Na passagem de hoje para amanhã,
nas primeiras horas da madrugada, há 50 anos, no dia 25 / 26 de Novembro – o 25
de Novembro de 1975 haveria de ficar na história por outras razões – no espaço
de 2 ou 3 horas caiu tanta chuva como é normal cair durante um ano. Isto na
zona de Lisboa, nos arredores pobres da capital. Terá sido a maior catástrofe
natural de sempre ocorrida na zona de Lisboa, excepto o tsunami e abalo sísmico
de 1755.
Disseram as notícias que morreram naquelas cheias cerca de 500
pessoas, mas jornalistas ainda vivos e que andaram no terreno, bairro a bairro,
casa a casa, dizem que contaram mais de 700 pessoas mortas. Sabe-se que, nesse
tempo, politicamente tenebroso, a Comissão de Censura (Comissão do Lápis Azul)
foi impedindo a divulgação das notícias sobre a catástrofe e, fazendo agora
sorrir, e quando a contagem tornada pública ia nos 462 mortos, a Comissão de
Censura determinou e deu ordem aos jornais e rádios: “Daqui em diante não morre
mais ninguém”. E foi a contagem oficial de mortos.
Depois da tragédia, as
autoridades tutelares, porque o que causou as inundações foram os ribeiros,
todos relativamente pequenos, que extravasaram das margens e inundaram e
levaram todas as construções abarracadas construídas nas margens, umas ilegais
e outras licenciadas, as autoridades legislaram no sentido de IMPEDIR as
construções nos leitos de cheias e as populações que não morreram e ficaram sem
casa foram sendo levadas para fora da zona de risco. Contrariamente ao que se
tentou insinuar, não foi qualquer enchente do Tejo que provocou danos. Nas suas
margens nada aconteceu, além de algumas inundações de caves. Foram os ribeiros
que para lá iam desaguar. Só na aldeia de Quintas, atravessada pelo ribeiro Grande Pipa morreram cerca de 100
pessoas das 150 que compunham a povoação.
Salvaguardando as devidas
proporções de tempo, de precipitação, de densidade de ocupação construtiva nas
margens, pensemos um pouco na Grande Cheia no rio Uíma em 1954. Se tal cheia
tivesse ocorrido nos mesmos locais e com a mesma intensidade e ferocidade da
água, mas já este século, as autoridades locais, não podendo mandar calar as notícias,
passariam a dar ordens directas à água, impondo-lhe que se agachasse e passasse
todinha por debaixo da ponte, que não derrubasse muros, que não levasse
moinhos, que não arrastasse pontões e que não passasse dos baixos das casas
mais tradicionais da baixa de S. Jorge, como a casa e moinho do Zé Moleiro, da
casa do Lajeiro, da Pensão/Padaria do Celestino, nem dos baixos das Termas (na
altura em obras de reconstrução). E em vez de condicionarem a edificação em
leito de cheias, promoveriam a construção ilegal, sonegando informações, dando
informações falsas à tutela das águas exteriores (ARHn – agora APA) e à tutela regulamentadora da
edificação nas zonas REN e zonas de cheia (CCDRn) e, para lavarem a face, neste
caso com lodo, colheram e publicaram, sem nenhum esgar de vergonha, declarações
mentirosas, uma feita por pessoa que nem sequer tinha nascido. Mas recusam-se a
consultar e ouvir as pessoas que viram o fenómeno e viveram aqueles momentos de
aflição. Muitas estão vivas e disponíveis para declarações.
Mudaram-se os tempos, mudaram-se
as gentes. Umas mais ditatoriais, dominadoras das ideias e quase dos
pensamentos, outras capazes de mentir, ignorar a informação, não muito
abundante, mas que saiu e esteve e está disponível para consulta. Já havia jornais
diários.
Ainda estão essas autoridades,
com alguns elementos atirados a tiranetes, a tempo de se redimirem e reporem a
verdade. A Cheia de 1954 foi a maior no Rio Uíma e não a de 2001 como alguns
técnicos contratados disseram e escreveram, por incompetência ou por mentira
paga.
José Pinto da Silva