AS
PROPOSTAS FISCAIS DA CGTP
O Secretário-Geral da CGTP, no rescaldo
do estrondo causado pela queda da TSU, diz que não aceitará, e merece o apoio
da generalidade, mais carga de cortes nos salários e pensões. Em alternativa
enumera algumas fórmulas de coligir cerca de € 6 mil milhões, o que resolveria,
com sobra, o défice de 2013.
Quer ele que a crise do défice seja
colmatada pelo lado dos rendimentos financeiros e terá o apoio da generalidade
e até houve quem dissesse que mesmo Vítor Gaspar concorda com ele. Eu acho que
só em prosápia. A tributação de 0,25% sobre as operações financeiras, julgo
querer referir-se aos movimentos em bolsa, sobretudo operações de compra/venda
de acções e obrigações. Faltará saber qual a consequência que advirá para o
mercado e se não passará a valer a pena directamente com mercados exteriores.
Como estamos em regime experimental em matéria de politica fiscal, seria mais
um item.
A tributação adicional em IRC, de 33,33%
para empresas que facturem mais do que 12,5 milhões de euros poderá não ter
qualquer efeito. O IRC é calculado na base do lucro e o facto de facturar não
importa quantos milhões não significa que haja matéria colectável. Mal posta a
proposta, portanto.
A carga adicional de 10% sobre proveitos
financeiros (juros e dividendos) também deve ter sido mal estudada, se posta da
maneira que foi. É do senso comum que há muitas dezenas de milhares de pessoas,
de modo geral idosas, auferindo pensões de reforma miseráveis, mas que,
enquanto no activo, foram poupando ao longo da vida, quais formigas, e têm
agora alguns milhares de euros, cujo rendimento complementa a pequenez da
reforma. Esse rendimento já é tributado com 26,5% que é logo retido na fonte.
Quererá a CGTP que lhes roubem mais 10%? O mesmo se põe para quem, com as
poupanças, optou por aplicar em acções de certas empresas que distribuem melhor
dividendo. Está, pois, muito mal colocada a proposta. A CGTP deveria sugerir –
claro que ninguém lhe ligaria nenhuma, e mais neste campo – que o imposto sobre
rendimentos financeiros fosse progressivo, ficando isento de qualquer tributação
até determinado montante de rendimento. Não esquecer que um rendimento de
trabalho de € 7 000,00/ano (salário mínimo x 14) não paga qualquer imposto. O
mesmo rendimento, fruto de aforros feitos com suor e sangue, deita retido na
fonte em IRS € 1855,00 (26,5%) e propõe agora que supostamente defende os mais
frágeis, quer que lhe tirem mais € 700,00. O Gaspar não faria pior. Além do
imposto progressivo, que legislem no sentido de esses rendimentos passarem a
ser de englobamento obrigatório. Claro que não imagino o que tal medida
representaria em encaminhamento de capitais para o exterior e, nesse caso, lá
se partia o nariz no gesto de se benzer.
José Pinto da Silva