domingo, 17 de maio de 2015

BIOGRAFIA (?) ou HAGIOGRAFIA


Claro. Li, de um (quase) fôlego, o tal livro do P. Coelho, supostamente uma biografia. Retiro dois ou três capítulos de interesse ainda menor e que até expressarão verdades. Que me não interessam, nem ao povo comum. É quando fala dos avós e a vida humilde da época, quando fala dos pais e alguns episódios da vida familiar e, vá lá, algumas notas da vida com Laura Ferreira, a segunda mulher.
O resto é um panegírico que, se fosse verdade, o papa iria canonizá-lo na altura da sua vinda a Fátima em 2017. 
Antes de outros comentários, reporto a página 202, linha 13, onde aparece a palavra “DESIDRATO”. Isto foi escrito, não por lapso, mas tão só porque a autora não sabe, ou não soube, separar a significação de “DESIDERATO” da de “DESIDRATO”. Claro que ela pretendia escrever “Desiderato” (objectivo, meta, etc.), mas apanhou-a mal e, porque não percebia, escreveu “desidrato” que significa “extracção de água”, donde desidratado.
A autora, funcionária do partido, escreveu exactamente e só o que lhe ordenaram, tecendo, pelo meio muitas louvaminhas que distorcem inteiramente tudo o que se conhece, porque público, do “biografado”. O resto serão cábulas sugeridas para os comícios de campanha que aí vêm.
É suposto que uma biografia narre a vida de quem se quer expor, com virtudes e defeitos. Falei acima da segunda mulher (Laura), mas relativamente à primeira mulher e mãe das suas filhas mais velhas, passa por lá como cão por vinha vindimada e esquece o que é da ciência pública que houve violência doméstica e que, nas deambulações por bares e vida nocturna, houve droga. Pessoas bem mais formadas que ele assumiram que em determinada fase da vida deram uns chutos e não lhes caíram os parentes na lama. Sobre o processo TECNOFORMA e empresas associadas onde prestou trabalho, não podia deixar de nele falar, mas criticando quem o criticou por não ter pago à Segurança Social e esquecendo que foi o patrão da Tecnof. quem disse que o “Pedro era para abrir muitas portas”. Sem ser o porteiro, acrescento. Vamos agora aos casos mais mediatizados:
O FIM DO GOVERNO SOCIALISTA – São despejadas ali as aleivosias já conhecidas, por recorrentemente repetidas, mas não alude numa só letra ao vergonhoso e ofensivo discurso de 9 de Março de 2011 do Cavaco, na tomada de posse, indiciador do que viria a seguir, como o boicote dos principais banqueiros; pela rama alude ao PEC4, mas esqueceu-se de dizer que o mesmo PEC foi aprovado e louvado pela Comissão Europeia (Barroso deu um abraço a Sócrates e disse: “Conseguimos”), a Merkel quase pegou em Sócrates ao colo, felicitando-o e o Presidente do BCE elogiou da mesma maneira. Ainda se bebia a champanhe e Trichet apareceu na sala e interrogou-se sobre o que se passava em Lisboa, pois recebera indicação de que Passos Coelho votaria contra o documento.
E esqueceu-se de mandar escrever que mentiu quando disse que não tinha conhecimento do documento, quando depois, confrontado com provas, teve de assumir que esteve 2,5 horas no gabinete de Sócrates a ouvir toda a explicação do documento; não se lembrou de fazer referência à Moção de Censura do, na altura, seu aliado, BE, que é como quem diz, Bloco de Esquerda. Se calhar por isso, ou também por isso, o Bloco se foi desagregando; evitou referir-se à celebrizada expressão do delfim (agora visto isso implicado em movimentos corruptivos dos tempos da Câmara de Gaia) Marco António Costa: “.. ou provocas eleições legislativas para mudar de governo, ou terás eleições internas para mudar de líder”. O que demonstra que, ao contrário do que se esparrama por todo o correr do livro, não é ele quem mais ordena no PSD; e omitiu que o Memorando foi verdadeiramente negociado pelo Catroga (o então primeiro-ministro tinha anunciado a demissão e estava naturalmente fragilizado), muito assessorado por um tal de Vítor Gaspar, depois ministro das Finanças e que o Catroga, com a cagança que o enforma, disse que o Memorando era bom porque tinha lá o dedo do PSD, isto é, o seu dedo mai-lo do Gaspar e não disse que, quando foi para a campanha eleitoral onde encheu o país de mentiras, as mais soezes e insultuosas, sabia dos condicionalismos do Memorando que, no seu “alto” entendimento teria que ser levado mais longe; mas lembrou-se de vomitar que herdara uma dívida de 108% do PIB, quando ficou mais do que demonstrado (ver hoje Nuno Saraiva) que estava então em 93,4% que compara com os quase 130% de hoje; e poderia muito bem ter mandado escrever no livro a notória expressão de Lobo Xavier (aquele perigoso cripto-comunista do CDS) segundo a qual “quem verdadeiramente chamou a Troyka foi o PSD”.

CRISE DO VERÃO DE 2013 – Descreve telefonemas, reuniões no partido, idas à Presidência e fala na demissão de Paulo Portas por SMS (confirmou um destes dias em entrevista ao SOL), mas sabe-se e foi afirmado por Portas que houve uma carta – antes ou depois da SMS – onde falou expressamente em demissão “Irrevogável”. Essa carta, em fac simile, deveria estar no livro em anexo para exibir alguma verdade e com a mesma condição deveria estar a célebre carta de demissão do Vítor Gaspar em que arrasa tudo e todos e o desempenho executivo do memorando.
Terá sido dinheiro mal gasto? Que se lixem (não as eleições) os gastos no livro. É mais um para encostar ao MUDAR. Se não se lerem as coisas ruins, não se fica a saber da ruindade do autor, neste caso mandante.


José Pinto da Silva
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