segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MOBILIDADE INTESTINA

Mais agora do que uns tempos atrás, porque agora é mesmo muito útil contestar o governo pelas muitas asneiras que terá feito e por muitas outras feitas por outros e de que este apanha a pancada, muito se fala e escreve a respeito da mobilidade pelos interstícios deste concelho e muito se fala e escreve sobre o excesso de estradas, sobretudo se de uso condicionado por pedágios, e sobre a falta de outras, das de uso sem condição.

Logo vem à pena a A32 agora em construção, via que fora concebida para ser uma IP (Itinerário Principal) a dar seguimento à variante de S. João da Madeira do IC2. Só que os seus engendradores, em 1989, fizeram um risco no mapa e disseram: Vai ser por aqui! Que não podia ser, foi então sendo dito por outra gente que entendia mais do negócio. Mas talvez por aí não, se calhar um pouco mais por aqui, tanto por aí não pode ser, porque vai entrar nos terrenos de não se diz quem, até que por fim, o melhor é fazer tudo de novo, riscar mas é uma via de faixa dupla, que será concebida, projectada e construída por uma construtora e aplica-se-lhe a portagem.

Passaram-se mais de 20 anos e, só agora, está no terreno um pedaço de auto-estrada que fica a fazer finca-pé com outras duas um pouco mais a poente. Claro que não é, como, maldosamente, alguns dizem, uma terceira Lisboa/Porto. É só um pequeno lanço que, mesmo pequeno se não justifica e, se era entendido ser preciso algo que minorasse a passagem da EN1, desde Albergaria até ao Picoto, a dita Rua Urbana – acho que se transformou num extenso stand de venda de automóveis, com piso bem empedrado – então iam para uma estrada de perfil simples que drenaria muito bem o tráfego do sul até aos Carvalhos. Simultaneamente, deveriam ter apressado uma ligação, aí sim, em faixa dupla, desde Arrifana até ao Nó da A1, sem semáforos e sem o túnel, que tão reivindicado foi. Aqui parece ter havido claramente falta de rasgo da Câmara que se foi enredando num projecto de túnel desde o Nó até aos Passionistas e, é fácil adivinhar, os custos foram adiando (aniquilando) o projecto. A verdade é que, agora, rei é morto. Faz-se a A32 que, não é inútil, mas duvide-se da boa relação custo benefício. Qual virá a ser o índice de ocupação?

Então, há alvitres de outros, que tremem de imaginar o fim do combustível fóssil. Claro que é só sonho e deriva ambientalista, como é de moda agora. E então, vá de sonhar também no transporte sobre carril até Oliveira de Azeméis. É isso? O Metro do Porto, o tal muito bom investimento, funciona só em zonas altamente densas de população (vai até à Póvoa na velha linha, mas mesmo assim por força de enormes pressões políticas da Póvoa e Vila do Conde) e, vem amiúde nas notícias, cada passageiro que entre dá logo um prejuízo de € 3,00 e, alguém admite que, sobretudo na fase de lisura total das tesourarias e dos financiamentos, alguém se arroje a avançar só mesmo com a ideia? Então “compridar” o Metro desde Gaia (Laborim) até Oliveira de Azeméis! Alguém fez as contas ao fluxo de pessoas desta área do distrito diária ou regularmente para o Porto/Gaia? E qual o índice populacional, do concelho da Feira, a morar até 4 Km da linha? Admitindo que quem more a 4km da linha, se desloque esses 4 km para tomar o comboio até Gaia ou Porto.

Alguém imagina quanto custa ao geral das pessoas cada indivíduo que “ousa” entrar no Vouguinha? Mesmo com as más condições e custos contidos. Alguém poderá dizer se vai ter utilidade prática o volume de capital prometido investir a quando das cerimónias do centenário? Para a modernização sonhada, ficou já provado que as pessoas não aceitam, nem sequer, que se encerrem as passagens de nível, mesmo as que não se justificam. Que modernização, se continua a ter dezenas de passagens sem guarda?

Transformado o Vouguinha em Metro, com que regularidade haveria comboio, por ex., na Feira? Para quantas pessoas? Poderemos dizer que sonhar é fácil, como é fácil invocar a diversificação energética para se dar ares de ecologicamente up-to-date. Se o Estado – a Refer e a CP – dessem, inteiramente de borla, todo o equipamento do Vouguinha (canal, carris, material circulante e estações) às Câmaras Municipais, será que elas quereriam este abraço de urso? Pelo menos para explorar em transporte regular?

A resumir, será bem de lembrar que, quando de dá ou tenta dar, um passo maior do que a perna, cai-se na situação de agora no país. No equipamento, de transportes ou outro, como no de apoios, sociais ou outros.

José Pinto da Silva

NOTA: Texto publicado no “Terras da Feira” edição de 8 Novembro 2010

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