Claro. Li, de
um (quase) fôlego, o tal livro do P. Coelho, supostamente uma biografia. Retiro
dois ou três capítulos de interesse ainda menor e que até expressarão verdades.
Que me não interessam, nem ao povo comum. É quando fala dos avós e a vida
humilde da época, quando fala dos pais e alguns episódios da vida familiar e,
vá lá, algumas notas da vida com Laura Ferreira, a segunda mulher.
O resto é um
panegírico que, se fosse verdade, o papa iria canonizá-lo na altura da sua vinda
a Fátima em 2017.
Antes de outros comentários, reporto a página 202, linha 13,
onde aparece a palavra “DESIDRATO”. Isto foi escrito, não por lapso, mas tão só
porque a autora não sabe, ou não soube, separar a significação de “DESIDERATO”
da de “DESIDRATO”. Claro que ela pretendia escrever “Desiderato” (objectivo,
meta, etc.), mas apanhou-a mal e, porque não percebia, escreveu “desidrato” que
significa “extracção de água”, donde desidratado.
A autora,
funcionária do partido, escreveu exactamente e só o que lhe ordenaram, tecendo,
pelo meio muitas louvaminhas que distorcem inteiramente tudo o que se conhece,
porque público, do “biografado”. O resto serão cábulas sugeridas para os
comícios de campanha que aí vêm.
É suposto que
uma biografia narre a vida de quem se quer expor, com virtudes e defeitos.
Falei acima da segunda mulher (Laura), mas relativamente à primeira mulher e
mãe das suas filhas mais velhas, passa por lá como cão por vinha vindimada e
esquece o que é da ciência pública que houve violência doméstica e que, nas
deambulações por bares e vida nocturna, houve droga. Pessoas bem mais formadas
que ele assumiram que em determinada fase da vida deram uns chutos e não lhes
caíram os parentes na lama. Sobre o processo TECNOFORMA e empresas associadas onde
prestou trabalho, não podia deixar de nele falar, mas criticando quem o
criticou por não ter pago à Segurança Social e esquecendo que foi o patrão da
Tecnof. quem disse que o “Pedro era para abrir muitas portas”. Sem ser o
porteiro, acrescento. Vamos agora aos casos mais mediatizados:
O FIM DO
GOVERNO SOCIALISTA – São despejadas ali as aleivosias já conhecidas, por
recorrentemente repetidas, mas não alude numa só letra ao vergonhoso e ofensivo
discurso de 9 de Março de 2011 do Cavaco, na tomada de posse, indiciador do que
viria a seguir, como o boicote dos principais banqueiros; pela rama alude ao
PEC4, mas esqueceu-se de dizer que o mesmo PEC foi aprovado e louvado pela
Comissão Europeia (Barroso deu um abraço a Sócrates e disse: “Conseguimos”), a
Merkel quase pegou em Sócrates ao colo, felicitando-o e o Presidente do BCE
elogiou da mesma maneira. Ainda se bebia a champanhe e Trichet apareceu na sala
e interrogou-se sobre o que se passava em Lisboa, pois recebera indicação de
que Passos Coelho votaria contra o documento.
E esqueceu-se
de mandar escrever que mentiu quando disse que não tinha conhecimento do
documento, quando depois, confrontado com provas, teve de assumir que esteve
2,5 horas no gabinete de Sócrates a ouvir toda a explicação do documento; não
se lembrou de fazer referência à Moção de Censura do, na altura, seu aliado,
BE, que é como quem diz, Bloco de Esquerda. Se calhar por isso, ou também por
isso, o Bloco se foi desagregando; evitou referir-se à celebrizada expressão do
delfim (agora visto isso implicado em movimentos corruptivos dos tempos da
Câmara de Gaia) Marco António Costa: “.. ou provocas eleições legislativas para
mudar de governo, ou terás eleições internas para mudar de líder”. O que
demonstra que, ao contrário do que se esparrama por todo o correr do livro, não
é ele quem mais ordena no PSD; e omitiu que o Memorando foi verdadeiramente
negociado pelo Catroga (o então primeiro-ministro tinha anunciado a demissão e
estava naturalmente fragilizado), muito assessorado por um tal de Vítor Gaspar,
depois ministro das Finanças e que o Catroga, com a cagança que o enforma,
disse que o Memorando era bom porque tinha lá o dedo do PSD, isto é, o seu dedo
mai-lo do Gaspar e não disse que, quando foi para a campanha eleitoral onde
encheu o país de mentiras, as mais soezes e insultuosas, sabia dos
condicionalismos do Memorando que, no seu “alto” entendimento teria que ser
levado mais longe; mas lembrou-se de vomitar que herdara uma dívida de 108% do
PIB, quando ficou mais do que demonstrado (ver hoje Nuno Saraiva) que estava
então em 93,4% que compara com os quase 130% de hoje; e poderia muito bem ter
mandado escrever no livro a notória expressão de Lobo Xavier (aquele perigoso
cripto-comunista do CDS) segundo a qual “quem verdadeiramente chamou a Troyka
foi o PSD”.
CRISE DO VERÃO DE 2013 – Descreve
telefonemas, reuniões no partido, idas à Presidência e fala na demissão de
Paulo Portas por SMS (confirmou um destes dias em entrevista ao SOL), mas
sabe-se e foi afirmado por Portas que houve uma carta – antes ou depois da SMS
– onde falou expressamente em demissão “Irrevogável”. Essa carta, em fac
simile, deveria estar no livro em anexo para exibir alguma verdade e com a
mesma condição deveria estar a célebre carta de demissão do Vítor Gaspar em que
arrasa tudo e todos e o desempenho executivo do memorando.
Terá sido
dinheiro mal gasto? Que se lixem (não as eleições) os gastos no livro. É mais
um para encostar ao MUDAR. Se não se lerem as coisas ruins, não se fica a saber
da ruindade do autor, neste caso mandante.
José Pinto da Silva