Quem, por
quaisquer razões, esteja retido em casa, o mais das vezes por questões de saúde
(falta dela) fica quase constrangido a estar em frente do televisor. Vê tudo, o
tempo todo, tendo como única fuga o telecomando, para fugir deste canal e
atolar-se noutro a mostrar o que não queria ver no anterior. E o que vê e ouve?
Deixando o setecentos e sessenta para outra nota, é o desgraçado do bicho do
nosso ouvido fustigado com propaganda de uma série de substâncias, a que chamam,
não remédios, porque o Infarmed lhes saltava em cima, mas suplementos (imagino
que alimentares, ou suplementam o quê?), mas que por eles são aconselhados para
minorar, ou mesmo curar uma porrada de maleitas que afectam, seja os ossos –
até mostram em vídeo a fazer efeito no miolo da ossada – articulações,
músculos, cérebro (memória), sistema nervoso, funcionamento intestinal e até
mesmo para melhor performance sexual e pomadas que extirpam todos o tipo de
comichões. A banha da cobra vendida, antigamente, nas feiras, fazendo bem a
quase tudo, ficaria a léguas das mèzinhas de agora.
Através de um
só número de telefone (2.. … ..5) poderemos (íamos) mandar vir cura para quase
tudo. Mas, mesmo influenciando o miolo dos ossos, o sistema nervoso, o funcionamento
intestinal e até a actividade sexual, não precisa de prescrição médica, nem de
aconselhamento, nem quando deve começar ou interromper. Muito menos precisa de
ir ao centro de saúde e menos ainda ao hospital. Bastará um simples telefonema
e lá virá a cura e, se comprar dose em dobro até virá sem despesas de envio.
Para ver a
seriedade proclamada, nomeadamente para convencimento de incautos, a quem
comprar duas embalagens cederão determinadas prendas, seja em livros, em
reforço da dose. E nem sequer pronunciam o valor do preço a cobrar. “Pelo
módico preço que aparece no écran”. Fico a imaginar a situação de tantos
homens, normalmente de idade já alta, quiçá lembrados de actividade intensa e
bem sucedida com mulheres, por aí ou nos bordéis, agora com problemas naturais
de menor elevação, mas também com debilidade do coração, a engolir pastilhas
para atingirem um estádio que julgam ideal e acabam por ficar agarrados ao
poste do prazer. E a quem atribuir, em primeira instância, a responsabilidade
por tais “assassinatos”.
Sou
verdadeiramente céptico quanto a estas promoções e vendas “só por telefone”,
“não se vendem em farmácias” não se esquecem de anunciar.
Reparei que
são propagandeadas três ou quatro marcas de cálcio para fortalecer ossos e
articulações. Simulam entrevistas a potenciais consumidores e num perguntam a
partir de que idade se deve tomar e vem a resposta a “informar” que, a partir
dos 30 anos se começa a perder o cálcio, logo é aí que deve começar. Noutro,
feita pergunta idêntica, é respondido que deve ser começado a tomar logo depois
da menopausa. Um pedaço mais tarde, e, sem que o digam, deve destinar-se só a
mulheres.
Também o que
me choca é ver certas figuras da apresentação televisiva a fazerem a venda
desses produtos, sem pestanejar e com spots dentro dos programas que
apresentam. Gente que eu julgava com estatuto para poderem dizer aos “patrões”
que, para essas cenas, chamassem caloiros.
As Ordens dos
Farmacêuticos e dos Enfermeiros apresentaram reclamação e questionaram a
legitimidade da propaganda e, qualquer efeito benéfico para a saúde. Como
resposta, passou a ser feita uma campanha publicitária de tal modo massiva, que
enoja e utilizando figuras públicas que “já usam o produto há muitos anos” e a
isso devem todos os sucessos da vida.
E o Ministério
da Saúde e o Infarmed não entenderão que algo perigoso para a saúde pública
poderá estar a ocorrer?
NOTA:
Tentei inserir este texto, que reputo de interesse público na minha página do
Face Book, publicação que foi impedida e apareceu a informação: "ESTA MENSAGEM INCLUI CONTEÚDO QUE FOI BLOQUEADO PELOS NOSSOS SISTEMAS DE
SEGURANÇA". Isto evidencia que existe um verdadeiro lobby de promoção dessas
drogas a que chamam suplementos e que não passam de uma verdadeira vigarice pro-
pagado por caríssimas campanhas publicitárias.