sábado, 6 de março de 2010

Mar das Especiarias

Para ficar para memória futura, vou passara texto as palavras que proferi, quase de improviso,
só suportadas em alguns tópicos, a quando da apresentação do Livro MAR DAS ESPECIARIAS, no dia 6 de Fevereiro de 2010 no hall de entrada das Termas.


Realço o consolo que sinto pela vinda do Sr. Dr. Miguel Miranda, ilustre médico que por cá viveu e cá exerceu durante uns tempos, agora projectado como escritor/romancista/contista que muito nos apraz ler.
Consolo, porque inicialmente se pensou fazer uma cerimónia bem mais doméstica, quase familiar. E, então, seria eu próprio o incumbido de fazer uma singela e quiçá pouco esclarecedora referência ao livro que temos à nossa frente e está à nossa disposição.

Li o livro já no verão passado e vou referir em 3 pensamentos a visão com que dele fiquei. Não o analiso literariamente, porque não saberia e porque disso se encarregou, com o saber que lhe é conhecido, o Sr. Dr. Miguel, que me antecedeu.
LIVRO DE VIAGENS
É, de facto um livro de viagens. Descreve os diversos percursos inter ilhas Indonésias e aborda com tal pormenor as peripécias de cada passagem, de como arranjar bilhetes nos barcos ou transportes rodoviários, de como conseguir vistos, de como cambiar dinheiro, de como conseguir meios de locomoção em terra, de boleia, ou alugando uma bicicleta ou motoreta em cada povoação onde chegava, que quase nos sentimos envolvidos nos perigos e nas emoções que provocam e parece que ficamos a conhecer os contornos das ilhas visitadas.
LIVRO DE HISTÓRIA DA CULURA PORTUGUESA
É extraordinário como o Quim Castro catou, investigou monumentos, objectos e sobretudo palavras que mostram à evidência como e quanto os portugueses deixaram marcas culturais por aquelas paragens. Absolutamente deliciosa a referência ao BUPATI FÉLIX FERNANDES (nome claramente português) que nos remete, em estrada directa, para certos autarcas de cá e de agora que tudo fazem para ensacar benesses, para enriquecer e para traficar influências com vista à eternização no poder. Terá dito o historiador CHARLES BOXER, diz-se no Mar das Especiarias, que os outros iam para lá, para as Ilhas Indonésias, para ganhar dinheiro e sair o mais rápido possível. Os portugueses foram também para ganhar dinheiro, mas sobretudo para ficar, para se misturarem através da língua e da cultura que por lá espalharam. É espantosa a quantidade de palavras de raiz portuguesa que por aquelas bandas se usam e que o Castro catou de forma exaustiva. Disse o historiador BOXER que, a partir de certa altura (os portugueses) já não pertenciam à Europa. Eram mais de lá do que de cá.
CAPACIDADE DESCRITIVA
É impressionante a minúcia com que descreve cenas, paisagens, fenómenos naturais, caras e expressões de pessoas individuais ou multidões em convulsionantes movimentações. Sente-se o faiscar de olhos de raiva, como o espelhar de bondade, vê-se o mar alteroso a impedir qualquer tentativa de nele se entrar, ou o mar chão onde apetece flutuar. É preciso ler para sentir.
NOVELA
Pelas muitas expressões metafóricas que ficaram espalhadas por muitas páginas do Mar das Especiarias, eu diria que se trata de obra de ficção, de uma novela. Citarei meia dúzia de expressões que atestarão este meu ver.
“A MANHA DAS ÁGUAS” nas convulsões marítimas nos estreitos inter ilhas e que os autóctones conheciam para navegar com o máximo de segurança. “E OUTRAS ELEVAÇÕES MONTANHOSAS VESTIDAS DE VERDE. É DESLUMBRANTE”
“MELOPEIA DE TIPO HAVAIANO, PONTUADA POR UMA MELANCOLIA QUE TEM POUCO DE TROPICAL”
“MESMO AO ALCANCE DE UM TIRO DE PEDRA” que poderia ser projectada pela mão ou com funda, acrescento eu.
“PÔR-DO-SOL PONTUADO PELA CHEGADA DE BARCOS RÁPIDOS”
Para definir clérigos chamou-lhes “MÃO-DE-OBRA PASTORAL”. Achei esta definição deliciosa.
“CONES DE VULCÕES DESTACADOS DE UM CÉU QUE PARECE ESTAR A ARDER. E ELAS (as montanhas) DESFAZENDO-SE PELO CORAL ADENTRO.”
“NÓS ENTREGUES A UM PÁSSARO DE METAL QUE, SUAVEMENTE POUSA NUM PEDAÇO DE CIMENTO E ALCATRÃO QUE PARECE SAÍDO DO MAR”.

Face a esta tua também qualidade, desafio-te a que, nos intervalos das muitas viagens, te aventures num romance. E queres um mote? Coloca-te nos finais da década dos 50, primeiros anos dos 60, do século passado. Imagina 5 “mânfios” (passe o calão) todos da Sé, de S. Jorge que, a pé ou de qualquer meio deslocativo que surgisse, aportaram na Corga. Por lá tomaram poiso, sendo que só um fez ninho. Quiçá o melhor de todos. E tornou-se num profícuo cidadão e num prolífero homem de família. Família grande e boa. Quanto a elas, imaginem-nas porque deles, tendo já partido três, não me importo de os nomear, primeiro os que partiram e pela ordem de partida: O David do Sr. Germano, ou David da Sé,
O Quim Castro e o Zeca do Munho, ou Zequita do Munho, como crinhosamente a ele nos referíamos. Para eles que partiram o nosso pensamento de saudade. Os outros dois ainda viventes, eram o Américo do Marinheiro, na designação actual o Dr. Américo Alves da Silva e por último o então Zeca do Moleiro. Eu próprio.
Terias aí matéria “bestial” para uma boa novela. E tens bem próximo de ti quem te possa dar nota de muitas curiosidades, de muitas situações picarescas que ficcionarias a primor. Pensa nisso.
Termino referindo que o Dr. Raul Ferreira da Silva, da geração e da proximidade de teu pai, não nascido cá, mas de cá originário que conhecíamos e ainda conhecemos como o Dr. Raul do Margarido, me telefonou a lamentar não poder vir cá, que gostaria muito de fazer o teu conhecimento e incumbiu-me de comprar um exemplar do livro e de colher o respectivo autógrafo do autor.
Desculpem por me ter estendido um bocado.

Aterro Sanitário e Assembleia de Freguesia

Foi com agrado que vi anunciada uma reunião extraordinária da Assembleia de Freguesia de Caldas de S. Jorge, pedida, parece que em simultâneo, pelo Presidente da Junta e por um grupo de quatro eleitos da Assembleia, para discutir e eventualmente tomar posições quanto ao risco anunciado de poder vir a ser implantado nos terrenos da Quinta da Lage (Caldas de S. Jorge/Pigeiros) o Aterro Sanitário que há-de substituir o de Sermonde. As acções estão a ser concertadas com a Junta de Pigeiros em comunhão de interesses e, esperam todos, que se consiga encontrar argumentos convincentes para anular tal hipótese. Está a organizar-se uma recolha de assinaturas para repudiar tal ideia e, entendo, um local ideal para colher as assinaturas seria exactamente na altura da Assembleia de Freguesia. Quem lá for deverá levar consigo o Bilhete de Identidade.

José Pinto da Silva
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