E se fosse
mesmo uma realidade ficta? Ou uma ficção ficcionada para simular uma realidade? Fica para a fertilidade imaginária de cada leitor.
Tinha a Sylvie,
tida por Fat Barba, acabadinha de chegar de Sergipe, a cisma de que haveria de
ser empreendedora na área do comer. E beber. Então alguém lhe disse que havia
uma instituição (ao nível de caixa baixa)
ligada à agricultura que arranjava financiamentos para quase tudo:
restaurantes, hospedarias, escritórios, lares, etc. e que, com algum jeito e
alguma cunha até se conseguiria que o projecto económico/financeiro e até, se
fosse caso de coisa nova, o boneco arquitectural fossem escritos e riscados por
órgão público. À borla.
Andava ela
nesta deambulação mental, e mesmo física, quando, indo já longe, parou num
sítio à beira de um pequeno rio, em povoação lá mais abaixo, longe do seu
torrão. Terreno REN ou RAN, disseram-lhe, (e o que seria isso?) propriedade
pública e que, mais ou menos cunhada, a respectiva tutela esquece a Ren ou Ran
ou o que é, e mesmo a zona de alagamento. Falhanço de memória proporcional à
pressão do cunhal.
Pensamento da
Sylvie: o terreno é público, ao que se diz, Ren ou Ran e perto de linha de
água, decerto não vendem, e será que arrendam? Vamos sondar. Directamente, sem
intermédios influentes. Eu era capaz de empreender no vosso terreno ali em tal
sítio! Ainda é um investimentozito que se veja e, então proponho que vocês
arrendem aí por 25/30 anos, sem renda e no fim fica tudo para vocês, e podem
fazer outro contrato de arrendamento noutras condições, com os mesmos ou com
outros.
Já agora, como
vocês têm muita gente capaz e decerto com disponibilidade, fica de vosso
encargo a execução dos projectos, à vossa maneira, os escritos e os riscados,
claro que com dicas deste lado. E a propósito, vocês encarregam-se de escrever
o projecto económico para formalizar a candidatura ao financiamento por banda
do tal organismo agrícola. O orçamento, a previsão do total a investir, tem de
ficar com uns amigos que a Fat Barba escolheu. Bom negócio! Congeminaram os
“donos” do terreno. Sempre não servia p’ra nada, se fosse privado nada se
poderia ali meter, mas, sendo público fácil será ignorar as agências que, às
vezes, têm o vício de meter o nariz onde não devem. Nem se lhes passa cartão e
o mais certo é que nem cheguem a saber. Se não foram alertadas.
Vamos a isso
então. Abre-se um concurso p’ra parecer, porque já se sabe o resultado. Faz-se
o projecto arquitectural e das especialidades, aprova-se até antes de ser
apresentado, se preciso for, escreve-se o tal projecto económico que acabará
por ser apreciado e aprovado, praticamente, por quem o faz. O edifício terá
sempre as suas limitações de espaço útil, porque vamos pensar muito no público
visitador. Tudo coberto, pouco mais de metade fechado para as funcionalidades
de restauração e o resto, aí uns quarenta e cinco por cento para espraiar as
pernas, ao modo de uma esplanada onde não chove, nem o sol escalda.
A Sylvie é que
esperneou e, saiba-se como, pôs alguns membros do júri apreciador/decisor a
dar-lhe razão. Que não parecia certo ficar aquele espaço todo sem uso intenso.
Ora, nem pensar, que aqui quem manda é o desenhador.! Nem admitir essa de, sem
mais aquela, aumentar a área útil em quase cinquenta por cento. Rasga-se o
projecto e outro que risque um novo. A Sylvie Fat Barba é que não ficou pelos
ajustes e deu o peito à luta. Aquele espaço todo que, sem qualquer acrescento,
daria para um café! Nem pensar. Tapam-se as aberturas com vidraça e até quase
se não nota. Afinal cada coisa e cada qual fazem um caso. E como só os burros
não mudam…! Dizia alguém que os pequenos de estatura e anões de espírito aceitam,
e até querem, mão suave pelas costas. E cedem. Na última cedem face a umas
carrancas e braços musculados. Constava-se que a claque da Sylvie não brinca em
serviço. Vai ao tiro em última instância. Que venha alguém com coragem para
reabrir e verá como elas mordem. Como acabam por ceder os mais de cima que
tutelam os espaços condicionados, mesmo em faixas de alagamento em cheias. É
uma questão de mais umas más informações, misturadas com um amigo influente e,
quem sabe, troca de jeitos. Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara, como
recorda o povo. Há quem diga que foram alertados, os tais mais de cima, mas
fizeram olhos cegos e orelhas moucas. Sopearam as leis e os bons princípios. E
os que dão pela marosca ficam hiantes de espanto.
Resumindo e
concluindo: A Sylvie Fat Barba lá levou a dela avante e até lhe deixaram pôr
uma barreira no istmo artificial para limitar a entrada na (pen)ínsula. Que
ficou toda com dona.
(Trata-se
de ficção pura, pelo que qualquer
semelhança
com o que quer que seja é
pura
coincidência).
José Pinto da Silva