Deus pede estrita conta de meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta e não há tempo.
Oh! vós quem tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
chorando, como eu, o não ter tempo.
(Soneto do Século XVII. Obra prima de trocadilho
por António Fonseca Soares - Frei António das Chagas)