Completam-se
hoje (curiosa coincidência) 62 anos sobre a ocorrência da Tromba de Água
despencada sobre a nossa região e que fez elevar, como nunca visto antes, a
torrente do rio Uíma, seus afluentes e outras linhas de água escorrentes na
zona, para níveis não fixados na memória dos viventes.
Sobre o tema,
e porque maldosamente me envolveram num processo esconso, já escrevi quase
tudo, e faço estas notas ligeiras porque não quero deixar passar a efeméride
sem referência e para fazer ferver um bocado a consciência de quem tanta
ignorância, ou mesmo maldade e pesporrência manifestou.
Lembro que
entrei na trama quando li, em documento produzido pela ARHn estribado noutro
produzido, quase me apetece dizer “parido”, por alguém da Câmara – valerá a
pena ir consultar o ofício 26346 de 4 Nov. de 2009 da Câmara para a ARHn – que “o acesso (ao edifício que, cometendo-se toda
uma parafernália de ilegalidades, movimentos de influências nos Organismos
tutelares como a CCDRn, a câmara deixou erigir na ilha fronteira/sul ao parque
das Termas) situa-se acima da cota da maior
cheia conhecida para o local”. Quem, tendo vivido este dia de 1954, no
lugar da Sé, em S. Jorge, poderá calar-se?
Claro que a
Câmara, recorrendo a outsourcing, mandou escrever que a maior cheia conhecida
foi a de 2001 a qual mais não foi do que uma pequena enchente se comparar com a
de 1954. E mesmo essa (de 2001) inundou a ilha com cerca de 80/90 cm de água,
passou acima da dita cota de acesso. Em 1954, segundo o “Comércio do Porto”, de
25/10/54, a água atingiu ali cerca de 5 metros de altura. Encomendou uma
pesquisa jornalística a alguém que não devia saber que, já nesse tempo, havia
três jornais diários no Porto – Primeiro de Janeiro, Comércio do Porto e Jornal
de Notícias – os quais, mesmo sem a expansão noticiosa de agora, haveriam de
dar nota da Tromba de Água e seus efeitos directos, nomeadamente por efeito do
enchimento das linhas de água. Mesmo a imprensa local foi vista só com um olho.
O pesquisador deve ter escrito o que lhe mandaram, porque não acredito que quem
quer que seja – dizia-se que era licenciado – descortinasse tão pouco. Nada, na
prática.
Pior do que
tudo isso foi uma coisa, essa bolsada, a que deram o título de “Informação
Técnica”, com feitura obrigada, escrita ou mandada escrever por quem, por
moleza, por porosidade, ou propulsionado por perspectiva de voos mais altos,
fez obra de encomenda e fez o pior que um ser honesto haveria de poder fazer.
Foi ao extremo de inventar uma foto para tentar representar a Casa e o Moinho
do ZÉ MOLEIRO (que era o meu pai e a casa foi onde cresci e o moinho foi onde
piquei muitas mós), foi à safadeza de comprar depoimentos à medida (um deles,
por acaso e só por isso, de pessoa que não era nascida em 1954), com perguntas
e respostas feitas e dadas pela mesma pessoa – o autor da “Informação?” – com
os depoentes só com a obrigação de assinar o que lhes foi posto à frente dos
olhos. É bem capaz de ter havido distribuição e prendas A leitura dessa
informação far-nos-ia rir, se não fosse tão infamante.
Esqueceu-se
(?) o Informador de colher, aí sim informação, do “Rapazito” que esteve muito
tempo rodeado de água em turbilhão, estando ele em cima do muro das Caldas
abraçado a um pilarete para não ser levado com a força da água – o Rapazito é
agora um avô vivo e saudável disponível para contar o que se passou e por onde
andou a água – e bem podia ter falado (ainda o poderá fazer) com o jovem que
atravessou o parque cheio de água para levar a corda com que amarrou a pessoa
que, enfrentando o turbilhão, foi retirar o “Rapazito” de tão perigosa
situação. Esqueceu-se de inquirir qual a altura que atingiu a água na padaria
do Celestino – passou a soleira da janela ao meio que ficava a mais de metro da
estrada - e até no tanque daquele fontanário que roubaram. E ainda pode tentar
– poderia se lhe adviesse um resquício de honestidade intelectual – falar com
pessoas que lhe diriam a que altura subiu a água na margem direita do Uíma.
Essas pessoas são vivas e moram no mesmo local. E terá tido a curiosidade de
medir a altura da água no moinho da Ti Arminda e terá tentado galgar para o
moinho do Zé Moleiro? O Comércio do Porto salientou o caso do “Rapazito”.
Fica aqui o
desafio a todos os fautores da trapacice a que me desmintam, por escrito, em
público, ou, se quiserem em privado para ser eu a divulgar.
Termino com
uma inconfidência. Falei em Agosto de 2011 com um responsável da ARHn sobre
este tema. Ele disse-me, cito de memória, este Organismo não efectua
fiscalização in situ. Analisa processos com base em documentos. Sobre o mesmo
caso, tenho um Relato da Câmara Municipal e outro seu e, sem prejuízo de achar
o seu mais consistente, que decisão nos seria possível tomar? Eu respondi:
ESCLARECIDO.
José Pinto da Silva