disponibilizar para construir um aterro e o espaço para instalar uma incineradora? De uma maneira ou doutra, há aproveitamento energético (produção de energia). Qual dos sistemas produz mais e resulta mais barato? A sustentação de um aterro fica mais caro, ou mais barato do que a manutenção em funcionamento de uma queimadora dedicada? Qual dos sistemas provoca mais incómodos para as populações? Se, porventura, a incineração é mais prejudicial ou menos lucrativa, por que razão o encaminhamento da maior parte dos RSU produzidos na grande Lisboa vai para a queima?

Não tendo conhecimentos específicos sobre o tema, para além de algo que vou lendo, defenderia que se acabasse com a construção de aterros, se promovesse a reciclagem, criando alguns incentivos que favorecessem os recicladores, promovendo mais e mais o princípio da reciclagem junta das escolas e todo o resto ser incinerado. Lembrar ainda que as cinzas da incineração passaram a ser aproveitadas para a produção de massa asfáltica. Eu acho! José Pinto da Silva

Nota: Vi há dias um crédito numa factura da Indáqua

que me fez sorrir: Depois de um débito de 8

euros e tal referente a Saneamento Básico, vinha

um crédito de € 1,95 “por não tratamento dos efluentes”

Quer dizer. O cliente paga cerca de € 7, para mandar

trampa p’ra linha de água mais à mão.

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