terça-feira, 30 de janeiro de 2018

OS DEZ ANOS DA RESPIRA



 Para falar da RESPIRA e da sua vida, seja-me permitido usar um pouco do egoísmo que existe em cada ser humano, nuns mais intenso do que noutros. Vou dividir o que hei-de dizer em dois tópicos base que me marcaram mais.
Foi num dia, creio que ainda em 2006, que, estando em tratamento no Hospital de Gaia, fui abordado pela minha Pneumologista , a Sra. Dra. Natália Taveira, que me informou estar em germinação a criação de uma Associação de Doentes com DPOC e que tomara a liberdade de indicar o meu nome para ser como que o representante dos doentes daquele Hospital. Disse-me, depois, que iria ocorrer em Coimbra, nos Hospitais da Universidade, uma reunião preparatória e de apalpação de sensibilidades, para aquilatar se a ideia desenvolveria pernas para andar. Depois de saber o dia, como era sua intenção ir lá e participar na qualidade de técnica da área, me daria boleia, se eu estivesse disponível. Estivemos lá, ouvimos o desenrolar das propostas, as linhas mestras que interiorizei, mais do que fixei as caras das pessoas que mais se expuseram e expuseram o tema. Direi que essa reunião foi mesmo o embrião da RESPIRA. Depois, a equipa de Lisboa, onde ficaria a Sede, burilou a ideia, elaborou Estatutos e Regulamentos para culminar com a formalização oficial em 9 de Fevereiro de 2007. Tenho, pois a honra de ter estado na e com a RESPIRA desde o primeiro passo.
O outro tópico tem a ver com a partida para o Éter da LUISA BRANCO, a Presidente da Direcção, desde a fundação até à sua partida. Ficou-me dela, com quem, infelizmente, não convivi tanto quanto gostaria, o dinamismo que em certas alturas camuflava a doença que carreava e sobretudo a dedicação que votou à Associação. Lá do alto terá sempre a sua mão terna estendida e apoiada no ombro do Zé Albino a servir de guia e a instigar para que ninguém fique sozinho com dificuldade de respirar.
Por sugestão, ou mesmo proposta, da Luísa o meu nome foi incluído nos Órgãos Sociais da RESPIRA, primeiro como vice-presidente da Direcção e depois como presidente da Assembleia Geral. Assumi os cargos para que acabei por ser eleito, mas, tenho de o reconhecer, fui uma frustração para os meus consócios e foi uma frustração ainda maior para mim. Fui concluindo que não fui capaz de desempenhar as funções que a cada cargo incumbia. E não foi desinteresse. O centro nevrálgico era e sempre foi em Lisboa e eu estive sempre quase no Porto, além de que tudo, incluindo as parcerias que foram sendo agregadas, funcionavam em Lisboa. Há dez anos eu tinha vitalidade para contribuir com algum trabalho e tinha formação num ou noutro sector que bem poderia ser usado. Limitei-me a fazer alguma representação, sempre que foi entendido que era útil.
Grande rasto criou e deixou marcado a RESPIRA na sociedade em geral e em muitos doentes com DPOC em particular. Fizeram-se rastreios espirométricos nos mais variados locais, editaram-se e distribuíram-se milhares de folhetos a ensinar a conhecer a doença e a incentivar a ida ao médico ao primeiro sintoma, exerceu-se influência junto de órgãos da comunicação social para divulgação mais massiva, abriram-se portas para a regularidade das consultas para desabituação tabágica, trabalhou-se muito, foi-se muito insistente, para que houvesse alteração legislativa que permita que os doentes com DPOC e com certo grau de incapacidade estacionem nos lugares para deficientes.  Enfim, trabalhou-se muito para tornar, cada vez mais válida e actuante a Associação. É pequena ainda, face às centenas de milhar de pessoas portadoras de DPOC e Outras Doenças Respiratórias Crónicas, mas o voluntarismo de quem está ao leme há-de levar a RESPIRA mais longe, tornando-a mais forte e muito mais influente. Sinto-me honrado por ser sócio fundador desta Associação.
José Pinto da Silva

Comentários
0 Comentários