segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O HOMEM DO FRAQUE

Quem se não recorda de quando o actual ministro da Saúde, Paulo Macedo, foi convidado por Manuela Ferreira Leite para Director Geral dos Impostos? Levantou-se, na altura, acesa polémica, porque o senhor era Director (ou era Administrador) do BCP e exigiu não ganhar menos enquanto funcionário público. E assim foi. Foi determinado que ficasse a ganhar cerca de € 25 000,00, quando o salário oficial de Director Geral era, ao tempo, algo menos do que € 5 000,00. Muitas vozes se levantaram contra o descalabro da excepção.

O certo é que, naquela função, sobretudo na recuperação de impostos não cobrados, desempenhou proficuamente o papel e foi mesmo mantido depois pelo governo de Sócrates durante certo tempo. Regressou depois ao BCP como administrador e com a remuneração equivalente.

Foi agora chamado para ministro e é normal que se levante a questão: Foi para o governo ganhar a remuneração normal de ministro? Pouco mais de € 5 000,00 a que se juntam as Despesas de Representação? Ou será, como dizem algumas más (?) línguas, que ficou a receber a diferença em regime de “por baixo da mesa”?
O pior é que foi colocado numa pasta social e a ferramenta de trabalho que lhe deram foi uma tesoura. Cortar, cortar e cortar, eis a sua função. Corta benefícios, corta apoios, corta serviços, corta pessoal e sopra os preços de tudo o que é prestação de cuidados de saúde, primários e/ou hospitalares. Pareceu, de resto, a quase todos absurdo colocar um cobrador de impostos, um Zaqueu dos tempos modernos, a zelar pela saúde dos cidadãos. O verdadeiro resultado de tudo isto irá ser sentido a partir do início do próximo ano.

Houve uma criança que morreu, porque o “podador” na sua obsessão de cortar, cortar e cortar, cortou o Serviço de Transplante em pediatria. O pai da criança, em desespero de causa, formulou o voto de que um familiar próximo do ministro morresse por falta de assistência que deixou de existir por determinação ministerial. Claro que tal não aconteceria nunca, porque recorreria às boas e caras clínicas privadas de que tanto gosta e promove, mas muitos de nós somos quase tentados a acompanhar aquele pai na formulação do voto.

José Pinto da Silva
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