sábado, 7 de maio de 2016

ESPÓLIO BIBLIOGRÁFICO / DOCUMENTAL - Padre Domingos Moreira - Abade de Pigeiros



Foi passada comunicação aos membros da Assembleia de Freguesia da União Caldas de S. Jorge / Pigeiros, segundo a qual estava definitivamente decidido que toda a Biblioteca (excepto um conjunto de livros especiais) e toda a documentação legada pelo Abade de Pigeiros e entregue à responsabilidade da Câmara da Feira iria ser instalada no edifício da antiga sede da Junta de Freguesia de Pigeiros. Não precisariam de o demonstrar, porque já se sabia, que estes “decididores” (não merecem ser decisores) são prepotentes e encheram o bandulho da arrogância do quero e mando. E que autoridade, competência, própria ou delegada, para determinar o que quer que seja relacionada com um espólio que tem documentos únicos no mundo? Só que parece que não poderão assim tanto. O cortejo parece que não saiu ainda do adro, ou não saiu mesmo da igreja para o adro.
Primeiro: Há um parecer da ADRITEM, a subsidiária do PRODER que financiou o Centro Cívico e donde saiu um IFAP – Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas que contratualizou com a Junta de Freguesia de Pigeiros (não da União, que não existia ao tempo). Esse parecer esquece-se de dizer que o FIM PRIMEIRO da elevação do edifício foi o de acomodar o espólio doado pelo Padre Domingos Moreira. Outras utilizações seriam secundárias, face ao valor do espólio a acomodar. E até diz que se destinaria a comunidades de freguesias vizinhas. Ver melhor esta cedência. Têm que ser reformulados os pontos 3 e 4 do parecer, porque secundarizam o uso primordial e sem o qual ninguém pensaria construir aquele edifício.
O parecer colhe informação de que “seria impossível acomodar nesta biblioteca todo o espólio doado, nem que utilizada exclusivamente para o efeito e com obras de ampliação. E, na informação é dito ainda que o espaço não reúne as condições essenciais de luz e de ausência de humidade essenciais para a conservação de documentos”. Confirma-se que houve incompetência de projecto e que houve incumprimento na execução e houve desleixo no acompanhamento da obra e, MESMO ASSIM, houve financiamento de uma obra que tinha tais defeitos O ADRITEM financia suportado só em papéis, sem ir ver onde despeja o dinheiro? E o parecer, ao falar em humidade, não referiu que o nível freático é que provoca as maiores humidades, deficiência que não deveria ter ocorrido e que, não importa para que uso, tem que ser drenado.
Diz ainda este parecer que, estribado num parecer da Biblioteca, o edifício da antiga Junta apresenta excelentes condições para o fim destinado ao material doado pelo Senhor Padre.
Num edifício com 2,40 m de pé direito? Num edifício de parede singela? Num edifício de caixilharia simples de vidraça singela? Num edifício coberto com fibrocimento – e a sua dose de amianto? Num edifício semeado de salas e saletas? Está pensado erguer-se o pé direito? Fazerem-se duplas paredes? Aplicar-se caixilharia dupla toda nova? Instalar isolamento térmico e acústico? Enfim, fazer tudo de novo? Ouvi que era uma sugestão / exigência dos familiares do doador e fiéis depositários do acervo.
O parecer emanado da Biblioteca Pública de Santa Maria da Feira, depois de transcrever o Testamento, enfatiza o valor da documentação doada e, referindo-se à área do Centro Cívico Feliciano Pereira, reporta só a da sala principal, olvidando duas outras salas lá existentes e ocupadas indevidamente e, crê-se, em situação precária. A área dessas duas salas (transformáveis numa só) terá uma área aproximada da anterior. É claro que aquele espaço terá sido riscado por quem nunca entrou numa biblioteca, nem imagina a finalidade daquele espólio.
Aceita, depois, a acomodação do acervo no edifício da antiga Junta de Pigeiros, refere a sua área utilizável, mas nada diz quanto ao pé direito, quanto às paredes exteriores que são singelas, parece aceitar a caixilharia simples que, agora, qualquer tugúrio rejeita, ignora a cobertura e admite a colocação de novo pavimento, esquecendo que as casas de banho terão que ter acesso a utilizadores de mobilidade condicionada. E achará que uma biblioteca pública pode ficar com um pé direito de uma habitação qualquer? Parece que houve um olhar demasiado aquiescente para um espaço que há-de acolher espólio tão valioso.

José Pinto da Silva 


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