R A T A (2)
Este governo
e, num ímpeto seguidista e subserviente, esta câmara municipal, o primeiro
invocando o já estafado Memorando de Entendimento, e esta, sem invocar nada,
mas tão só descendo ao nível de barriga de cobra, lá insistem em “reduzir significativamente”
o número de freguesias. Dizem reduzir, diminuir que, na prática significa
aniquilar por aglutinação.
Já foi dito e
redito pelas mais diversas e abalizadas entidades que esta medida, tendo por
objecto reduzir custos, gastar menos, é de efeito quase nulo, na medida em que
as freguesias representam uma percentagem irrisória no orçamento geral. E
poder-se-ia poupar algo mais, obrigando-se os autarcas locais a mais cidadania
e menos aproveitamento. Condicionar mais os meios tempos e tempos inteiros.
Sabe-se que quem gasta, mesmo e à tripa forra, são as Câmaras, estando algumas
ao nível da Madeira ou assemelhando-se às regiões espanholas, todas doidas por
apelar ao resgate financeiro.
Mas será
oportuno transcrever o que diz o ponto 3.44 do “Memorando de Entendimento sobre
as Condicionalidades de Política Económica” – é assim o título do documento. “3.44 .
Reorganizar a estrutura da administração local. Existem actualmente 308
municípios e 4.259 freguesias. Até Julho
de 2012, o Governo desenvolverá um plano de consolidação para reorganizar e
reduzir significativamente o número destas entidades. O Governo implementará
estes planos, baseado num acordo com a CE e o FMI. Estas alterações, que
deverão entrar em vigor no próximo ciclo eleitoral local, reforçarão a
prestação do serviço público, aumentarão a eficiência e reduzirão custos”. Transcrito ipsis verbis do texto aprovado em 17 de Maio
de 2011 e, curiosamente nas duas alterações negociadas pelo governo junto da
troyka, só pelo governo e sem consulta aos partidos da oposição, em 1 de
Setembro de 2011 e 9 de Dezembro de 2011, este ponto ficou inalterado. Logo, a
“ordem” era reduzir municípios e freguesias, “ordem” reiterada e não
modificada.
Disse o
governo, logo no “documento verde” que era preciso aglutinar cerca de 1.500
freguesias e, a mira foi desde o início apontada para as freguesias menos
populosas, estivessem onde estivessem. Só não pensou no objectivo de reduzir
custos, porque as freguesias quase nada representa. Exclui o governo, logo ab
initio a redução significativa, ou sem significado, dos municípios, os antros
da fabricação de despesas, muitas vezes camuflada pelas empresas municipais,
porque a Associação Nacional dos Municípios frontalmente se opôs e porque,
sendo o partido do governo o detentor da grande maioria das Câmaras, não era
conveniente, porque iria feder. Que se marimbe a redução de custos, terão
pensado os decisores.
Se fosse
aplicado o mesmo critério de fundição, numa aplicação directa da regra de três
para o desaparecimento de municípios, teriam de aglutinar cerca de 110
concelhos, e, pelo mesmo critério, desapareceriam os mais pequenos. Lógico.
Feita uma pesquisa muito pela tona, constata-se que temos, só no continente,
101 concelhos com menos população do que Fiães, Lourosa ou Argoncilhe, 31 com
população inferior à de Nogueira e, imagine-se, temos um concelho com menos gente
do que Caldas de S. Jorge e há 130 concelhos com menos gente do que a cidade de
Santa Maria da Feira. E tantos, tantos, geridos por autarcas PSD! Que burburinho
iria isto causar! Como afligiria também alguns de outras forças políticas,
claro.
Ao não querer,
lagarto, lagarto …, mexer nos concelhos e, agora com o abanão do quase
aniquilamento do ministro que tem estado a tutelar o morticínio, é mais do que
certo que a tal de R.A.T.A., só para freguesias, não tem pernas para andar. A
terminar, acho que seria de exigir à troyka, e também ao governo, que expliquem
como é que acabando com freguesias e respectivos órgãos se “reforçará a
prestação de serviço público e aumentará a eficiência”. Será que querem fazer
de todos ainda mais iletrados do que eles são?
José Pinto da
Silva