Foi num dia, creio que ainda em 2006, que, estando em tratamento
no Hospital de Gaia, fui abordado pela minha Pneumologista , a Sra. Dra.
Natália Taveira, que me informou estar em germinação a criação de uma
Associação de Doentes com DPOC e que tomara a liberdade de indicar o meu nome
para ser como que o representante dos doentes daquele Hospital. Disse-me,
depois, que iria ocorrer em Coimbra, nos Hospitais da Universidade, uma reunião
preparatória e de apalpação de sensibilidades, para aquilatar se a ideia
desenvolveria pernas para andar. Depois de saber o dia, como era sua intenção ir
lá e participar na qualidade de técnica da área, me daria boleia, se eu
estivesse disponível. Estivemos lá, ouvimos o desenrolar das propostas, as
linhas mestras que interiorizei, mais do que fixei as caras das pessoas que
mais se expuseram e expuseram o tema. Direi que essa reunião foi mesmo o
embrião da RESPIRA. Depois, a equipa de Lisboa, onde ficaria a Sede, burilou a
ideia, elaborou Estatutos e Regulamentos para culminar com a formalização
oficial em 9 de Fevereiro de 2007. Tenho, pois a honra de ter estado na e com a
RESPIRA desde o primeiro passo.
O outro tópico tem a ver com a partida para o Éter da LUISA
BRANCO, a Presidente da Direcção, desde a fundação até à sua partida. Ficou-me
dela, com quem, infelizmente, não convivi tanto quanto gostaria, o dinamismo
que em certas alturas camuflava a doença que carreava e sobretudo a dedicação
que votou à Associação. Lá do alto terá sempre a sua mão terna estendida e
apoiada no ombro do Zé Albino a servir de guia e a instigar para que ninguém
fique sozinho com dificuldade de respirar.
Por sugestão, ou mesmo proposta, da Luísa o meu nome foi incluído
nos Órgãos Sociais da RESPIRA, primeiro como vice-presidente da Direcção e
depois como presidente da Assembleia Geral. Assumi os cargos para que acabei
por ser eleito, mas, tenho de o reconhecer, fui uma frustração para os meus
consócios e foi uma frustração ainda maior para mim. Fui concluindo que não fui
capaz de desempenhar as funções que a cada cargo incumbia. E não foi
desinteresse. O centro nevrálgico era e sempre foi em Lisboa e eu estive sempre
quase no Porto, além de que tudo, incluindo as parcerias que foram sendo
agregadas, funcionavam em Lisboa. Há dez anos eu tinha vitalidade para
contribuir com algum trabalho e tinha formação num ou noutro sector que bem
poderia ser usado. Limitei-me a fazer alguma representação, sempre que foi
entendido que era útil.
Grande rasto criou e deixou marcado a RESPIRA na sociedade em
geral e em muitos doentes com DPOC em particular. Fizeram-se rastreios
espirométricos nos mais variados locais, editaram-se e distribuíram-se milhares
de folhetos a ensinar a conhecer a doença e a incentivar a ida ao médico ao
primeiro sintoma, exerceu-se influência junto de órgãos da comunicação social
para divulgação mais massiva, abriram-se portas para a regularidade das
consultas para desabituação tabágica, trabalhou-se muito, foi-se muito
insistente, para que houvesse alteração legislativa que permita que os doentes
com DPOC e com certo grau de incapacidade estacionem nos lugares para
deficientes. Enfim, trabalhou-se muito
para tornar, cada vez mais válida e actuante a Associação. É pequena ainda,
face às centenas de milhar de pessoas portadoras de DPOC e Outras Doenças
Respiratórias Crónicas, mas o voluntarismo de quem está ao leme há-de levar a
RESPIRA mais longe, tornando-a mais forte e muito mais influente. Sinto-me
honrado por ser sócio fundador desta Associação.
José
Pinto da Silva