FEITIÇO vs FEEITICEIRO
É voz
correntíssima que os Estados, e o português em especial, tributam de forma
“cega” os rendimentos do trabalho, deixando no bem bom do favorecimento os
rendimentos do capital. É uma verdade palpável, mas que deixa injustiças
escondidas e que, de algum modo, contradizem a proposição inicial.
É sabido do
comum dos contribuintes que a legislação por cá em vigor determina que os
rendimentos financeiros (juros e dividendos) estão sujeitos a uma taxa
liberatória, agora de 25%, estando, por definição dispensados do respectivo
englobamento, que é opcional. Quer dizer que declara esses rendimentos quem
acha que lhe é vantajoso e não declara quem, contas feitas, lhe é prejudicial
declarar.
Será evidente
que os muito altos rendimentos de trabalho que suportam uma taxa de IRS de 49%
(uma barbaridade, no meu entendimento), se tiverem algumas dezenas de milhar de
euros de rendimentos em juros e dividendos, não declaram, porque iriam pagar os
tais 49% e, assim, liquidam tão só a taxa liberatória, agora os 25%.
Mas, para que
tudo se esclareça, vejamos um trabalhador, ou pensionista, que aufira em média
€ 500,00/mês (7 000,00/ano). Não desconta nada em sede de IRS. Se outro
trabalhador que, para além do trabalho ou pensão, tenha, fruto de uma poupança
de toda a vida, ou mesmo fruto de uma herança, juros de depósitos ou dividendos
no valor total de, por ex. € 5.000,00/ano, o nosso querido Estado fica-lhe lá
com € 1.250,00 de imposto. É evidente que, este trabalhador ou pensionista, se
estiver informado, faz o englobamento opcional destes 5 000,00 euros e virá a
ser reembolsado da totalidade do imposto retido.
Fica aqui
demonstrado que, a proposição linear de que salta tudo sempre e só sobre os
rendimentos do trabalho e de pensões, não é tão linear assim, porquanto, até
certo limite, o trabalho não é tributado e, dentro do mesmo limite, o capital é
tributado e feiamente. O Estado “saca” a quarta parte do rendimento do
amealhamento, em muitos casos, de uma vida.
José Pinto da Silva
NOTA: Este governo resolveu
aumentar o IVA sobre a restauração e muitos produtos de primeiro consumo
para a taxa máxima. Quebrou o
nariz porque pelo abaixamento do consumo (encarecimento dos serviços) e pela tentação de evasão
fiscal, recolhe bem menos do que recolhia antes. E levanta-se uma
pergunta. Em vez de subir o IVA
na restauração, porque não subiu nos bilhetes para essa catrefada de
concertos musicais que se
realizaram e vão realizar por todo o país e que, mesmo com a crise instalalada batem recordes de
presenças?