quarta-feira, 18 de julho de 2018

FACTOS E DATAS ESQUECIDAS. PORQUÊ?



Fiquei, na altura bastante surpreendido, para não dizer boquiaberto, por não encontrar nos diversos órgãos de comunicação, letra, voz e imagem, na data própria, referência ao acontecido no 11 de Março de 1975, tendo os jornalistas esquecido que os acontecimentos daquele dia tiveram efeitos imediatos, no todo nacional, muito mais influentes do que o 25 de Abril do ano anterior.

O 25 de Abril abriu as portas às liberdades públicas e talhou abertura para que o Partido Comunista, já com estrutura oleada, assaltasse os sindicatos existentes e lhes mudasse a carapaça ideológica e criasse outros, muitos outros, para ficar a dominar todo o movimento sindical que haveria de agitar toda a estrutura económica e, politicamente, minaria todos os sectores onde a política poderia meter bedelho, desde as repartições públicas ao núcleo central do poder e furando até às Forças Armadas, não se eximindo, os seus próceres, de apodar de reacionário ou mesmo contra-revolucionário quem ousasse afrontar ou mesmo só não concordar. O 28 de Setembro, tendo já na altura o Vasco Gonçalves a primeiro Ministro e outros ministros da linha, além da infiltração funda nas Tropas, foi uma das grandes oportunidades.

No final de 1974 não souberam, os comunistas, esconder os intentos de tomada do poder e deixaram sair os corninhos da Unicidade Sindical, o que marcaria o início do confronto ideológico com o PS, e ficaram muito aflitos com o surgimento do ” Programa de Política Económica e Social, conhecido por Plano Melo Antunes”, documento tornado público em 4/1/75 e que haveria de ser aprovado em Conselho de Ministros em 21 de Fevereiro. Documento programático de longo prazo, estudado e elaborado por diversos economistas e onde pontificou Victor Constâncio, ao tempo já ligado ao PS. Em matéria de estatização da economia, que o PC preconizava acontecesse “ontem”, aquele Plano previa a nacionalização da Banca, só da Banca, num prazo de três anos. Inconcebível para os comunistas. Algo teria de ser feito para suster tal Plano para se poder seguir o critério de 1917. Reverter toda a actividade económica, nos campos (ocupação e expropriação de terras – sem pagar o preço), nas fábricas (saneamento das gerências e administrações), como nos Serviços (banca , seguros e grande distribuição). Atingir tudo isso por meio da luta política pura e livre parecia ao PC tarefa inconcretizável. Só com o método bolchevique, convencido de que o PS não ficaria menchevique e que Mário Soares não ficaria Kerensky.

Então… aconteceu o 11 de Março! A verdadeira história dessa “revolução” não foi feita, mas sinais houve de contradições no que foi dito e escrito na altura e posteriormente a respeito. Certo que Spínola fugiu, certo que houve aviões no ar, certo que houve disparos contra o RAL 1 e certo que paraquedistas apareceram junto do quartel. O mais certo é que Spínola e alguns outros militares dele próximos tenham sido ludibriados por camaradas em quem confiavam. Aquele encontro dos paraquedistas com Dinis de Almeida (o Fitipaldi dos Chaimites) foi surreal e os abraços e as lágrimas deixaram inveja aos crocodilos.

Nesse dia eu estava em Lisboa. E, de carro, corri por toda a cidade. Cirandavam os aviões no ar ainda se ouviam disparos dos canhões contra o RAL 1 e, por toda a cidade, de cada bairro e de cada rua saíam manifestações com bandeiras do PCP e do seu, então, guarda costas, dito MDP/CDE aos berros: “O POVO ESTÁ COM O MFA”. Ou foi premonição que viu com antecedência a revolta, ou se tratou de evento pré-estudado e para ser executado daquela maneira e por todos aqueles interventores. O mais certo, bem se pode imaginar agora!

O mais certo foi que nessa mesma noite os militares “pariram” o Conselho da Revolução com poderes constitucionais e executivos e, num ápice, nacionalizaram toda a economia e abriram caminho para a ocupação das terras (as produtivas, com gados, com cortiça e com equipamentos e grandes casas) e incentivaram-se os saneamentos de empresários. Enfim deu-se cabo de toda a economia, cumprindo-se o grande desígnio do PCP. E na arena política, a ala mais à esquerda do nóvel C.R. e do MFA, bem escudados pelas altas figuras do PC tudo foram fazendo para que fosse anulada a realização das Eleições Constituintes, marcadas para serem em 25 de Abril e que o PC não queria de nenhum modo. Não puderam anular as eleições.

Integrei uma lista de Candidatos a deputado para as Constituintes e, num encontro com Mário Soares, no Grande Hotel do Porto, nos finais de Março ou primeiros dias de Abril, eu próprio o questionei: “Temos a verdade oficial do 11 de Março. Gostaria de ter a verdade real. O que de facto aconteceu e quem o provocou”. M. Soares respondeu: “O que podemos dizer é que nós não estávamos lá. O certo é que no dia 11, seria meio dia, os aviões ainda andavam sobre Lisboa e, em Bruxelas, um tal José Dias, do MES, disse, em declarações a uma TV, a propósito do golpe, que Mário Soares já foi preso. Quanto ao resto, o camarada deduza”. Fácil deducção, afinal.

E porque será que a comunicação social não alude à enorme manifestação de 17 de Julho no Porto e Comício no Estádio das Antas e, no dia seguinte, na enorme concentração na Fonte Luminosa, movimentos que representaram o início do fim do Gonçalvismo e da influência do PCP e seus satélites na vida política do país? Porquê se esquecem as grandes datas? Esqueceram que nesse verão de 1975, politicamente escaldante, o país esteve a uma unha de uma guerra civil?
Ah! Estive no Estádio das Antas e estive na Fonte Luminosa. Hei-de lembrar algumas cenas engraçadas vividas nessas duas grandes concentrações de defensores da democracia.

José Pinto da Silva

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