quarta-feira, 2 de abril de 2014

INVESTIMENTOS ESTÚPIDOS

O epíteto do título foi atirado pelo dr. Silva Lopes e atirava-se sobretudo aos investimentos feitos em estádios de futebol para o EURO 2004 organizado em Portugal. Claro que ele e outros consideram da mesma maneira os investimentos monstruosos na Expo 98 (muitos deles serão do norte e falam por esses investimentos terem acontecido em Lisboa. Porque se tivessem sido feitos na zona do Porto, poderiam ter sido bem maiores que passavam logo a virtuosos). E, na circunstância com muito mais razão, os investimentos em auto-estradas, absolutamente desnecessárias, tendo ficado provado que não há veículos para tanto asfalto tão logo se começaram a cobrar portagens para nelas se passar. Os poderes centrais, ou porque fossem necessárias algumas vias, ou porque era preciso calar autarcas – os maiores culpados por muitos destes investimentos – poderiam muito bem ter construído as estradas tradicionais de via simples.
Mas o que me leva a este escrito é mais o investimento nos estádios e as maldições que sobre ele vão caindo. Em determinada altura ditada pelos calendários uefeiros Portugal apresentou candidatura para a eventual organização do campeonato Europeu de selecções a realizar em 2004. Toda a gente achou muito bem, toda a gente teceu encómios à F. P. Futebol pelo arrojo da iniciativa e todos arreganhavam a taxa contra os outros dois candidatos, a Espanha, por um lado e a Áustria/Hungria, por outro. Toda a gente sabia, e também os detractores, que um dos lemas da UEFA e da FIFA é a promoção e divulgação na Europa e no mundo do desporto designado por futebol, sendo que uma dos maiores incentivos à prática do desporto é a construção de recintos para o efeito.
Todos sabiam que a Espanha tinha muitos estádios a mais, até porque tinha em 1982 organizado o Mundial e bastava-lhe modernizar alguns deles. Sabiam todos também e inclusive os detractores, nalguns casos mais estúpidos do que os tais investimentos, que os Austro/Húngaros apresentaram um projecto de construção // melhoramento de 10 estádios de futebol. O que significa que a candidatura de Portugal ficaria arrumada, se não exibisse os tais 10 estádios, novos ou reformados. E a Comissão Organizadora, para além dos que seriam óbvios (Porto, Lisboa (Benfica e Sporting), lançou o desafio a clubes e autarquias para que, se achassem por bem e reunissem as condições impostas pelo Caderno de Encargos, apresentassem as candidaturas que impunham condições bem rígidas, no aspecto construção, no aspecto financeiro e no aspecto da utilização dos equipamentos no post campeonato. E foi dura a luta travada pelas autarquias e clubes relativamente aos estádios que agora são mais problemáticos – Leiria, Aveiro e Loulé/Faro. É de recordar inclusivamente que a cidade de Viseu ficou toda aborrecida porque entendia não dever ser preterida, porque entendia mais justo que fosse o equipamento construído mais no interior, em prejuízo de Aveiro. Só que, segundo comunicado da Organização, o projecto de candidatura de Viseu deixava muito a desejar e ficou vencido. Esta é a verdade.
Aquando do anúncio do vencedor e logo que foi anunciado que caberia a Portugal a Organização do EURO 2004, todo o mundo, toda a gente, de certeza que incluindo os mais vergonhosos detractores de agora, atiraram chapéus ao ar, numa euforia indescritível, porque Portugal viu aumentado o seu prestígio no contexto das nações.
As obras foram executadas, segundo os respectivos projectos e na altura marcada para cada caso, os estádios foram sendo disponibilizados e, no jogo jogado pela nossa selecção foi o que se viu. Não correu como se previra e sobretudo como se desejara. Mas … fez-se boa figura.
E quanto aos investimentos que alguns estúpidos classificam olhando-se ao espelho e chamando-lhes o que são, saltem sobre quem não está a cumprir com o que se comprometeu e que foram algumas autarquias e alguns clubes. Deixem, desta vez, o Estado de fora.

José Pinto da Silva

31/03/2014 
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