segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

COINCIDÊNCIAS? OU SÓ TALVEZ?



Em 2003, foi por Março/Abril, ocorreu e tornou-se pública, e fortemente publicitada, a prisão de um alto dirigente do PS, que tinha sido ministro da República e, ao tempo, era considerado o número dois do seu partido e, na mesma altura, um dito super juiz, muito atirado para a cowboiada motorizada e presunçoso de ser fotogénico, foi ao parlamento, para, na prática, deter o supostamente indiciado, tendo tido o cuidado de arrastar atrás de si as câmaras de uma TV (não me acusaram de ter sido eu quem avisou os repórteres). Era, por esse tempo, esse político indiciado de crime de pedofilia e foi misturado no que teve de muita palhaçada, aldrabice, intriga, falsidades, processo Casa Pia. Foi apresentado ao JIC e depois de longo interrogatório foi-lhe decretada a prisão preventiva.
Estava, então, no poder o PSD e o governo tinha entrado na rampa descendente, ao contrário do PS que aparecia aureolado de sondagens bem favoráveis. Estava-se a cerca de um ano de eleições para o Parlamento Europeu e a situação mostrava-se feia para o poder estabelecido, ao contrário do PS que aparecia pujante e premiado com boas sondagens. Para o poder, avolumavam-se as nuvens frias do descalabro, enquanto que o sol aquecia a eira eleitoral do PS, abrindo perspectivas de retumbante vitória.
Já com campanha mais do que insinuada em todas as intervenções públicas, o que se pensava e dizia era que era preciso quebrar a espinha do PS. E, acrescente-se, chegou a parecer que sim. A Paulo Pedroso, o dirigente atingido, foi decretada prisão preventiva e a direcção do PS reagiu mal inicialmente, mas soube depois gerir bem este gravame, desenvolveu a sua política de oposição ao governo e foi crescendo na preferência eleitoral, sem nunca deixar de exteriorizar a solidariedade ao dirigente detido e aguardando serenamente a sua libertação. Nas eleições o PS atingiu um resultado absolutamente esmagador, a tal ponto que, pouco tempo depois o primeiro-ministro da época escapuliu-se para Bruxelas a aproveitar uma frincha de oportunidade. Para o acusado e depois ilibado, ficaram as sequelas de uma condenação mediática, loucamente mediática.
Este ano (2014), uma figura carismática do PS, vindo do estrangeiro (poderia não ter vindo, se tivesse medo de enfrentar a justiça – mesmo a fraca e influenciável justiça portuguesa – foi detido à saída do avião, curiosamente e contra todo o costume, tendo à sua espera inspectores das finanças (desde quando é que gente do fisco pode deter pessoas?) e, com eles, repórteres e câmaras de duas TVs. Juro que não fui eu quem alertou  as TVs para a cacha informativa.
Dizem os entendidos, que não o candidato a Garzon nacional, que quem veio de motu próprio, poderia ter sido notificado para se apresentar onde eles quisessem, à hora que eles quisessem e para os fins que quisessem. O primeiro objectivo era humilhar a pessoa em causa  e dar dimensão ao que chamaram de indícios para que os do poder (e outros), através dos seus paus mandados, denegrissem a figura do Engº. José Sócrates.
É que estamos a um ano de eleições e eles estão claramente na rampa descendente e está o PS guindado para as orlas da maioria absoluta. E escolheu-se o dia da eleição de António Costa como Secretário-Geral e estava-se a uma semana do Congresso que validaria os órgãos directivos. Quereriam os ingénuos condicionar a escolha da equipa de António Costa? Sonhariam eles poder arrumar para os escanos os altos quadros do partido e que foram mais próximos de Sócrates e que o acompanharam no governo? Saiu-lhes o tiro para trás, porque António Costa não anula o passado, orgulha-se mesmo dele e não apaga as figuras altas da fotografia, ao bom jeito do estalinismo soviético e do CDS português. O PS – que é acusado até de se ter voltado para a extrema esquerda – saberá ser sempre solidário com o seu ex-lider e terá bem mais pujança para fazer oposição a este (des)governo.
Atente-se agora à similitude das situações – a de agora e a de há 11 anos – e não se diga que agora se não verificou a remake do filme passado e barbaramente apresentado em 2003, tendo só mudado o “vilão” e bom da fita. O que será normal é que o end venha a ser igual ao de 2003 e que seja aplicada ao “bom” de agora a pena sofrida pelo “bom” de 2003. O apagamento total e ida para o cesto das banalidades inúteis. Sabe, por acaso, o público o que é feito de um tal Rui Teixeira, o vaidosão que foi prender Paulo Pedroso com a televisão a fazer furor informativo? Como o cesto é grandalhão, lá caberá de certeza um tal Alexandre, o prepotente.
Digam que não há influências políticas e que a justiça em Portugal é isenta que eu não acredito. O dito de que a política é política e a justiça é justiça é uma falácia. No meu entender. E os casos demonstram-no.

José Pinto da Silva



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