Alguém me
insinuou que a minha abordagem do tema do valioso espólio bibliográfico e
documental do Pe. Domingos Moreira e da sua acomodação fez bulir a inércia das
autoridades envolvidas e terá feito acordar os interessados da apatia que os
envolveu.
É dado
adquirido que ficou decidido, a partir da vontade de doar à Câmara e de esta
ter aceitado a doação nas condições testamentadas, que haveria de ser edificado
um edifício onde todo o acervo ficasse emprateleirado e arquivado em condições
de cedência ao estudo e à consulta de quem se interessasse pelos conteúdos. Não
fora isso e ninguém pensaria na construção do que se veio a chamar Centro
Cívico, depois identificado com o nome do seu grande impulsionador, Feliciano
Martins Pereira, que tinha sido presidente da Junta de Freguesia durante mais
de 20 anos. E, definido o local (terreno comprado pela Junta de Freguesia com
comparticipação da Câmara Municipal), esta tratou de tudo, desde o projecto,
(que deveria ter sido elaborado tendo em vista, antes de mais, e quiçá só para,
a guarda de toda aquela documentação que, dizem todos, é valiosíssima). E como
era para irradiar conhecimento, deveria o projecto prever zona, ampla e em boas
condições, para leitura, consulta e estudo dos documentos acomodados.
Salvaguardadas as devidas proporções, como foi feito na Biblioteca Municipal.
O projecto
nada disso previu e fez parir um emaranhado de salas para diferentes fins.
Significa que a Câmara fez que fez projecto, fez que elaborou Caderno de
Encargos, fez que fiscalizou a execução e fez tudo mal feito. E não ficaram
dúvidas a ninguém. Se o que foi construído o foi porque houve a doação, lá é
que deveria ficar guardado e preservado o espólio.
Todos os
envolvidos no processo acham, agora, que fica mais bem defendido se mudar de
destino, mesmo contrariando o espírito e a letra do testamento. a) A
Bibliotecária da Feira, acha que ficará melhor na antiga Junta, mas, acredito
eu, não analisou o tipo de construção e insinua pequenas obras adaptativas; b)
a ADRITEM também acha melhor a mudança, mas não fala em obras e reconhece que
financiou um edifício que ficou mal edificado. Pôs lá o dinheiro, ao invés de
financiar; c) a actual Junta de Freguesia, que até respondeu a um requerimento,
exorbitou dos seus poderes e “decidiu por unanimidade alterar a instalação da
Biblioteca Padre Domingos A. Moreira para o edifício da antiga sede da junta de
freguesia de Pigeiros”. Exorbitou porque a única coisa que tem legitimidade
para fazer é autorizar, ou não, o uso de um ou outro; d) a sobrinha e fiel
depositária (e o marido) dão preferência ao antigo edifício, MAS entendem que é
imprescindível duplar as paredes exteriores, ou defendê-las com capoto, subir o
pé direito de todo o edifício, aplicar caixilharia dupla em todo o edifício,
reconstruir o chão e colocar cobertura integral, demolir todas as paredes
interiores para ficar um espaço amplo e construir, nas traseiras, novas
instalações sanitárias; e) o Testamenteiro mostrou-se intransigentemente pro
edifício antigo, embora lhe conhecesse SÓ as linhas exteriores. Nunca lá tinha
entrado, nem reparado no pé direito, nem nas paredes, nem na cobertura de
fibrocimento, nem sanitários, nem coisa nenhuma; f) a Câmara nada diz, quando é
a ela que cabe toda a responsabilidade. O que se ouviu foi, em sessão de
Câmara, o Vereador do Pelouro dizer que vai para a junta antiga e ponto. Nada
diz sobre as obras necessárias. Nem quando estará disponível para as iniciar.
Não fora o
facto, de – vou expor o que me pareceu depois de ouvir e/ou ler as partes – em
consulta referendária sugerida e organizada pelos órgãos autárquicos actuais, o
povo de Pigeiros ter determinado que o Centro Cívico teria o nome de Feliciano
Martins Pereira e os mesmíssimos intervenientes tudo fariam por que o espólio
ficasse no local que era do gosto do doador. E a fazerem-se obras com a
dimensão sugerida, porque não fazer adaptação que tal no Centro Cívico?
Soubemos
entretanto, o que foi para nós surpresa, que nem os livros mais valiosos estão
ainda no seu poiso definitivo em “Caixa Forte” na Biblioteca Municipal, com o
nome do doador na porta de entrada. Isto porque se trata de bibliografia muito
cara, segundo enfatizou o Testamenteiro. Falou numa Bíblia, em 2 volumes, que
terá custado 10.000,00 euros.
Que alguém, ou
todos, sobretudo a Câmara façam o que for preciso para que se não demore outro
tanto tempo para resolver este caso, indo dando a saber do andamento das obras
e posterior transferência dos documentos para um ou outro lado. E espere-se que
os restos do doador se não revoltem. Porque o espírito deve estar aos saltos.
José Pinto da Silva