sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A SAÚDE ESTÁ PRIMEIRO

Este aforismo era muito ouvido e muito praticado aqui há muitos anos. Sabia-se da dificuldade de obter cuidados de saúde na Caixa, para os poucos nela inscritos, e então cada qual amealhava todos os tostões disponíveis para cumprir o aforismo, logo que que chegasse a necessidade.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS), instituído nos finais dos anos 70 veio dar uma viravolta na situação e o princípio do “universal e gratuito” gerou uma imensa euforia e abriu também a entrada ao abuso, ao descontrolo e ao excesso de custos, males que foram afrontados com medidas adoptadas pelos sucessivos executivos. Conta-se que na institucionalização do SNS, certo militante dos “direitos” ao ser inquirido a razão da sua ida à urgência do hospital, de que se queixava, respondeu que se não queixava de nada e que fora ao médico porque tinha o direito.

As situações de exagero foram sendo algo remediadas com a adopção das taxas moderadoras que terão diminuído o recurso à urgência desnecessária ou prescindível. Mas ….. a partir do próximo ano, começaremos a, com propriedade, alterar o aforismo e dizer que A SAÚDE ESTÁ DOENTE e passará a não ser a primeira preocupação de uma multidão de cidadãos.

O que se aponta para politica do medicamento que, com o corte de rendimentos, mais crescimento de custo de vida tornará a vida inafrontável pelas pessoas de receitas mais modestas, mais a reformulação da política de taxas moderadoras, com propostas de cortes das isenções mais ou menos a esmo, mesmo para pessoas com doenças crónicas não pode deixar de aterrorizar quem sofre.. Todas as doenças crónicas são terríveis, exactamente porque são crónicas, mas vou abordar a DPOC, não por menos consideração por todas as outras, mas porque me cerca de perto.

Dizem a estatísticas que, contando-se com os subdiagnosticados, haverá em Portugal cerca de um milhão de doentes com a doença obstrutiva crónica e que provocam muitas dezenas de milhar de internamentos hospitalares, que muitas poderão desenvolver-se para o cancro pulmonar e que, em 2008, morreram quase 3000 pessoas em consequência directa da DPOC. Em 2010 as doenças respiratórias foram responsáveis por 12% dos óbitos em Portugal e atinge os 15% se lhe forem acrescidos os óbitos por cancro do pulmão

A forma mais expedita de reduzir os custos hospitalares e, genericamente, os custos com a saúde, neste caso específico, seria criar condições para que toda a população de risco, as expostas, ou que o foram, ao fumo de tabaco e a outros ambientes tivessem acesso rápido a rastreios e exames auxiliares de diagnóstico, que os diagnosticados, fumadores, tivessem consultas de desabituação, com comparticipação na medicação específica e que os já tomados pelo DPOC pudessem dispor de mais Centros de Reabilitação Respiratória, a forma mais expedita e célere de estancar a evolução do mal e de dar melhor qualidade de vida e a forma de evitar os internamentos e/ou de os encurtar no tempo. Além da melhoria dos preços dos tradicionais dilatadores, dos quais não há produção de genéricos.

A política de saúde, actualmente, parece ser a de embolso rápido e em força e, saberemos lá se a medida ironicamente preconizada pela Bastionário da OM não seria a de maior agrado para os actuais gestores das finanças da saúde. Porque a saúde, ela mesmo, não está a ser gerida. Dizia então o Bastionário que tratar as doenças respiratórias implica gastos de cerca de mil milhões/ano e que as receitas do tabaco atingem mais de mil e quinhentos milhões, donde o melhor seria recuar algumas décadas, incentivar o consumo do tabaco para mais quantidade e a começar mais cedo. Os impostos cobrados aumentariam exponencialmente e os doentes morreriam muito mais depressa, deixando de consumir consultas, remédios e hospitalizações e deixando de receber reformas.

A tirada irónica não passa disso, mas bem poderia ser motivo de meditação para quem parece ter tatuado na retina o símbolo do euro (€).

José Pinto da Silva

(com DPOC)

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