COMEÇO E FIM
Perguntei a diversas
pessoas, todas idosas, residentes umas em S. Jorge e moradoras outras em Lobão,
nomeadamente no Ribeiro, qual o sítio de fim/começo do lugar do Ribeiro, na
direcção de S. Jorge. Cada um com a sua nuance, mas todos foram unânimes a
confirmar que o Ribeiro começava/terminava ali nas proximidades da cabine
eléctrica, outros que talvez no sítio da estrada para Azevedo. Fiquei com a
clara convicção de que era entendimento generalizado de que o Ribeiro começava/acabava
por ali, numa possível divergência de 30 metros.
Li depois, em documento muito antigo, compilado pelo
Padre José Inácio Costa e Silva, referindo-se à formação dos lugares de S.
Jorge. Transcreve-se esse troço do escrito.: “ A primeira referência a eles
(logares) encontrei-a na Inquirições de D. Afonso 3º. (século XIII). Reza
assim o trecho deste documento: ‘’ …Et dixerunt quator boni homines pro partiebat
terminus de Azeveduzio per rivum de uma cum Arcuzelo, et in altera
parte cum Guizandi per portela de Rotoa et per portumDesposendi et
quomodo vadit petram Guemara et vadit ad Ribejrum’’”
Numa tentativa de tradução, com as limitações intuídas e muito por aproximação,
quererá dizer este texto de latim pouco académico. E disseram quatro homens
grados que o término de Azevedo se partia pelo rio Uima com Arcozelo, e na
outra parte com Guizande pela portela da Arroteia e vai em direcção à pedreira
da Gembra e vai para o Ribeiro. Nota: UMA era uma grafia antiga de
Uima, ROTOA corresponde a Arroteia, DESPOSENDI corresponderá a Estose. A
pedreira da Gembra existiu até não há muitos anos e foi entulhada entretanto.
Uma conclusão intuitiva é que Azevedo terá como linha
de demarcação, a poente o Rio Uima e a sul/nascente a linha desde a Arroteia,
pedreira da Gembra e Ribeiro. Naturalmente a linha terminaria no fim/começo do
Lugar do Ribeiro. E, assim sendo no século XIII e não tendo havido nenhum
movimento de conquista, dali para baixo (poente) nem era Ribeiro, nem era
Lobão.
Por
outro lado e compulsando ainda os escritos do Padre José Inácio, referindo-se a
actividades em S. Jorge, lê-se: “… o primeiro hotel foi instalado numa casa
nova, construída de propósito para ele, nos Candaídos e onde hoje habita o Dr.
Conceição. Abriu aqui por 1886, funcionou bastantes anos, e fechou por fim.
Durante largos anos estiveram as thermas sem um hotel. Até que, há uns 7 anos
(algures nos anos 30) abriram-se duas pensões. Uma no Parque e outra nos
Candaídos. Mais tarde abriu-se outra junto à ponte das Caldas…”
O edifício do primeiro hotel nos Candaídos foi
demolido há poucos anos. Era conhecido como a Casa do Dr. Joaquim (Alexandrino
da Conceição) ou Casa do Sr. Lincho (este Sr. Lincho era genro do Dr.
Conceição). A Pensão que abriu mais tarde, também nos Candaídos, era a Pensão Silva,
cujo edifício ainda existe com poucas alterações em relação à construção de
raiz.
Conclui-se que o Lugar dos Candaídos, que ninguém ousa
dizer que não era de S. Jorge, começava no Ponte com o mesmo nome e ia pela
estrada até, pelo menos, ao edifício da Pensão Silva, sendo instintivo
imaginar-se que terminaria no limite do Ribeiro, ali na zona da cabine que,
segundo uma pessoa ainda viva, foi construída em terreno de S. Jorge.
Isto para achegar mais alguns dados para a
clarificação sobre a pertença daquela rua que, aí pelos anos 30 recebeu o nome
de Rua dos Namorados, por ser o percurso dos pares de namorados desde as Caldas
até à Fonte dos Amores.
José Pinto da Silva