ENVOLVER-SE NUMA SÉRIE DE
SARILHOS,
sem necessidade nenhuma
Na edição de
14 de Maio do C.F. saiu uma longa entrevista dada pelo presidente da Junta de
Freguesia de Caldas de S. Jorge à Sra. Directora do hebdomadário.
Passarei como
pé descalço por brasas sobre o exercício, o feito ou não feito, ou mal feito,
serviços prestados, bem ou menos bem prestados, o que pretende ou pretendeu e o
que (não) fez para atingir o desiderato. Quero realçar o “envolvimento na série
de sarilhos”.
Mostra uma
fixação no hotel, que, em qualquer circunstância haveria de ser privado e como
se, porventura, tivesse influência ou influências para influenciar alguém para
um tal investimento empresarial. Que me conste, ninguém, e há empresários do
ramo à nossa volta conhecedores profundos do sector, e também a Câmara, ninguém
fez qualquer estudo económico que pudesse entusiasmar qualquer investidor. Se
cheirasse a interessante e a rentável já teriam estabelecido contactos. Um
hotel, não importa onde, até poderá ser rentabilizado, mas é seguro que não
será com a clientela habitualmente utilizadora das termas. De resto quem,
porventura, se instale nos hotéis da periferia, tem a deslocação garantida. E
têm sido bem poucos.
Esqueceu de
todo o novo, tão motivador de campanha, edifício/sede de Junta/anfiteatro, para
o qual poderia ter mandado fazer projecto e candidatá-lo a fundos do
PRODEP/ADRITEM, como fizeram, por exemplo, e para não ir mais longe, a Fábrica
da Igreja, como fez Junta de Pigeiros e como fizeram privados de cá. Esqueceu a
hipótese de requalificar o rio, também com apoios específicos. Mas era preciso
fazer projecto e candidatura. E dá trabalho. Algum trabalho. Manteve o sonho do
tal passadiço pedonal. E sonhará por muito mais tempo, porque a Câmara tem
outras prioridades e que não passam por Caldas de S. Jorge. E fala numa nova
barragem de que começou a falar depois de a Câmara o ter já anunciado. Será um
trabalho da Câmara, desde idealização, projecto e execução, de resto com
pensamento em beneficiar alguém em concreto. Para ter desistido do Centro
Escolar, invoca a diminuição da população escolar, o que é uma falácia sem
nome. Para não ir mais longe, que olhe para o Centro de Gião, terra com muito
menos população, total e escolar. A Câmara é que, aproveitando-se da
dificuldade de aquisição do terreno, por intervenção errada e maldosa da Junta
(ou do seu presidente) mandou às favas a Carta Educativa do Concelho e anulou o
Centro de Caldas de S. Jorge, há muito aprovado superiormente. Esqueceu a luta
pela participação da Autarquia no capital Social das Termas e atirou para trás
das costas aquele abaixo-assinado que promoveu contra o PERM. Não seria preciso
também porque iniciou-se em ovo que grelou. Esqueceu-se de ver que o lote onde
está construída a sede da Junta não está legalizado, como não estão todos os
logradouros propriedade da Junta. Esqueceu-se de que a Junta não dispõe de uma
base de dados da população idosa, tratados por estádio etário e nível de
bem-estar, nem da população infantil e juvenil e quantas mais tarefas
administrativas que ficaram esquecidas, nomeadamente a prestação de contas
limpas e esclarecedoras e a prestação das informações solicitadas regular e
insistentemente pela Assembleia de Freguesia. Quem pagou a transversal ao
Tojeiro? E o alargamento da Carreira?
Mas vamos
então ao tema que originou o título do escrito, por sua vez citado de expressão
do entrevistado. Citando-o: “ É desgastante, passamos por situações que, na
vida privada nunca permitiríamos que acontecessem. Ser autarca é envolvermo-nos numa série de sarilhos sem necessidade
alguma.”
Vou só lembrar
o entrevistado e toda a gente que nele votou que, quando se candidatou anunciou
um devotamente desinteressado à freguesia, esquecendo-se de dizer que queria a
presidência da Junta para garantir emprego remunerado e com remuneração que não
obteria no exercício qualquer de outra actividade que soubesse desenvolver.
Esqueceu-se de que mais de 1.300.000 portugueses que trabalham todos os dias 8
ou 9 horas em oficinas ou escritórios, ganham menos de € 600,00 por mês e o
meio tempo a que, por seu único alvedrio, passou a “sacar” dá-lhe € 620,00 por
um “trabalho” que não dá uma hora, em média, por dia. Além de ter cometido
grave ilegalidade quando começou a “sacar” tal ordenado, devia envergonhar-se
por só uma pequena percentagem dos 4 259 presidentes de Junta terem remuneração
desse teor. E, para não me alongar, vamos ao não cumprimento da lei, para
aceder ao “tacho”. É o termo certo. Os autarcas que o antecederam devem sentir
vergonha pelo que passaram e os que morreram devem estar a dar voltas na tumba
pelo desvario.
Diz o artº. 17º., nº. 2, alínea h) da lei 169/99 que
compete à Assembleia de Freguesia “deliberar
nos casos previstos nos nº.s 3 e 4 do art. 27º. Sobre o exercício de funções a
tempo inteiro ou a meio tempo do presidente da Junta”. A lei 5-A/2002, deu nova
redacção à mesma alínea, do mesmo nº. do mesmo artigo da lei antes citada e
passou a dizer que compete à Assembleia “verificar
a conformidade dos requisitos previstos no nº. 3 do artº. 27º. sobre o
exercício de funções a meio tempo ou a tempo inteiro do presidente da Junta”.
Ora a Assembleia de Freguesia de Caldas de S. Jorge
NUNCA foi confrontada com este tema, nem para VERIFICAR A CONFORMIDADE (e dar
parecer) e muito menos para deliberar. Vejam-se as Actas da Assembleia de
Freguesia e ficará confirmado o que atrás se diz.
Logo, para
além de ser um esbulho à freguesia, de ter sido um logro para quem nele votou,
o recebimento está ferido de ilegalidade que, se houver alguma justiça nos
procedimentos, terá que ser reposta e só o poderá ser com a devolução de todas
as remunerações até agora recebidas. Isto já havia sido denunciado, quiçá com
menos detalhe. Mas há-de continuar, porque há mais coisas de que o presidente
da Junta de Caldas de S. Jorge se esqueceu e que urge recordar.
José Pinto da Silva