sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

VENDAS AGRESSIVAS

Acho que toda a gente que tenha telefone fixo recebeu já várias vezes chamadas de voz melíflua dizendo que representa uma qualquer empresa em campanha de divulgação do nome e/ou da marca e que o contactado foi sorteado e bafejado com um prémio de valor atractivo. Bastará responder a uma pergunta (dar uma de duas respostas) e, se acertar, tem logo e automaticamente direito ao anunciado prémio. Claro que ganha qualquer que seja a resposta dada e ouve logo, parabéns, acertou e ganhou o prémio que temos para lhe oferecer.

Para receber o prémio terá tão simplesmente de, junto com o respectivo cônjuge, (malapata do caraças que para receber um prémio que ganhou têm que ir sempre marido e mulher) a um local que é indicado. E, para dar ar de seriedade, indicam um número, espécie de senha, que, no local deve indicar a um fulano/a cujo nome evidenciam. Enfatizam que não querem vender nada, mas tão só dar a conhecer o nome da empresa e a marca e distribuir prendas a torto e a direito.
Lá chegados, os casais são bombardeados, por agentes bem treinados na técnica de lavagem de cérebros (já ouvi que alguns drogam as pessoas com bebidas que, muito solicitamente, oferecem) e insistentemente instigados a que comprem determinado bem, normalmente bastante caro ( a presença do casal é para vincular ambos com assinatura em contratos de compra). Assinado este, aparece logo novo contrato com empresa de cedência de créditos, porque estes vígaros só vendem a prestações.

E há quem caia (ou seja empurrado para a queda). Diz a lei que o contrato de compra pode ser rescindido no prazo de 8 dias depois de assinado, mas, mesmo que seja anulada a compra, fica o vínculo à contratação do crédito e, mesmo que as pessoas se lembrem, ao contactar a empresa que deu o crédito, ou ninguém atende, ou ouve que o assunto não é com eles, mas que tem que ser tratado com a empresa que vendeu o bem. Que, por sua vez, diz que a venda está anulada e que o resto nada tem a ver com eles.
Estou a falar do que sei, porque já lá fui duas vezes. Numa vez dei corda à bella ragaza que me tentou vender o peixe e pareceu que estaria tombado. Mandou logo chamar o técnico que formalizaria o contrato. Deixei-o vender algum peixe e disse-lhe, mais ou menos assim: “ … vou conceder que esta peça é tão boa como dizem, que cura todos os males de costas e rins (era um colchão a que davam outro nome) e concedo que valha, à vontade, o preço. Tratava-se de coisa à volta de cerca de 500 contos à época. Mas permitam-me que diga que os promotores desta coisa não entendem nada de marketing e promoção de vendas. Porquê? Porque não souberam escolher os contactos. O colchão será bom, trar-me-ia benefícios, mas eu não tenho nenhuma hipótese de pagar, porque o meu orçamento é estritamente à certa. Um bom promotor deveria ter feito melhor o trabalho de casa e chamar só quem tem algum meio de satisfazer o contrato. Sei que depois penhorariam salários ou reformas, mas … era muito mais complicado. Boa noite e passe bem. E deixou a mesa e eu não recebi o prémio prometido”. Doutra vez, logo que apontaram para vender objecto idêntico fiz estardalhaço, tendo ido até ao insulto com impropérios de toda a roda, dada a insistência. E chamei a atenção para todos quantos estavam na sala (cheia) e inúmeros casais que estavam na rua à espera. Deram-me um papel para levantar o prémio que se reduziu a 6 minúsculas chávenas de café, que ainda tenho.

Agora, quando contactado, solto uma ou duas bojardas e digo sempre que conheço o Dec.-Lei 57/2008 e que deixem de importunar quem está sossegado.

A propósito de agressividade nas vendas, (?) não se entenderá que a forma insistente, abusivamente insistente, como as TVs (as privadas), em quase todos os programas incitam as audiências a que telefonem para um número de Valor Acrescentado (preço fixo de cada chamada) a pretexto de possível sorteio do número de telefone para atribuição de prémio, em numerário ou não, merece a classificação de Venda Agressiva? Ultimamente, nas últimas semanas, parece ter ocorrido alguma morigeração por banda das apresentadoras dos diversos programas, mas mesmo assim, em tempos de necessidade de poupança, as TVs não dão grande exemplo.

José Pinto da Silva
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