Como não
poderia deixar de ser, dou por bom o relato do(a) repórter do TF na cobertura
das reuniões do Executivo Municipal. E, assim sendo, ao ler o registo inserto
na edição de 25 de Abril, senti-me banzado com a exposição de desconhecimento
(ou ignorância?) por banda do titular do pelouro da cultura da edilidade. Em
boa verdade, ou não se interessou pelo caso, ou deixou-se desinformar por algum
dos que têm verdadeiramente culpa no cartório.
Eu informei-me
do processo desde as primeiras fases e, agora, fui colher ciência a partir de
quem esteve no processo desde ainda antes do embrião. Logo que se admitiu a
hipótese de doação do espólio, com o fim im e explícito de o salvaguardar e de
o pôr a expelir cultura, mesmo para o pelouro municipal que parece esquecer-se
que aqueles documentos contêm saberes que admiram o mundo cultural, no dizer
dos melhores do mundo naquela área. E ele era o melhor dos melhores, dizem os
agora melhores.
Agora, a
partir do eterno, está o doador a ver tudo alterado, tudo deturpado por quem
assumiu receber, guardar, preservar e dar a conhecer todo o acervo, o
bibliográfico e o, quiçá mais importante e mais merecedor de atenção, o
documental. A Câmara da Feira deliberou aceitar a doação e aceitou que a
“Biblioteca Especial” composta pelos livros mais valiosos ficaria na Biblioteca
Municipal em sala específica (caixa forte) e que a restante biblioteca (livros,
revistas, jornais, apontamentos, objectos musicais, discos) ficariam em sala ou
salas próprias (….) no pólo de Pigeiros, note-se isto, “depois de estar a casa
pronta”. Palavras e frases retiradas do Testamento, claro.
Diz agora o
titular do pelouro, que se não informou de nada, que nenhuma responsabilidade
cabe à Câmara Municipal, mau grado saber, primeiro, que a decisão de se
construir o edifício foi estribada na necessidade de acomodar o espólio, de
contrário ninguém pensaria construir o Centro Cívico, de cujo nome, escolhido
claramente pelo povo de Pigeiros, a Câmara e a Junta de Freguesia não gostam.
Logo, a construção aconteceu porque havia a imposição de guardar o espólio. Que
teria de ter TODA A PRIORIDADE.
Mas, que
grande esquisitice!, a Câmara comparticipou (1/3) o terreno, a Câmara tomou a
decisão, a Câmara fez o projecto, a Câmara fez o Caderno de Encargos, a câmara
promoveu o Concurso Público (em nome da Junta por conjuntural conveniência) a
Câmara fiscalizou a execução, a Câmara elaborou o projecto de financiamento
pelo Adritem e atribuiu verba municipal ao edifício, mas … “descarta qualquer
responsabilidade”. Não pode a Câmara alijar a carga, só porque o peso das incompetências
carrega no lombo!
Quem projectou
sabia qual a utilização fulcral da obra. Tinha que ir ver, com detalhe, o
espaço a dedicar e, sabendo o que é uma biblioteca / centro documental, teria
que deixar espaço para estudo, para consulta em condições de espaço e de
silêncio para o efeito. Depois deve ter estudado o terreno (o problema do nível
freático que sobe e dá cabo dos chãos). Logo, se agora não cabe, a única
solução será procurar ideias criativas para que passe a caber. Que se foram
alterando os seus fins…! Por quem? Cederam espaços a associações! Que
associações? O Posto de Enfermagem? Os serviços da Junta de Freguesia? Sejamos
sérios. Intelectualmente sérios. As associações podem exercer lá, no Auditório,
algumas actividades, mas não têm lá a sede.
Conhece o
detentor do pelouro da cultura a memória descritiva do projecto de
financiamento? Se não, leia-o porque poderá ser posto em crise, se ao Centro
Cívico Feliciano Martins Pereira for retirada a sua função primordial. Nem a
Fiel Depositária, nem o Testamenteiro aceitarão tal despautério, se bem
informados
Poderei dizer
ao Senhor Vereador que a primeirissima coisa que tem que mandar ver é a vedação,
porque estive há dias no auditório a assistir a um espectáculo e foi-me
recomendado que me não sentasse do lado esquerdo, porque se viesse um
aguaceiro, teria de abrir o guarda-chuva. Olhei para o tecto e nota-se bem que
mete água. Direi mais que, com algumas adaptações, que a Câmara terá
necessariamente que assumir, o espólio poderá lá caber, bastando que se tire de
lá a Junta de Freguesia, que tem local próprio e se tire de lá o Posto de
Enfermagem que, caberá na sede anterior. A Câmara não se poderá eximir à
responsabilidade de proporcionar espaço para atendimento, para consulta de
documentos e livros, e para estudo. Adaptem que para isso é que tem lá os
técnicos. Já pensaram que, para uma boa parte dos livros, umas prateleiras
fechadas e fixadas na parede sul do auditório, sem prejudicar os fins deste,
poderiam acomodar algumas centenas de livros? E até poderia deixar livre algum
espaço, pequeno, para acomodar alguns objectos de uso pessoal do doador e que a
fiel Depositária, sobrinha do Pe. Domingos, tem pejo em jogar fora e que
poderiam saber a pequeno museu.
E o Senhor
Vereador deu mais uma prova de que não fez os TPC. Na antiga sede da Junta não
cabe lá o espólio por falta de espaço, porque não tem os sanitários que a lei
impõe e porque lá chove como cá fora. Arranjem! Não permitam que os restos
mortais do Senhor Padre Domingos se revolvam na tumba, ele que, ao tomar
conhecimento de que deixava o caso do espólio resolvido (pensava ele!) partiu
na sua paz.
José Pinto da
Silva